O primeiro-ministro disse esta quarta-feira no Parlamento que Israel deve respeitar o direito humanitário, sugerindo que o regime liderado por Benjamin Netanyahu está a ir contra as leis internacionais ao aplicar um cerco à Faixa de Gaza, que sofre com escassez de água, eletricidade, combustível e medicamentos.
"Entendemos que Israel, ao fazer o cerco que está a fazer à Faixa de Gaza, privando crianças, mulheres e homens de acesso à água, de acesso à eletricidade, está a violar o direito humanitário", sublinhou António Costa, lembrando que, quando foi necessário, o Governo também condenou o "atentado terrorista" do Hamas "de forma inequívoca".
Para o primeiro-ministro, “as vidas não são diferentes sendo um israelita ou sendo um palestiniano”. “A vida é a vida, é sempre sagrada. Temos sempre de a proteger e condenamos quem quer que seja que atente contra a vida humana”, disse Costa.
Quanto ao ataque ao hospital a Gaza, que Israel atribui à jihad islâmica mas que o Ministério da Saúde palestiniano atribui a Israel, o primeiro-ministro diz que é importante que haja “efetivamente um cessar-fogo, um corredor humanitário, que haja investigações independentes para que não haja dúvidas de quem efetivamente disparou o míssil sobre o hospital e, sobretudo, travar esta escalada". "Isso é o mais urgente", declarou.
António Costa defendeu que isso abrirá “portas para a diplomacia, para o diálogo político e para a estabilização da região” e sustentou que “uma paz justa e duradoura” deve passar pelo reconhecimento de dois Estados.
PCP diz que foi Israel que atacou o hospital
Já o PCP não tem dúvidas sobre quem atacou o hospital em Gaza: “A verdade é de facto dura mas é a que nós trazemos”. A garantia foi deixada pela líder da bancada parlamentar do PCP, Paula Santos, que condenou todas as ações que vitimizem palestinianos ou israelitas, afirmando que foi Israel quem realizou o bombardeamento do hospital Al-Ahli, em Gaza. Refira-se que Israel já o negou e os EUA dizem ter indícios de que Israel não está envolvido mas que ainda estão a investigar.
O Bloco de Esquerda não deixou de condenar o Hamas pelo ataque de 7 de outubro, mas colocou mais ênfase na "continuação de um genocídio ao povo de Gaza", numa altura em que o exército israelita está a cercar o território palestiniano. "Isto não é a defesa de um país. Isto é uma punição coletiva sobre os palestinianos. É um massacre de milhares de civis, de milhares de crianças. E tudo isto com a cumplicidade das mentiras da extrema-direita", disse a coordenadora do partido, Mariana Mortágua.
Esta discussão começou depois de o presidente do Chega, André Ventura, ter questionado António Costa sobre as posições mantidas por PCP e Bloco de Esquerda sobre a guerra no Médio Oriente. Intervenção essa que levou a líder da bancada parlamentar do PCP a pedir que “não se recorra à mentira nem à calúnia face à tragédia do povo palestiniano, à guerra no Médio Oriente e ao risco do seu alastramento”.
A comunista Paula Santos disse que o partido “assume as suas posições relativamente às mais diversas matérias”, deixando claro que, como aconteceu quando se recusou a condenar a invasão russa da Ucrânia, também aqui vai alinhar pela posição original.
E essa posição condena o ataque do Hamas a solo israelita, sim, mas também acusa os “bombardeamentos na Faixa de Gaza”, com Paula Santos a referir que um desses ataques atingiu o hospital Al-Ahli, onde centenas de pessoas morreram.
Mariana Mortágua condenou ambos os lados, mas classificou os atos do Hamas como "terror". A coordenadora do Bloco de Esquerda instou o Governo a condenar a situação, alertando que Israel está a extravasar os seus direitos. A coordenadora bloquista entende que Portugal tem o dever de condenar ambos os lados, mas também de reconhecer um Estado independente para a Palestina, como está previsto numa resolução das Nações Unidas.
"E por isso apoiámos a decisão da União Europeia de triplicar a ajuda humanitária à população de Gaza. Para nós, o princípio dos dois Estados tem que ser respeitado e assim que a guerra termine é preciso dar espaço à diplomacia para reconstruir a paz e uma paz justa e duradoura para todos na região", enfatizou.