Representantes do povo vs. representantes de povo: como se tornou violento (causa: idade da reforma 62 ⇒ 64) - TVI

Representantes do povo vs. representantes de povo: como se tornou violento (causa: idade da reforma 62 ⇒ 64)

As ruas de França transformaram-se em contestação. E tornaram-se também violentas. Eis a história: contém imagens e ideologia

Macron não muda o governo, não convoca eleições, não faz um referendo: o presidente de França está irredutível na intenção de avançar com o aumento da idade da reforma dos 62 para os 64 anos. Apesar dos apelos da oposição, e mesmo perante uma situação caótica em todo o país, Emmanuel Macron recusa dar um passo atrás e já o fez saber aos franceses. “A revolta não pode impor-se aos representantes do povo”.

Mas os franceses que saíram à rua não recuam, bem pelo contrário: avançam esta quarta-feira para o sexto dia consecutivo de protestos (têm sido violentos). A contestação já se estende a todo o país e afeta os mais variados serviços, desde a recolha de lixo aos postos de combustível, passando ainda por refinarias ou até por empresas das quais o Estado é acionista - como é o caso da Renault.

E a revolta não vai parar, dizem os manifestantes: mesmo sem saber o que vai dizer Emmanuel Macron numa entrevista marcada para esta quarta-feira, os diferentes sindicatos já anunciaram que entre 600 mil a 800 pessoas vão protestar nas ruas esta quinta-feira. A maioria, entre 400 mil a 700 mil, é esperada em Paris.

“Há uma grande margem entre a social-democracia e a política democrática. Quando negamos a social-democracia, negamos a realidade do que está a acontecer às empresas e isso coloca questões à democracia em geral”, afirmou o secretário-geral da CGT, Philippe Martinez, em entrevista ao diário Le Monde, na qual acusa Emmanuel Macron de ser irresponsável.

Se os protestos começaram em Paris, e mesmo sendo na capital que a maioria ainda se concentra, noutras grandes cidades há já constrangimentos. É o caso de Marselha, a segunda maior cidade francesa, onde uma das principais entradas está fechada. Manifestantes ocuparam a A55, levando mesmo ao seu fecho perto da localidade de Fos-sur-Mer, onde se encontra uma importante refinaria. É lá que decorrem, desde esta terça-feira, alguns dos mais violentos confrontos.

Noutro ponto da cidade mediterrânica foram erguidas barricadas para tapar uma das entradas para o porto, um dos mais importantes de França. Ao mesmo tempo vive-se o caos nas estradas, com muitos franceses a entupirem os postos de combustíveis devido às greves e aos bloqueios. Isso mesmo levou a prefeitura de Bouches-du-Rhône a requisitar 11 estações de serviço para garantir os abastecimentos.

Voltando à capital, esta quarta-feira o supermercado Carrefour da porta de Montreuil foi invadido por dezenas de manifestantes da CGT, numa ação que deve repercutir-se por outras lojas da cadeia no resto de Paris.

“O presidente disse que não é o povo que decide. Na história deste país, é sempre o povo que decide e vamos continuar até ganharmos, até que retirem [a proposta]”, afirmou outro representante da CGT, Amar Lagha.

Nos protestos que continuam esta quarta-feira nem a Disneyland Paris escapou. O Le Monde refere que vários manifestantes ocuparam a cozinha principal do parque de diversões, enquanto outros conseguiram interromper a circulação numa das linhas suburbanas da capital.

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