Grupo Wagner sem munições? "Uma casca de banana" lançada aos ucranianos ou o receio de Prigozhin "ficar sozinho" em Bakhmut? - TVI

Grupo Wagner sem munições? "Uma casca de banana" lançada aos ucranianos ou o receio de Prigozhin "ficar sozinho" em Bakhmut?

Os analistas militares divergem nas interpretações da ameaça de retirada de Bakhmut de Yevgeny Prigozhin, líder do grupo mercenário Wagner

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O líder do grupo Wagner ameaçou retirar de Bakhmut no próximo dia 10 de maio, alegando estar "sem munições" e condenado a "perecer insensatamente" nessas condições. Uma ameaça que tanto pode ser mais "uma manobra" de Yevgeny Prigozhin, como uma escalada do "braço de ferro" entre o líder do grupo de mercenários russos e Vladimir Putin, na interpretação dos analistas militares contactados pela CNN Portugal.

Para o major-general Agostinho Costa, esta ameaça "não passa de uma manobra de Prigozhin para atrair a contraofensiva ucraniana para Bakhmut". E porquê Bakhmut? Porque é ali que as forças russas já "ocupam um terreno forte, têm a cidade nas mãos", aponta o especialista em estratégia militar. 

"Prigozhin faz este teatro, lança uma casca de banana para ver se os ucranianos atacam e assim destruir mais forças ucranianas", sustenta, afirmando que esta é uma jogada inteligente por parte do líder do grupo Wagner, a avaliar pela resposta dos ucranianos.

"Tem surtido efeito, estranhamente. (...) A Ucrânia tem ido atrás da narrativa, tem enviado sistematicamente forças para Bakhmut", analisa.

Por sua vez, o majores-generais Arnaut Moreira e Isidro de Morais Pereira entendem que esta ameaça é uma escalada do "braço de ferro" entre o grupo de mercenários e a Federação Russa, em particular o Ministério da Defesa e o Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia.

"Prigozhin queixa-se que não está a ter o número de munições suficiente, e é verdade. Mas também é verdade que a própria Federação Russa está com falta de munições e as que tem estão a ser racionadas", indica Isidro de Morais Pereira.

E este racionamento das munições implica uma distribuição das armas consoante as prioridades de Putin perante a eventual contraofensiva ucraniana, conforme explica Arnaut Moreira: "Certamente que na preparação da defesa da Federação Russa haverá muitas outras prioridades além de Prigozhin e vai ser necessário distribuir as munições existentes consoante essas prioridades. Prigozhin será vítima dessas prioridades, ou seja, não será a prioridade de Putin, mas apenas uma das prioridades a atender pelo sistema defensivo."

Prigozhin receia "ficar sozinho" em Bakhmut

Imagem do vídeo no qual Prigozhin ameaça a retirada de Bakhmut (AP Photo)
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Na perspetiva de Arnaut Moreira, o líder do grupo Wagner receia "ficar sozinho" em Bakhmut, a cidade que ele elegeu como "o seu grande objetivo militar".

"Prigozhin é uma personalidade complexa porque joga em mais do que um tabuleiro nesta guerra: por um lado, joga no tabuleiro da política e, por outro lado, no da guerra. Ele quer obter vantagens políticas através dos sucessos militares e assume que os insucessos militares podem comprometer as suas aspirações políticas."

À medida que se aproxima a eventual contraofensiva ucraniana, "Prigozhin começa a temer que esta ocorra antes da tomada de Bakhmut e que, nesse sentido, todo o seu esforço para a sua glória em Bakhmut pode desaparecer".

O facto de apontar o dia 10 como o dia da retirada de Bakhmut também não é coincidência, observa Arnaut Moreira. "O dia 9 é o Dia da Vitória na Rússia e Prigozhin sente que politicamente não é um dia muito interessante para se retirar de Bakhmut. Mas se demorar muito tempo a retirar-se de Bakhmut depois do dia 9, corre o risco de enfrentar a contraofensiva ucraniana e acabar sozinho em Bakhmut."

"Prigozhin faz este derradeiro apelo no sentido de ver se ainda tem condições de poder declarar uma vitória em Bakhmut antes da contraofensiva ucraniana", sintetiza o major-general.

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