O antigo presidente dos Estados Unidos Barack Obama partilhou na segunda-feira à noite uma publicação na qual veicula “alguns pensamentos” sobre o atual conflito entre Israel e o Hamas.
Obama começou por reconhecer o direito de Israel se defender após o “horrível ataque” do Hamas do dia 7 de outubro, mas sublinhou que a resposta de Telavive tem de obedecer às regras do direito internacional “para minimizar o número de vítimas civis”.
“Defender estes valores é importante por si só - porque é moralmente justo e reflete a nossa crença no valor inerente de cada vida humana. Defender estes valores é também vital para a construção de alianças e para moldar a opinião internacional - tudo isto é fundamental para a segurança de Israel a longo prazo”, escreveu o ex-líder.
Barack Obama salientou que esta tarefa é “muito difícil”, dado que a guerra “é sempre trágica”, e lembrou as alturas em que os Estados Unidos “ficou aquém dos seus valores mais elevados”, designadamente após o 11 de Setembro, com as guerras lançadas no Médio Oriente.
“Após o massacre sistemático de cidadãos israelitas, um massacre que evoca algumas das memórias mais negras da perseguição contra o povo judeu, é compreensível que muitos israelitas tenham exigido que o seu governo faça tudo o que for preciso para erradicar o Hamas e garantir que tais ataques nunca mais se repitam. (…) No entanto, o mundo está a acompanhar de perto o desenrolar dos acontecimentos na região e qualquer estratégia militar israelita que ignore os custos humanos pode acabar por sair pela culatra”, disse o antigo presidente americano.
Lembrando que já milhares de palestinianos foram mortos pelos ataques israelitas e muitos outros estão deslocados devido ao conflito, e alerta que as ações israelitas de cortar o fornecimento de comida e água podem não só agravar a crise humanitária em Gaza, como também “endurecer as atitudes dos palestinianos durante gerações, corroer o apoio global a Israel e minar os esforços a longo prazo para alcançar a paz e a estabilidade na região”.
Obama elogiou Joe Biden, seu vice-presidente durante os dois mandatos na Casa Branca, pelo papel desempenhado nas negociações para a entrada de ajuda humanitária em Gaza, mas pediu mais.
“Embora as perspetivas de uma paz futura possam parecer mais distantes do que nunca, devemos apelar a todos os principais intervenientes na região para que se envolvam com os líderes e organizações palestinianas que reconhecem o direito de Israel a existir, a fim de começarem a articular uma via exequível para que os palestinianos alcancem as suas legítimas aspirações à autodeterminação - porque essa é a melhor e talvez a única forma de alcançar a paz e a segurança duradouras que a maioria das famílias israelitas e palestinianas anseiam”, escreveu Obama, reconhecendo, porém, que os governos israelitas também concederam pouco aos executivos palestinianos que fizeram concessões para tornar viável a solução dos dois Estados.
Numa altura em que as pessoas estão “compreensivelmente exaltadas”, Obama pede ao mundo para rejeitar o antissemitismo, bem como os sentimentos antimuçulmano, antiárabe ou antipalestiniano.
“Significa recusar-se a associar todos os palestinianos ao Hamas ou a outros grupos terroristas. Significa evitar uma linguagem desumanizante em relação ao povo de Gaza, ou minimizar o sofrimento dos palestinianos - seja em Gaza ou na Cisjordânia - como irrelevante ou ilegítimo”.
“Significa reconhecer que os palestinianos também vivem em territórios disputados há gerações; que muitos deles não só foram deslocados quando Israel foi formado, mas continuam a ser deslocados à força por um movimento de colonos que, com demasiada frequência, tem recebido apoio tácito ou explícito do governo israelita”, completou o ex-chefe de Estado.
Militantes do Hamas realizaram um ataque terrorista sem precedentes em Israel em 7 de outubro, a que se seguiu a retaliação israelita com o cerco total da Faixa de Gaza e bombardeamentos constantes contra o território.
As autoridades israelitas dissertam que os ataques do Hamas mataram mais de 1.400 pessoas e que o grupo palestiniano raptou cerca de 220 israelitas e estrangeiros, que mantém como reféns na Faixa de Gaza.
O Hamas, que governa Gaza desde 2007, disse que os bombardeamentos israelitas mataram mais de cinco mil pessoas, incluindo mais de duas mil crianças.