Demissão de Carla Alves: um "desfecho inevitável" que foi "precipitado" por Marcelo - TVI

Demissão de Carla Alves: um "desfecho inevitável" que foi "precipitado" por Marcelo

Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa (António Cotrim/Lusa)

O primeiro-ministro até tentou aguentar a secretária de Estado, mas não verá com maus olhos a sua saída depois de nova polémica

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Entre o Presidente da República ter dito que a secretária de Estado da Agricultura era um “peso político” para o Governo e o comunicado daquele ministério a anunciar a demissão de Carla Alves passou uma hora, o que deixa adivinhar que as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa podem ter espoletado a 11.ª demissão por causas políticas num Governo que ainda não completou um ano.

Para Paula do Espírito Santo, a demissão pedida por Carla Alves, que foi “prontamente aceite”, foi “precipitada pelas palavras do Presidente”. A professora de Ciência Política refere à CNN Portugal que tudo indicava que o primeiro-ministro não ia deixar cair a secretária de Estado, mas que a reação de Marcelo Rebelo de Sousa ao caso foi o toque final.

“Acaba por ser uma contrição da secretária de Estado, que pede a demissão por iniciativa própria, mas influenciada pelo Presidente”, afirma.

De resto, lembra a especialista em comunicação política, este é um papel no qual Marcelo Rebelo de Sousa já se colocou outras vezes. Basta ver quando fez cair Constança Urbano de Sousa, ministra da Administração Interna no ano de 2017, em que Portugal foi assolado por dois violentos fogos que mataram mais de 100 pessoas no Centro do país.

A 17 de outubro desse ano o Presidente da República apontou para uma abertura de um “novo ciclo”, o que “inevitavelmente” obrigaria o Governo a “ponderar o quê, quem, como e quando melhor serve esse ciclo”. Constança Urbano de Sousa sentiu as palavras e demitiu-se no dia a seguir.

“São dois exemplos em que o Presidente da República exerce o seu magistério de influência, faz o papel de fiel da balança em abono da democracia”, acrescenta Paula do Espírito Santo, sublinhando que isso “acaba por ser decisivo na credibilização” do sistema.

Costa não queria, mas aproveita

Tal como a saída de Constança Urbano de Sousa, certamente que a demissão de Carla Alves será também um alívio para o primeiro-ministro. É isso que entende Paula do Espírito Santo, que até viu António Costa a tentar defender a sua secretária de Estado no debate que abordou a moção de censura ao Governo, que acabou rejeitada.

Diz a professora universitária que o chefe do Governo tentou por todos os meios separar a questão entre a política e o pessoal, sendo também por isso que nunca se referiu à secretária de Estado como tal, mas antes como “mulher” ou “senhora”.

“A forma como se dirigiu justifica um distanciamento. Não identificou a pessoa pelo cargo, mas pela mulher de alguém que tem um processo a decorrer”, explica Paula do Espírito Santo. Com efeito, António Costa soltou mesmo a pergunta “vou demitir a mulher de alguém porque o marido é acusado?”.

Ainda assim, refere Paula do Espírito Santo, o pedido de demissão de Carla Alves acaba por beneficiar o primeiro-ministro, que assim se vê livre de um problema que podia embaraçar ainda mais um Governo já de si ferido pelos constantes casos que se têm sucedido.

“A secretária de Estado tinha perdido a credibilidade para o exercício do cargo, arrastando consigo a credibilidade do Governo”, aponta, dizendo que uma aceitação pronta do primeiro-ministro era o “desfecho inevitável”.

“[A demissão] facilitou muito a Costa o encargo político que pesava em apenas algumas horas. Acaba por marcar um ponto final na polémica, tanto quanto possível”, conclui Paula do Espírito Santo.

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