O Presidente da República nega ter pedido para mudar um voo da TAP por conveniência da sua agenda - voo esse que tinha cerca de 200 pessoas a bordo. "A Presidência da República nunca contactou a TAP nem nenhum membro do Governo sobre tal assunto. A Presidência da República nunca solicitou a alteração do voo da TAP, se tal aconteceu terá sido por iniciativa da agência de viagens", refere numa nota da presidência.
O Palácio de Belém esclarece que Marcelo Rebelo de Sousa "deslocou-se a Moçambique em março de 2022" numa visita "tratada pela agência de viagens habitual, que terá feito várias diligências e acabou por encontrar uma alternativa com a TAAG, via Luanda, no dia 23". "Mas o regresso de Moçambique acabou por se verificar a 21 de março de 2022, num voo regular da TAP (TP182)", acrescenta-se.
A presidência diz ter tomado conhecimento desta questão no dia 11 de fevereiro de 2022, antes da realização do voo em causa, "quando a CEO da TAP perguntou ao Chefe da Casa Civil, num jantar no Eliseu, a convite do presidente Macron, a propósito da Saison Croisée França Portugal, se o Presidente da República tinha solicitado a mudança do voo da TAP de 24 de março", algo que, garante Marcelo, "foi imediatamente desmentido".
Marcelo Rebelo de Sousa reage assim à mais recente polémica da TAP, na sequência da audição da presidente executiva da companhia aérea na comissão de inquérito sobre o caso de Alexandra Reis. Christine Ourmières-Widener não negou ter chegado à empresa um e-mail do ex-secretário de Estado das Infraestruturas Hugo Mendes a pedir para adiar um voo de Moçambique que tinha como passageiro o Presidente da República - que, alegadamente, precisava de ficar mais dois dias em Maputo.
"Caro Hugo, a minha preocupação se se tornar público, e podemos estar confiantes de que será, não será bom para ninguém. Não concorda?", questionou a CEO da TAP, em resposta ao e-mail do antigo secretário de Estado que está a circular nas redes sociais.
"Bom dia, Christine. A minha reação espontânea é dizer que sim :) Falando seriamente, percebo que isto possa ser incómodo para ti mas não devemos permitir-nos perder o apoio político do PR [Presidente da República]. Ele tem sido um apoio para nós em relação à TAP, mas, se o humor dele se alterar, tudo fica perdido. Uma palavra dele contra a TAP/o governo e ele empurra o país todo contra nós. Não estou a exagerar: ele é o nosso principal aliado político, mas pode transformar-se no nosso pior inimigo", respondeu Hugo Mendes.
Esta manhã, na reação à comissão de inquérito à TAP, Luís Montenegro acusou o Governo de abuso de poder e de instrumentalizar Marcelo no escândalo TAP. O social-democrata considerou que existem “escandalosos abusos da maioria absoluta” do PS, acusando os socialistas de instrumentalizarem o Presidente da República, que é visto pelo Governo como um “peão do PS ao serviço da sua agenda”.