"O que está a acontecer na Cisjordânia é uma prova da intenção final de Israel": a guerra com o Hamas já "não se limita à Faixa de Gaza" - TVI

"O que está a acontecer na Cisjordânia é uma prova da intenção final de Israel": a guerra com o Hamas já "não se limita à Faixa de Gaza"

Os danos provocados por um bombardeamento israelita ao campo de Jenin (Majdi Mohammed/AP)

Nos últimos dias, Israel tem intensificado os ataques fora de Faixa de Gaza, nomeadamente na Cisjordânia, território que não está sob a alçada do Hamas. O historiador Manuel Loff não tem dúvidas: estes ataques enquadram-se numa "ocupação de natureza colonial"

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Pelo menos 14 palestinianos morreram esta quinta-feira na sequência de um novo ataque israelita no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia, avançou o Ministério da Saúde da Palestina, citado pela CNN Internacional. As Forças da Defesa de Israel (IDF) reivindicaram o ataque, justificando-o como um meio para "destruir a infraestrutura terrorista" na região.

Nos últimos dias, Israel tem intensificado os ataques à Cisjordânia, onde já morreram mais de 170 civis desde os primeiros ataques do Hamas, a 7 de outubro, na sequência de confrontos com forças israelitas ou colonos, de acordo com o mais recente balanço do Ministério da Saúde palestiniano. O número de feridos na Cisjordânia também não para de aumentar: de acordo com a mesma fonte, são já mais de 2.450.

Esta quinta-feira, a Médicos Sem Fronteiras denunciou um aumento da violência pelas forças israelitas contra palestinianos na Cisjordânia, onde tem verificado um aumento em massa de violência e dos deslocamentos forçados pelas tropas israelitas e colonos ali instalados. Também a Amnistia Internacional alertou, no mesmo dia, que as autoridades israelitas “aumentaram o recurso à detenção administrativa de palestinianos em toda a Cisjordânia ocupada”.

“Esta é uma forma de detenção arbitrária, sem acusação nem julgamento e que pode ser renovada indefinidamente. Além disto, as autoridades do país alargaram as medidas de emergência que facilitam o tratamento desumano e degradante dos prisioneiros e não investigaram casos de tortura e morte sob custódia nas últimas quatro semanas”, sublinha a Amnistia Internacional, em comunicado, no qual refere que, no último mês, as forças israelitas detiveram mais de 2.200 palestinianos.

Uma "ocupação de natureza colonial" na Cisjordânia e em Gaza

Para o historiador Manuel Loff, "o que está a acontecer na Cisjordânia é uma prova da intenção final de Israel", isto é, "a punição coletiva dos palestinianos, a pretexto de um ataque ao Hamas".

Embora o Hamas não controle a Cisjordânia, "existem células do Hamas fora da Faixa de Gaza", nomeadamente "no sul do Líbano e na Cisjordânia", indica à CNN Portugal o major-general Agostinho Costa. Por isso, acrescenta, o conflito entre a o Hamas e Israel "não se limita apenas à Faixa de Gaza".

Ainda assim, independentemente de quem controla a Cisjordânia, "Israel não se tem preocupado muito com isso", diz o especialista militar. "Quando Israel emprega força, emprega independentemente de ser na Faixa de Gaza, no Líbano, etc.", acrescenta.

Estes ataques enquadram-se, por isso, numa "ocupação de natureza colonial", argumenta Manuel Loff. "Numa guerra colonial, os pretextos da potência ocupante podem ser de combate ao terrorismo, mas não são diferentes de qualquer outra guerra colonial", explica o historiador à CNN Portugal.

"Não esqueçamos que todos os colonos israelitas judeus na Cisjordânia, na margem ocidental do Jordão, são colonos armados. Como acontece, aliás, em situações de ocupação colonial", observa Manuel Loff, apontando como exemplo a guerra colonial portuguesa, quando "os portugueses achavam que os movimentos de libertação africanos nas suas colónias eram terroristas", e mesmo a guerra da independência argelina, quando "os franceses achavam que os argelinos eram terroristas":

Neste contexto, continua o historiador, "desde o dia 7 de outubro que os colonatos têm avançado e têm vindo a expulsar população palestiniana das suas casas e das suas terras na Cisjordânia". "Já para não falar de que mais de um milhão de palestinianos que foram expulsos das suas casas, destruídas em Gaza", acrescenta.

Por isso, Manuel Loff não tem dúvidas de que estamos perante uma ocupação de natureza colonial. "Não é que o Estado ocupante se limite a operações antiterroristas para desarticular movimentos terroristas, como o Hamas, neste caso. O que o Estado ocupante tem feito, desde 1967, é ocupar a Cisjordânia e Gaza com colonos", argumenta.

O historiador acredita que os ataques israelitas à Cisjordânia não vão ficar por aqui. "A menos que se trave Israel", assume, apontando o dedo aos Estados Unidos, França e Reino Unido, as três potências ocidentais que têm poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas e que, por serem "aliadas de Israel", continuam a "impedir um cessar-fogo e a condenação de Israel" naquele organismo, argumentando que a Israel tem direito à legítima defesa. 

Mas, de acordo com o historiador, "as potências ocupantes não têm direito à defesa nos mesmos termos de qualquer outras" potências.

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