O relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) relativo a 2022, divulgado esta sexta-feira, revela que os glaciares estão a derreter a um ritmo dramático e que vários indicadores de alterações climáticas voltaram a atingir níveis recorde.
No relatório anual sobre o estado do clima mundial, a OMM destaca as mudanças globais na terra, nos oceanos e na atmosfera, causadas por níveis recorde de gases com efeito de estufa, responsáveis pela retenção de calor que resulta no aquecimento global.
A OMM, um organismo da ONU, precisa que "o gelo marinho antártico está no nível mais baixo de sempre e alguns glaciares europeus estão literalmente a derreter a uma velocidade recorde”.
“Os glaciares enfrentam um risco cada vez maior, porque a concentração de dióxido carbono (CO2) já é muito elevada e é provável que a subida do nível do mar continue durante milhares de anos", disse o Secretário-Geral da OMM, Petteri Taalas, citado pela agência AFP.
O degelo não pode ser parado "a menos que seja criada uma forma de remover o CO2 da atmosfera", acrescentou.
De acordo com a OMM, os glaciares de referência, os que são alvo de observações a longo prazo, registaram uma mudança média de espessura superior a -1,3 metros entre outubro de 2021 e outubro de 2022, correspondendo a uma perda muito superior à média da última década.
Os glaciares dos Alpes europeus sofreram um degelo recorde devido à combinação da existência de pouca neve no inverno, à chegada de poeiras do Saara em março de 2022 e às ondas de calor registadas entre maio e o inicio de setembro, destaca o relatório.
Estes glaciares perderam 6% do seu volume de gelo entre 2021 e 2022, em comparação com um terço verificado entre 2001 e 2022.
O relatório anual confirma que a temperatura média global em 2022 foi 1,15°C mais elevada do que na época pré-industrial (1850-1900) e que os últimos oito anos foram os mais quentes de que há registo, apesar do arrefecimento causado pelo fenómeno climático La Niña durante três anos seguidos.
Este relatório confirma também que o ano passado foi marcado na Europa por ondas de calor no verão, às quais, recorda a OMM, foram associadas a 4.600 mortes em Espanha, 4.500 na Alemanha, 2.800 no Reino Unido, 2.800 em França e 1.000 em Portugal.
Portugal foi um dos muitos países que registaram em 2022 o seu ano mais quente. Outros países foram Espanha, França, Reino Unido, Itália, Alemanha, Suíça, Irlanda, e Bélgica.
Os autores do relatório insistem que as alterações climáticas mantêm-se como responsáveis por secas, inundações e ondas de calor e que estão a “afetar populações em todos os continentes, causando milhares de milhões de dólares em perdas".
Embora a OMM ainda não disponha de números completos para 2022 relativamente à concentração de gases com efeito de estufa causadores do aquecimento global, a agência da ONU recordou que níveis recorde foram atingidos em 2021.
O dióxido de carbono, o principal gás com efeito de estufa, atingiu 415,7 partes por milhão em 2021 (mais 149% do que na era pré-industrial), enquanto o metano atingiu 1,9 partes por milhão (mais 262%) e o óxido nitroso subiu para 0,33 partes por milhão (mais 124 %).
A organização baseada em Genebra observou ainda que o nível do mar está a subir a um ritmo acelerado, de 2,27 milímetros por ano na década 1993-2002, para 4,62 milímetros por ano no período 2013-2022.
Outro problema nos oceanos resultante das alterações climáticas, a acidificação por dióxido de carbono absorvido pela água, fez com que o pH da superfície do oceano aberto atingisse o seu nível mais baixo em 26.000 anos, o que pode ter consequências graves para a vida marinha, adverte a OMM.
Os resultados deste relatório são conhecidos depois de na quinta-feira o relatório “Estado do Clima Europeu 2022”, do Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas Copernicus, indicar que o ano passado foi o segundo mais quente na Europa desde que há registo, com 0,9 graus celsius (ºC) acima da média, enquanto o verão foi o mais quente de sempre, com 1,4ºC acima da média.
Este trabalho do Copernicus revela que as temperaturas na Europa estão a subir duas vezes mais que a média global e este aumento é mais rápido do que em qualquer outro continente, segundo hoje divulgado.
No ano passado, o relatório da OMM relativo a 2021 apontava para recordes em quatro marcadores considerados chave das alterações climáticas: concentrações de gases com efeito de estufa, aumento do nível do mar, temperatura e a acidificação dos oceanos.