"Posso continuar?", "Vá, vá". Áudio do acidente de comboios na Grécia prova ordem do chefe, mas há um problema muito maior que está a levar os gregos às ruas - TVI

"Posso continuar?", "Vá, vá". Áudio do acidente de comboios na Grécia prova ordem do chefe, mas há um problema muito maior que está a levar os gregos às ruas

Relatório da União Europeia indica que o país é um dos que tem menos segurança no setor ferroviário. Entre protestos e greves, os comboios levaram milhares às ruas

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O acidente entre dois comboios na Grécia que provocou a morte a 57 pessoas está a levantar várias questões que vão bem para lá deste caso. Milhares de pessoas saíram às ruas em cidades como Atenas ou Salónica para protestar contra a segurança ferroviária no país, sendo que na capital a polícia teve mesmo de intervir.

Uma convulsão social que não parou com a demissão do ministro dos Transportes, e que também já está a chegar ao setor. O sindicato que representa os trabalhadores dos comboios da Grécia anunciou uma greve, acusando o governo de “desrespeito” ao setor.

Enquanto isso, 48 pessoas continuam hospitalizadas na sequência do acidente em Larissa, temendo-se que o número de vítimas mortais possa ainda subir.

Os protestos intensificaram-se após ter sido divulgado o áudio da comunicação entre o chefe da estação de Larissa, entretanto detido e acusado de homicídio, e o maquinista de um dos comboios envolvidos no acidente. “Continue pela saída do semáforo vermelho até entrar no semáforo para Neon Boron”, pode ouvir-se da parte do chefe da estação. O maquinista em causa ainda pergunta se pode prosseguir: "Vasilis, posso continuar?", recebendo resposta afirmativa do outro lado, "vá, vá”.

Num outro áudio, é possível ouvir o chefe da estação a dizer a um funcionário que mantenha ambos os comboios na mesma linha. "Devo virá-lo [ao comboio] agora?", perguntou o trabalhador, ouvindo um "não, não, porque o 1564 está nessa rota".

Manifestantes envolveram-se em confrontos com a polícia durante protesto por causa do acidente (Socrates Baltagiannis/Getty Images)

O centro dos protestos foi a sede da empresa nacional de comboios, Hellenic Train, onde milhares de pessoas, sobretudo estudantes e trabalhadores da organização, pediram explicações. A grande maioria das vítimas do acidente eram jovens estudantes que regressavam a casa depois de um fim de semana prolongado.

No local do acidente decorrem ainda operações de resgate, uma vez que várias pessoas estão dadas como desaparecidas. É ali que famílias de muitas das pessoas que faziam aquela viagem esperam por notícias, num cenário que é semelhante ao que acontece no hospital, onde ainda decorrem vários processos de identificação de vítimas.

Já na estação de Larissa, onde onde o erro que provocou o acidente ocorreu, a polícia esteve a fazer buscas, procurando documentos que possam ajudar na investigação. Segundo a agência AFP, que cita fonte do tribunal, o objetivo é tentar perceber se será necessário "iniciar processos criminais contra membros da administração da Hellenic Train.

Um problema antigo

O acidente de Larissa faz levantar novas dúvidas sobre a segurança nas linhas de comboios da Grécia. Segundo um relatório da Agência da União Europeia para a Ferrovia, a Grécia é um dos países com menos segurança no setor. Os dados mais recentes, de 2022, referem que o país é um dos dois únicos que não têm quaisquer sistemas de alerta automático em toda a linha (o outro é a Eslovénia). Portugal, por exemplo, tem perto de 70% das suas linhas equipadas com o sistema mais seguro. A Grécia não tem qualquer sistema, sendo ainda um dos países com menos certificados de segurança emitidos.

O sindicato afirma que as condições dos trabalhadores são más e que há um problema crónico de falta de pessoal. A organização pede "mais funcionários, melhor formação e a implementação de sistemas de segurança modernos, que são sempre atirados para o lixo".

"Há vários anos que os alarmes soam, mas nunca foram levados a sério", afirmou o sindicato, citado pelo jornal Ekathimerini.

Ainda antes de sair, o ministro dos Transportes reconhecia que a situação era grave, afirmando que a rede ferroviária grega "não tem os requisitos do século XXI".

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