“Todos os cenários estão em aberto”: Foi em tom de ameaça, e pelo meio de comemorações com tiros de armas automáticas, que o líder do Hezbollah falou pela primeira vez desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, que também tem tido focos esporádicos a norte, na fronteira com o Líbano, precisamente onde opera o Hezbollah.
Num discurso que durou mais de uma hora, Hassan Nasrallah esclareceu que o ataque de 7 outubro realizado pelo Hamas não teve qualquer participação do Hezbollah mas virou o foco para a presença dos Estados Unidos na região, seja militar seja politicamente, avisando que evitar uma escalada do conflito na região vai depender da forma como Israel proceder na Faixa de Gaza.
"Esta grande operação [de 7 de outubro] foi resultado puro do planeamento e implementação palestinianos. O grande secretismo tornou esta operação grandiosamente bem-sucedida", disse, referindo-se àquilo que o Hamas designou como operação "Al-Aqsa".
“Vocês, os americanos, podem parar a agressão contra Gaza, porque é a vossa agressão. Quem quer que seja que queira prevenir uma guerra regional, e falo para vocês, americanos, deve rapidamente suspender a agressão a Gaza”, afirmou.
Num discurso muito mais virado para os Estados Unidos do que propriamente para Israel, Nasrallah ameaçou diretamente os EUA. “Vocês, os americanos, sabem muito bem que, se a guerra escalar na região, as vossas frotas serão inúteis. Aqueles que vão pagar o preço serão os vossos interessados, os vossos soldados e as vossas frotas”, disse, numa clara referência ao destacamento de dois porta-aviões norte-americanos – os dois maiores do mundo – para o Mar Mediterrâneo, numa medida para tentar dissuadir um escalada do conflito e, sobretudo, uma entrada direta do Irão.
Navios esses que Nasrallah garantiu não meterem medo: “Preparámo-nos bem para essas frotas com as quais nos estão a ameaçar”, numa clara referência à capacidade militar do Hezbollah, que tem mísseis antinavio.
Subindo o tom das ameaças, o responsável máximo do grupo que milita no Líbano lembrou ataques terroristas ocorridos nos anos 1980. Nasrallah falou em concreto de um ataque bombista de 1983, quando combatentes do Hezbollah fizeram explodir a sede dos fuzileiros norte-americanos no país, matando 241 militares, bem como num ataque à embaixada norte-americana. “Aqueles que vos derrotaram no Líbano ainda estão vivos”, reiterou.
Sobre a guerra contra Israel, e sem anunciar a entrada efetiva do Hezbollah na guerra, Nasrallah disse que "todas as opções" estão em cima da mesa neste momento, incluindo um cenário de "guerra total" no Médio Oriente.
Já sobre o Irão, Estado que assume a posição mais hostil perante Israel e que se sabe que patrocina movimentos como os do Hamas e do Hezbollah, Nasrallah disse apenas que "apoia mas não tem nada que ver com a decisão da Resistência". A resistência a que o líder do Hezbollah se refere é um eixo formado pelo grupo que lidera e que se juntou aos rebeldes Houthis, do Iémen, e a milícias xiitas do Iraque, tendo o patrocínio do Irão.
Para já, e sem ficar claro como é que vão evoluir os combates, o Hezbollah também ameaça Israel. "O que está a acontecer na fronteira pode parecer modesto, mas, se olharmos objetivamente, vamos perceber que é muito importante", disse Nasrallah, que avisou o "inimigo" para levar "muito a sério" a possibilidade de uma guerra com mais partes do que aquelas que existem atualmente.