"São camaratas autênticas". Beliches terão impedido a fuga dos residentes no rés-do-chão que ardeu em Lisboa - TVI

"São camaratas autênticas". Beliches terão impedido a fuga dos residentes no rés-do-chão que ardeu em Lisboa

Duas pessoas morreram num incêndio num rés-do-chão de um prédio na Mouraria, em Lisboa, e 14 ficaram feridas. Apartamento que ardeu era um T0 e estava repleto de camas

Terão sido os beliches que impediram a fuga dos cerca de dez residentes no T0 no rés-do-chão da rua lisboeta do Terreirinho que foi consumido pelas chamas. O espaço, de reduzidas dimensões, estava repleto de camas, que terão afunilado o percurso dos que procuravam fugir: o balanço dá conta de dois mortos - um adulto e um adolescente -, 14 feridos e cerca de 20 desalojados.

Os moradores do prédio, na maioria de origem asiática, tal como todos os residentes no apartamento onde deflagrou o incêndio, ainda não conseguiram regressar a casa este domingo. Ficarão alojados num hotel, disponibilizado pela autarquia, e não têm dinheiro nem documentos, retidos nas casas onde não conseguem entrar. Uma família do Bangladesh que mora no terceiro andar do prédio ainda tentou voltar, mas foi impedida pelas autoridades. Ficaram à porta, ainda enrolados nos lençóis que trouxeram do hospital onde lhes prestaram auxílio após a inalção de fumos. 

Os vizinhos contam que aquele rés-do-chão, como tantos outros na zona, estava sobrelotado e funcionaria como alojamento local clandestino - há uma placa a indicar isso mesmo junto da porta do prédio. "São autêntica camaratas", disseram à CNN Portugal. A Polícia Judiciária já está a investigar e continuará na segunda-feira as diligências. 

E os moradores do prédio acrescentam que o edifício, que era propriedade de uma sociedade imobiliária que faliu, ficou na posse de um banco, que depois vendeu os apartamentos. O proprietário do imóvel que ardeu será um homem de nacionalidade italiana, que está incontactável há meses. Os residentes nos andares mais acima tentaram ligar-lhe e avisaram mesmo a junta de freguesia, perante o cenário de sobrelotação no T0, que foi inicialmente alugado a uma família com um filho - e que depois terá subarrendado o local a mais pessoas. Ali, todos cozinhavam e seria feita comida para vender para fora. 

Causas do incêndio ainda por apurar

Segundo o Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa, o alerta para o incêndio foi dado às 20:32 para a Rua do Terreirinho. Registaram-se duas vítimas mortais e os feridos, a maior parte por inalação de fumos, foram assistidos nos Hospitais de Santa Maria e de São José. Já tiveram alta. 

Tiago Lopes, porta-voz do Regimento de Sapadores Bombeiros, disse aos jornalistas que as causas do incêndio ainda estão por apurar. O fogo foi extinto pelas 21:50. 

À Lusa, Margarida Castro, diretora do Serviço Municipal de Proteção Civil de Lisboa, afirmou que as pessoas que estavam no prédio eram todas estrangeiras, maioritariamente do continente asiático. As informações preliminares de que dispõe indicam que além dos dois mortos, também estrangeiros, das 14 vítimas do incêndio transportadas para hospitais duas são de nacionalidade argentina e 11 da Península do Industão, região asiática que compreende países como a Índia, Paquistão, Bangladesh e Nepal.

Um português ficou também ferido mas é uma “vítima colateral”, porque não estava no prédio aquando do incêndio. Margarida Castro disse que o prédio, apesar de o incêndio ter sido apenas no rés-do-chão, ficou inabitável e que na segunda-feira será feita uma vistoria.

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa deslocou-se ao local e, em conferência de imprensa pelas 23:00 de sábado, lamentou as vítimas do incêndio. "É dramático, não esperávamos que isto acontecesse", afirmou, salientando a rápida resposta das autoridades, que "em quatro minutos estavam todos a trabalhar no terreno". 

O autarca garantiu que "ninguém vai ficar sem teto" e que está a trabalhar para realojar os desalojados. “Toda a gente vai ter onde dormir. Os desalojados são alguns, não tenho os números mas vamos ajudar todos”, reiterou.

O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, ao lado de Moedas, não descartou que o edifício se trate de um alojamento local ilegal. "E há aqui muito alojamento local clandestino, isso posso dizer que há", admitiu. 

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, falou ainda no sábado à noite com o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, para “se inteirar das consequências” do incêndio na Mouraria, lamentando a perda de vidas humanas.

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