Mykola Kostenko, de 15 anos, passou 21 dias num abrigo em Mariupol, a cidade que os ataques russos transformaram em mártir. É, por estes dias, artista involuntário de uma exposição em Amesterdão que mostra os diários de guerra de crianças ucranianas.
O registo é feito em esferográfica em pedaços de papel arrancados de cadernos. Era tudo o que Mykola tinha na altura. Uma dessas folhas mostra o porão onde se escondia com a família antes de conseguirem fugir da cidade.
“Pus a minha alma em todas estas imagens, porque foi o que vivi em Mariupol. O que vivi, o que ouvi. Esta é a minha experiência e a minha esperança”, conta.
A exposição “Diários de Guerra” está patente na câmara municipal de Amesterdão, a mesma cidade onde, há décadas, outra criança colocou no papel a sua experiência da guerra: Anne Frank, que se tornou mundialmente famosa. Escreveu o diário, hoje uma obra de referência, no anexo onde viveu com a família, numa tentativa de fuga aos nazis.
É uma forma de mostrar como a história é cíclica, trazendo uma visão da guerra na Ucrânia através dos olhos das crianças. Além dos registos em papel, há também fotografias e vídeos, formatos característicos dos novos tempos.
À Associated Press, a curadora Katya Taylor explica que estes registos são uma forma de as crianças lidarem com situações traumáticas, uma espécie de terapia. “Falamos muito sobre saúde mental e terapia, eles sabem melhor do que nós o que têm a ver consigo mesmos”, afirma.
A criança mais jovem a participar nesta exposição é Yehor Kravtsov, de 10 anos, que também vivia em Mariupol. No texto exposto ao lado do diário, conta que queria ser construtor. Mas o plano mudou com a guerra: “Quando saímos do porão durante a ocupação, estava com muita fome, então decidi tornar-me chef, para alimentar o mundo inteiro”, escreveu.
A UNICEF estima que 1,5 milhões de crianças ucranianas estejam em risco de depressão, ansiedade, stress pós-traumático e outros problemas de saúde mental. Mais de 500 já morreram desde o início do conflito.