Secretário - TVI

Secretário

Resistente às críticas

Data de nascimento: 12/05/70 (São João da Madeira)

Altura: 1,74. Peso: 68 kg

Clubes como profissional: Penafiel (89 a 91); Famalicão (91/92); Sp. Braga (92/93), F.C. Porto (93 a 96), Real Madrid (96 a 97), F.C. Porto (97 a 2000)

Internacionalizações A: 31 (1 golo)

Estreia na Selecção A: 18/12/94 (Portugal,8-Liechtenstein, 0) 

Se, como diz Jorge Valdano, uma equipa de futebol é um pouco como a turma da escola ¿ há sempre personagens obrigatórias como o geniozinho, o líder, o humorista, o introvertido e o mal-amado ¿ então não há dúvidas de que, para o grande público, a Selecção já tem há muito tempo o seu mal-amado preferido. Chama-se Carlos Secretário, joga a lateral-direito e, com excepção dos torcedores do F.C. Porto, são raros os adeptos que reagem favoravelmente à sua presença regular na Selecção.  

O facto de Secretário ter sido capaz de lidar com este tipo de pressão de há quatro anos a esta parte, atravessando os consulados de três seleccionadores distintos (António Oliveira, Artur Jorge e Humberto Coelho) deve, porém, merecer alguma reflexão.  

É certo que a rotina de jogo é dos ingredientes mais necessários à estabilidade de uma defesa ¿ e nesse aspecto Secretário leva vantagem, devido aos anos de rodagem que mantém com alguns parceiros habituais como Vítor Baía, Fernando Couto e Jorge Costa.  

Por outro lado, o sistema aplicado por Humberto Coelho, dando incidência a um extremo-direito muito agressivo (normalmente Figo, mas também Sérgio Conceição) aconselha a utilização de um lateral-direito prudente, ao contrário do que sucede no flanco oposto onde, devido à ausência de um genuíno extremo-esquerdo, as subidas de Dimas são encorajadas. Estes factores ajudam a perceber uma preferência, muitas vezes mantida ao arrepio das opiniões populares. 

A carreira de Secretário pode ser dividida em duas etapas: antes e depois da ida para o Real Madrid. Até trocar as Antas por Chamartin estavamos perante um médio-ala que, após um início de carreira a vários títulos interessante (foi nessa posição que chegou pela primeira vez à equipa nacional), se reconverteu em lateral-direito após o abandono de João Pinto. Chegou ao F.C. Porto em 1993/94 e de imediato agradou a Tomislav Ivic, que chegou a experimentá-lo em várias posições. Mas viria a fixar-se na ala direita, já com Bobby Robson, e mais tarde a recuar no terreno, rendendo o histórico «capitão» portista.  

No Verão de 1996, tirando partido da época triunfante dos «dragões» e da valorização que representou a presença no Europeu, o seu empresário, Manuel Barbosa, conseguiu, numa operação surpreendente, colocá-lo nos «merengues». Mas o técnico de então, Fabio Capello, tinha outras ideias: a vinda de Christian Panucci, a meio da época, remeteu-o para uma irremediável posição de suplente, depois de ter cumprido 13 jogos como titular, sempre de forma discreta.  

Madrid deixa marcas 

Nem a conquista do título de campeão apagou a impressão de que Secretário não estava bem em Madrid. O fado não mudou na época seguinte: sistematicamente fora dos convocados, acabou por regressar à casa de partida, o Porto, onde reconquistou a titularidade e as alegrias das vitórias. 

Mas a experiência de Madrid deixou marcas no seu perfil de jogador: menos ousado do que anteriormente ¿ deixou para trás os hábitos de um ex-médio-ala ¿ mais defensivo, nunca conseguiu desfazer, junto do público, alguma imagem de insegurança, que muitas vezes alastrou para lá do que seria sua responsabilidade.  

Mesmo na época que agora encerra, depois de ter recuperado alguns níveis de confiança e efectuado exibições mais convincentes (nem sempre reconhecidas), acabou por ficar ligado a uma importante derrota do F.C. Porto, em Alvalade, com um lance infeliz que bem pode ter influenciado o desfecho do Campeonato.

Ainda assim, Fernando Santos não hesitou em devolver-lhe a titularidade nas finais da Taça, depois de resolvida uma lesão inoportuna. E Humberto Coelho aproveitou a boleia, reforçando o seu estatuto de presença quase obrigatória na Selecção. Por muito que os seus detractores protestem, ninguém acredita que estes técnicos não tenham razões para tanta confiança. 

Nuno Madureira

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