Este vai ser o primeiro inverno sem máscaras após a pandemia: especialistas preveem uma época de gripe mais severa - TVI

Este vai ser o primeiro inverno sem máscaras após a pandemia: especialistas preveem uma época de gripe mais severa

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A Austrália viveu a pior época de gripe dos últimos cinco anos: começou mais cedo, teve mais casos e mais hospitalizações. E isso é uma é péssima notícia para o hemisfério Norte: os especialistas preveem um inverno complicado

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A Austrália acaba de viver a pior temporada de gripe registada nos últimos cinco anos, com as infeções a atingir o pico mais cedo do que o normal e números mais altos de casos e hospitalizações. E essa é uma péssima notícia para o hemisfério Norte.

"Vamos entrar em Portugal no período de maior prevalência de gripe e é preciso deixar desde já um alerta, pois as noticias que estão a chegar do hemisfério Sul dizem que a gripe deste ano vai ser mais virulenta", garante à CNN Portugal Mário Espiga Macedo, especialista em Medicina Interna no Hospital Lusíadas Porto.

Embora a gripe seja geralmente um vírus bastante imprevisível, os epidemiologistas confiam nas tendências do hemisfério Sul para prever o que acontecerá durante a chamada 'época da gripe' no hemisfério Norte. "Geralmente olhamos para a Austrália e para o hemisfério Sul como um sinal do que podemos esperar", explica o John Brownstein, epidemiologista do Hospital Infantil de Boston e colaborador da ABC News. "Obviamente, não há uma coincidência perfeita, mas, na maioria das vezes, a gravidade da temporada de gripe na Austrália dá-nos uma ideia do que podemos esperar e ajuda-nos a prepararmo-nos."

Porque devemos estar preocupados?

A Austrália registou mais de 218 mil diagnósticos confirmados de gripe em 2022, muito acima da média de cerca de 141 mil do ano passado, segundo dados do Departamento de Saúde da Austrália. No pico da época de gripe, que este ano ocorreu em junho, foram registados mais de 30 mil casos por semana. Comparativamente, no pico da temporada em 2017, havia 25 mil casos relatados semanalmente.

Além disso, houve 1.708 hospitalizações relacionadas com a gripe – 6,5% das quais foram internamentos em unidades de cuidados intensivos – e 288 mortes associadas ao vírus na Austrália até o momento durante esta época.

No hemisfério sul, a temporada começou mais cedo do que o habitual: em abril em vez de junho, algo que - aparentemente - se estará a repetir nos EUA onde neste momento, de acordo com os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), alguns estados como Texas e Novo México apresentam já transmissão moderada do vírus, algo não típico para o mês de setembro.

“O hemisfério sul teve uma temporada de gripe muito severa e que começou cedo”, disse Anthony Fauci, diretor do instituto norte-americano de Alergias e Doenças Infecciosas, à Bloomberg News, sublinhando que devemos estar alertas. “A gripe – como todos nós percebemos ao longo de muitos anos – pode ser uma doença grave, principalmente quando temos uma época severa."

No entanto, o médico Nuno Jacinto, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, refere que "ainda não há certezas": "Há essa probabilidade e estamos preparados, como sempre estamos, mas é preciso esperar um pouco para sabermos. Neste momento, ainda não chegou o frio e ainda não temos casos de gripe registados", explica à CNN Portugal.

Em Portugal, a época de gripe começa geralmente no fim de outubro/ início de novembro e prolonga-se até ferevereiro.

O primeiro inverno sem máscaras

Durante os últimos dois anos, não foram relatados tantos casos gripe em comparação com anos anteriores devido às medidas de mitigação relacionadas com a covid-19 que estiveram em vigor, como uso de máscaras e o distanciamento social, bem como o encerramento de escolas e o recurso ao teletrabalho. Os números de casos confirmados de gripe A e B diminuíram drasticamente nas últimas duas épocas. 

O que se passou é que, devido à pandemia de covid-19, nos últimos dois anos e meio "tivemos, coletivamente, uma alteração na circulação dos vírus respiratórios", explica à CNN Portugal o médico Bernardo Gomes, especialista em Saúde Pública. "Foram tomadas medidas de mitigação da covid-19 que, como é óbvio, têm impacto sobre todos os outros vírus respiratórios de transmissão aérea. O vírus da gripe é muito mais fraco do que a covid, portanto pequenas medidas são suficientes para quebrarem a transmissão."

Muitas dessas medidas mantiveram-se em vigor em vários países até recentemente. Em Portugal, por exemplo, as máscaras foram obrigatórias nos transportes públicos e farmácias até ao final de agosto.

"Este vai ser o primeiro inverno sem máscaras desde o início da pandemia", sublinha Bernardo Gomes. "Se as medidas são relaxadas e voltamos a linhas de ar ao nível pré-pandémico, é normal que as transmissões de vírus respiratórios aumentem." A acrescentar a isto está o facto de a imunidade coletiva ser bastante mais reduzida, depois de invernos com menos infeções.

Assim, no início de dezembro poderemos voltar a ter um novo pico de casos de covid-19, embora menos grave do que nos anos anterioes, ao mesmo tempo que enfrentamos mais uma época de gripe no hemisfério norte.

Como nos podemos preparar para a época de gripe?

A vacina é, segundo os médicos Bernardo Gomes e Nuno Jacinto, o método de prevenção mais indicado para todos os que se integrem em grupos de risco. São elegíveis para serem vacinadas as pessoas com 60 ou mais anos de idade, os residentes e profissionais dos lares de idosos e da rede nacional de cuidados continuados, as pessoas a partir dos 12 anos com doenças de risco, as grávidas com 18 ou mais anos e doenças definidas pela Direção-Geral da Saúde e os profissionais de saúde e outros prestadores de cuidados.. 

Depois, e de acordo com as indicações da Direção-Geral de Saúde (DGS) e do Instituto Nacional de Saúde dr. Ricardo Jorge (INSA), o uso de máscaras, apesar de não ser obrigatório, continua a ser recomendado nos transportes públicos e em todas as situações em que não estejam asseguradas as condições de distanciamento e suficiente arejamento.

"É normal, assim que volte o frio e a chuva, que as pessoas comecem a passar mais tempo em espaços interiores. Por isso, é também expectável que o número de casos de covid-19 volte a aumentar. Não vamos deixar de fazer o que temos de fazer no nosso dia a dia, mas devemos ser responsáveis e manter as cautelas, para nos protegermos a nós e protegermos os outros", explica Bernardo Gomes.

A vacina, a ventilação eficaz dos espaços e o uso de máscaras em espaços interiores e muito lotados (transportes públicos, supermercados, etc.) são as três medidas essenciais para enfrentar o inverno e prevenir quer a covid-19 quer a gripe comum. "Pequenas medidas são suficientes para quebrar as cadeias de transmissão", garante o médico.

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