Organização B'Tselem: "Israel pode defender-se, mas não tem direito a comportar-se como o Hamas" - TVI

Organização B'Tselem: "Israel pode defender-se, mas não tem direito a comportar-se como o Hamas"

A libertação de alguns reféns não chegou para um cessar-fogo permanente entre Israel e os islamistas do Hamas, no poder na Faixa de Gaza. A CNN Portugal falou com Roy Yellim, coordenador de Relações Internacionais da B’Tselem, uma das maiores organizações de defesa dos Direitos Humanos em Israel e nos territórios palestinianos. Yellim diz que o Hamas não tem o direito de invadir território de Israel e raptar civis. Ao mesmo tempo, critica Israel por violar o Direito Internacional e recorda que os bombardeamentos indiscriminados não são aceitáveis num Estado de Direito

Os massacres de 7 de outubro das Brigadas de al-Qassam, o braço armado do Hamas, motivaram das respostas mais violentas do Exército de Israel dos últimos anos. Se o Ocidente – nomeadamente Estados Unidos e União Europeia – se têm posicionado a favor do direito à defesa do Estado de Israel, a comunidade internacional tem mantido Telavive sob uma intensa pressão nas últimas semanas.

A B’Tselem luta pelos direitos humanos em Israel e nos territórios palestinianos ocupados da Cisjordânia, de Gaza e Jerusalém Oriental, onde a Autoridade Palestiniana quer um Estado para os árabes palestinianos, mas cujo reconhecimento pelo Ocidente parece ainda longe.

A organização centra os esforços na documentação do conflito e na ocupação israelita desde 1989 e denuncia o que define como a consolidação de “dois regimes paralelos”. Uma “democracia permanente de um dos lados da Linha Verde” e uma ocupação militar temporária “que se eterniza” do outro lado da Linha Verde. A B’Tselem define a atual ocupação militar israelita como uma situação “divorciada da realidade.”

B’Tselem não hesita em criticar ambos lados

Em entrevista à CNN, o coordenador de Relações Internacionais da B’Tselem condenou sem reservas os ataques do braço armado do Hamas, que definiu como “bárbaros” e uma “clara violação do Direito Internacional.” Roy Yellim disse que os israelitas e estrangeiros raptados pelos islamistas nem deveriam ser considerados reféns, porque foram raptados num momento sem conflito aberto.

Ainda assim, Roy Yellim não duvida em pôr em causa a resposta de Israel das últimas semanas:

“Acreditamos que o que Israel tem feito é uma política criminosa”, disse Roy Yellim à CNN Portugal.

“Israel tem o direito e o dever de proteger os seus cidadãos, mas nem tudo é aceitável”, continuou.

Yellim disse à CNN Portugal que Israel, mesmo sob ataque, é um Estado soberano como outro qualquer e que a B’Tselem acredita na necessidade de que o país obedeça às regras da guerra.

“Pensamos que os bombardeamentos israelitas de estruturas residenciais e civis em Gaza é desproporcional.”

“Um inverno duro em Gaza”

Várias organizações no terreno continuam a insistir na urgência da ajuda humanitária a Gaza. A B’Tselem não é exceção. A organização israelita aponta para um “inverno muito duro” para os palestinianos deslocados e refugiados na Faixa de Gaza. Roy Yellim define a situação atual como “um caos humanitário.”

“Agora, no inverno, as pessoas não têm abrigo. Faltam medicamentos, falta comida, falta água e, claro, as condições de saúde não são particularmente boas."

“A maior transferência forçada de palestinianos desde 1967”

A CNN Portugal questionou Roy Yellim sobre a perceção da sociedade israelita dos ataques levados a cabo pelo exército em Gaza. O trabalhador humanitário diz que “as pessoas vão perdendo a humanidade e a compaixão e a capacidade de verem o que se passa do outro lado”.

Ainda assim, acrescenta Yellim, “muita gente consegue entender o grande sofrimento humano que está a ser causado em Gaza”.

Mas a B’Tselem diz que, enquanto o mundo tem os olhos postos em Gaza, o agravamento do conflito na Cisjordânia não deve ser esquecido. Yellim alerta para o que descreve como “uma onda de violência sem precedentes dos colonos israelitas no território”.

Uma violência “que tem o intuito de forçar a deslocação dos palestinianos em várias áreas onde Israel quer ficar com as terras deles”, diz Roy Yellim. “Podemos dizer que esta é a maior transferência forçada de palestinianos desde 1967 naquelas áreas.” Na semana da entrevista com a CNN Portugal, Roy Yellim diz que a B’Tselem documentou como pelo menos 16 povoações ficaram desertas de forma permanente. “Decidiram que a violência era demasiado grave para ficarem” diz Yellim.

A Transferência forçada de palestinianos nos territórios ocupados pode constituir um crime de guerra, à luz do Direito Internacional. Uma possibilidade que várias organizações para a defesa dos Direitos Humanos dizem ser uma possibilidade, não só na Faixa de Gaza, mas também na Cisjordânia.

Em mais de 30 anos de trabalho, a B’Tselem tem vindo a conquistar um reconhecimento a nível internacional entre as organizações de defesa dos Direitos Humanos. A organização venceu vários prémios, incluindo na Suécia, Dinamarca, em França e nos Estados Unidos.

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