Quando ouvem as sirenes, João Mogadouro, de 35 anos, a mulher e os cinco filhos têm 1,5 minutos para se colocarem em segurança no bunker que existe na casa onde vivem em Israel. Mas o medo de um dia não chegarem a tempo, levou o casal a tomar medidas imediatas. “Os meus filhos são ainda todos muito pequenos – têm 2, 4, 6, 8 e 10 anos. E por isso era complicado de noite levar tudo e todos para o bunker em tão pouco tempo”. Assim João, um português que dá aulas de arquitetura na Universidade de Telavive, agarrou em três colchões e colocou-os ali naquele espaço, onde as crianças passam agora a noite toda. Estão no meio da guerra santa e não há sinais de que vá abrandar nos próximos dias.
Nas primeiras horas após o ataque do Hamas, João não conseguiu desmontar o berço do filho mais novo de 2 anos, que teve de ficar inicialmente do lado de fora, com ele e a mulher Tzli. “O meu filho mais velho não parava de chorar por ver que o irmão não estava com eles lá no bunker”. Entretanto já estão todos juntos naquela zona de segurança, pelo menos à noite. “Agora tenho os meus cinco filhos a dormir no bunker”.
Desde que o Hamas lançou um ataque surpresa contra Israel que João, a mulher os e os filhos estão fechados em casa, num apartamento numa zona que fica a 18 quilómetros da capital – a 20 ou 30 minutos de carro. No seu condomínio, como na maioria dos prédios mais modernos de Israel, há bunkers dentro de casa. É chamado de espaço de segurança habitacional, explica. “No meu caso aproveitei e montei aí o meu escritório”.
É uma divisão normal, mas com características próprias: tem uma porta metálica reforçada, vários tubos de ventilação e uma janela especial com vidro que não estilhaça e uma placa de metal que protege contra os rockets. “Tem eletricidade, mas não tem casa de banho”, acrescenta o professor universitário. É para esse espaço de 9 metros quadrados que João e a família fogem quando de dia toca a sirene em Israel. “As vezes até ponho programas cómicos, como os apanhados, para aliviar o stress”, relata João.
Aqueles dez minutos de recolhimento obrigatório depois do toque da sirene são sempre de medo e desconforto. Quando termina o som da sirene que dura alguns segundos, ouve-se, então o som das bombas. “É uma situação muito stressante”. Por isso, nunca podem ficar em silêncio para distrair os filhos. “Falamos do que vamos fazer ou de outro assunto qualquer, mas nunca podemos ficar calados“. Por estarem mais longe da Faixa de Gaza, a zona mais intensa neste conflito, podem passar algumas horas do dia noutras zonas da casa. “Mas quem vive mais perto de Gaza tem de viver o dia todo no bunker”, afirma João, que usa uma aplicação no telemóvel para ser alertado para os momentos em que durante a noite tem de se juntar aos filhos no quarto de segurança.
João vive em Israel há 10 anos, desde que se casou com Tzlil, uma israelita investigadora da área de neurociência e ainda programadora que conheceu Portugal. Apesar de sublinhar que já tinham passado por situações semelhantes, o português reconhece que desta vez está a ser diferente. “Em regra fala-se de um, dois mortos. Agora são mil”. Para este professor universitário, o atual ataque veio beliscar a sensação de segurança que ele e a família viviam. E nem dos filhos é possível esconder o que se está a passar naquela região. "Eles ouvem as bombas. Tivemos de lhes explicar que estamos a ser atacados e que há umas pessoas que nos querem assustar. É impossível não contar a verdade".