O diretor nacional da Polícia Judiciária (PJ) disse, este domingo, que os cinco homens que fugiram no sábado da prisão de Vale de Judeus, em Alcoentre, são “gente muito violenta, com enorme capacidade de mobilidade”.
“Estamos a falar de gente muito violenta, com uma enormíssima capacidade de mobilidade. (…) Esta gente tudo fará para continuar em liberdade e quando digo tudo, é inclusive o valor vida humana”, disse Luís Neves, numa conferência de Imprensa conjunta com a PSP, GNR, diretor-geral de Reinserção e serviços prisionais e secretário-geral de Sistemas de Segurança Interna (SIS).
Luís Neves disse que a PJ está a levar a cabo uma investigação e pediu para que “ninguém espere resultados imediatos”, lembrando que aquela polícia de investigação tem vindo “a proceder a um conjunto de capturas, às vezes evasões com três, quatro ou cinco anos e a um ou outro nunca lá chegamos”.
Sobre a fuga deste sábado, Luís Neves diz que “todos os pormenores foram preparados ao mínimo detalhe”, “a partir de fora”. “É uma investigação complexa. Estamos a falar de criminalidade organizada, com elevada capacidade financeira. É gente muito bem preparada”, sublinha.
O responsável alertou ainda para a necessidade de haver “cuidado e reserva na comunicação” durante a investigação, apelando à população que, se tiver alguma informação sobre os evadidos, contacte as forças de segurança. “Pedimos à população se abstenha de ter qualquer ato de contacto com estas pessoas. (…) Qualquer informação que a população tenha o faça veicular pelos canais normais, nomeadamente pelo 112”, sublinhou.
O diretor da PJ disse ainda aos jornalistas que os cúmplices dos fugitivos, que agiram de cara tapada, não estão ainda identidades, assim como os veículos usados na fuga. “Não está gente ainda identificada”, reforçando que esta será a ultima informação que dará sobre a investigação, “atendendo à gravidade e ao melindre” da mesma.
40 minutos até ser detetada a fuga
O diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais, Rui Abrunhosa Gonçalves, fez, nesta conferência de imprensa um relato da fita do tempo da fuga. O responsável disse que, através do sistema de videovigilância, foi possível apurar que a fuga dos cinco homens teve início às 09:56 e foi comunicada aos órgãos de serviço criminal 40 minutos depois. Foi no momento de recolha às celas que “efetivamente se verificou a falta dos cinco indivíduos”.
Rui Abrunhosa Gonçalves disse que este sábado estavam 33 elementos da guarda prisional de serviço. “O turno normal que um estabelecimento com estas características e com este número de reclusos justifica ter. Não há aqui o problema da falta de efetivos real”, considerou.
Frisando que “não episódios de fuga frequentes das prisões em Portugal”, Abrunhosa Gonçalves garante que “os guardas prisionais cumprem bem o seu trabalho”.
O diretor dos serviços prisionais admite que houve falhas de segurança, que estão a ser investigadas: “Se há cinco pessoas que fogem de uma cadeia, é evidente que alguma coisa falhou”. “Se ele estivesse em Monsanto não teria fugido”, acrescentou, referindo-se ao argentino Rodolfo Lohrmann, conhecido como "El Russo".
“Vale de Judeus tem 150 guardas prisionais, 15 estão de baixa e outros tantos estão de férias. Eu preciso de mais guardas. Mas não é por causa desta fuga que eu preciso de mais guardas. Preciso de mais guardas por causa das atividades e das saídas”, acrescentou, adiantando que os serviços prisionais pediram à tutela a abertura de um concurso para 225 guardas, um processo que, com a formação dos novos agentes, deve demorar “um ano e meio”.
Fecho de fronteiras não foi equacionado
O secretário-geral dos Serviços de Segurança Interna (SIS) em exercício, Manuel da Silva Vieira, disse que as autoridades nunca equacionaram o “a reposição do controle de fronteiras, até porque essa reposição exige uma quantidade de medidas muito específicas”. “Pautamo-nos pela adequação e pela proporcionalidade. O controle de fronteiras não é proporcional, nem adequado neste caso”, justificou.
Ainda assim “logo nas primeiras horas da notícia desta evasão, os dados dos evadidos foram introduzidos nos sistemas”, alertadas todas as polícias internacionais e alertados os cinco pontos de controlo policial e aduaneira na fronteira com Espanha.
Estão a ser levadas a cabo operações “com uma maior intensidade” em zonas do país em que se estima que os indivíduos se possam movimentar. Nomeadamente operações de trânsito. As autoridades presentes na conferência de imprensa recusaram, contudo, especificar quais são essas zonas.
A GNR foi o primeiro órgão de investigação criminal a ser contactado, deslocando equipas de patrulhamento e também equipas de investigação criminal. Foi batido o espaço mais próxima da prisão de Vale de Judeus e de imediato patrulhada a área envolvente. A PSP também está envolvida na caça ao homem que foi montada. “Além do evadido que tinha sido detido pela PSP, a PSP tinha informações sobre outros detidos e está a recolher essa informação para fornecer à investigação”, disse o responsável da PSP.
Cinco reclusos fugiram no sábado do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre, no concelho de Azambuja, distrito de Lisboa.
Segundo avançou no sábado a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), uma avaliação preliminar, com recurso a imagens de videovigilância, aponta para uma fuga dos cinco homens pelas 10:00 "com ajuda externa através do lançamento de uma escada, que permitiu aos reclusos escalarem o muro e acederem ao exterior".
"Conforme o protocolo, foram feitas imediatamente comunicações devidas aos órgãos de política criminal com vista à recaptura dos evadidos", acrescentou o organismo em comunicado.
O Sistema de Segurança Interna (SSI) indicou também no sábado ter sido "agilizada a cooperação policial internacional" para a captura dos cinco reclusos que fugiram.
Os evadidos são dois cidadãos portugueses, Fernando Ribeiro Ferreira e Fábio Fernandes Santos Loureiro, um cidadão da Geórgia, Shergili Farjiani, um da Argentina, Rodolf José Lohrmann, e um do Reino Unido, Mark Cameron Roscaleer, com idades entre os 33 e os 61 anos.
Foram condenados a penas entre os sete e os 25 anos de prisão, por vários crimes, entre os quais tráfico de droga, associação criminosa, roubo, sequestro e branqueamento de capitais.
De acordo com a DGRSP, já foi aberto um processo de inquérito interno, a cargo do Serviço de Auditoria e Inspeção, coordenado pelo Ministério Público.