Não é só a Ucrânia. Estes 12 países também vivem em guerras sem fim à vista - TVI

Não é só a Ucrânia. Estes 12 países também vivem em guerras sem fim à vista

Homens seguram lança-foguetes nas ruas de Mogadíscio, capital da Somália. Foto: Str/AFP via Getty Images

A guerra na Ucrânia não é a única crise que o mundo enfrenta. Nos diferentes continentes, outros conflitos geram, continuamente, escaladas de violência e mortes. A lista é extensa e preocupante. Uma das mais devastadoras crises globais neste momento é a que ocorre na Síria, há quase uma década, um conflito que já matou e desalojou centenas de milhares. Também em África, na República Democrática do Congo, no Mali e em Moçambique, há combates que duram há vários anos. O mesmo se aplica na Ásia, na região de Caxemira e do Afeganistão.

Índia e Paquistão

Em Caxemira, nos Himalaias, é travada uma luta territorial há várias décadas entre a Índia e o Paquistão. A predominância de separatistas muçulmanos e a reserva de água que desce dos glaciares deram origem a quatro guerras em 1947, 1965, 1971 e 1999, mas a tensão militar prevalece.

O conflito teve início em agosto de 1947, quando o subcontinente indiano, que estava sob o domínio colonial do império da Grã-Bretanha conquistou a sua independência e foi repartido em duas partes. De um lado, a Índia. Do outro, o Paquistão, na altura dividido entre Paquistão Oriental – hoje, Bangladesh – e o Paquistão Ocidental.

Desde então, a região Caxemira é partilhada pelos dois países. O Paquistão administra 35% do território, chamando-lhe “Caxemira Livre” (Azad Kasmir), enquanto a Índia integra 45%. Esta parte, “Jamu e Caxemira”, é alvo de cobiça por parte dos paquistaneses e da China, que hoje também domina 20% da região (Aksai Chin). O problema é que tanto a Índia, como o Paquistão, possuem centenas de armas nucleares capazes de desencadear uma guerra com um impacto devastador a nível mundial.

Há estimativas que apontam para dezenas de milhares de mortes, desde o início do conflito. No entanto, esses dados são muitas vezes contestados, sendo que algumas fontes sugerem que o número possa ser ainda maior.

De acordo com a ONU, existem atualmente cerca de 200 mil refugiados na região de Caxemira, que incluem pessoas deslocadas internamente devido a conflitos armados, bem como aqueles que fugiram para o Paquistão ou outras áreas da Índia em busca de segurança.

Grupo de guerrilheiros separatistas pró-Paquistão, Hizbul Mujahideen. Foto: Robert Nickelsberg via Getty Images

Palestina

A migração judaica na Palestina aumentou significativamente em meados do século XIX e manteve-se durante a administração da Grã-Bretanha, já após a Primeira Guerra Mundial. Contudo, foi fortemente contestada pelos árabes, que temiam perder as suas terras e a sua identidade cultural e religiosa.

Em 1947, a Organização das Nações Unidas aprovou a implementação de um plano para a partilha da Palestina. A “Resolução 181” visava a sua separação em dois estados: um judeu e outro árabe. Jerusalém passaria a “corpus separatum”, uma cidade gerida internacionalmente com um estatuto especial.

O Estado de Israel foi estabelecido um ano depois, desencadeando uma guerra com os países árabes vizinhos que terminou na vitória judaica, e na expulsão de centenas de milhares de palestinianos das suas casas.

Desde então, o conflito tem sido marcado por uma série de guerras, ataques terroristas e manifestações violentas, com ambas as partes a reivindicar o seu direito à terra e à autodeterminação. A situação foi agravada com o bloqueio económico e comercial da Faixa de Gaza por parte do Egito e Israel, depois do Hamas – movimento de resistência islâmica – ter assumido o poder daquela parte do território, de onde dois milhões de pessoas não conseguem sair.

De acordo a OCHA (Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários), entre 2008 e 2020, 5600 palestinianos e 250 israelitas foram mortos na sequência dos confrontos.

Já a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina, diz que existem atualmente cerca de 5,9 milhões de refugiados palestinianos em todo o mundo. Inclui aqueles que foram deslocados em 1948, bem como nos eventos posteriores, que agora vivem em campos de refugiados nos países vizinhos, como a Jordânia, o Líbano e a Síria.

Um manifestante palestino é atingido, enquanto atira pedras a soldados israelitas durante confrontos na rua. Foto: Wendy Sue Lamm/AFP via Getty Images

Somália

Um conflito armado arrasta-se na Somália desde 1991, ano em que o país entrou numa guerra civil aquando da queda do ditador militar Mohamed Siad Barre. O país entrou num período de anarquia e caos, com vários grupos militares em disputa pelo seu controlo, fragmentando-o em diferentes regiões autónomas.

A situação piorou em 1992, quando o governo norte-americano levou a cabo uma missão a nível internacional, para entregar ajuda humanitária e estabilizar a situação no território. Mas os confrontos com os movimentos militares geraram inúmeras perdas.

Desde então, a Somália tem sido palco de uma série de disputas entre milícias e grupos islâmicos radicais, como o Al-Shabaab, que controla grande parte do sul e do centro. Também conhecido como Movimento de Resistência Popular na Terra das Duas Migrações, é afiliado à rede Al-Qaeda.

A pobreza extrema, a falta de recursos naturais, a instabilidade política e a corrupção são fatores que ainda afetam fortemente o país.


A Statista, uma plataforma alemã de estatísticas com base em dados da ONU, divulgou em junho de 2022 um estudo que afirmava que pelo menos 7126 civis tinham sido mortos em conflitos na Somália entre 2007 e 2019.

Além disso, a violência tem causado um grande número de refugiados e deslocados internos. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os refugiados aponta para quase três milhões, que foram forçados a deixar as suas casas, mas permanecem dentro das fronteiras do país.

Até outubro de 2022, havia quase 900 mil refugiados somalis em países vizinhos, como o Quénia, a Etiópia e o Iémen.

Homens seguram lança-foguetes nas ruas de Mogadíscio, capital da Somália. Foto: Str/AFP via Getty Images

Síria

Uma onda revolucionária que ficou conhecida como “Primavera Árabe”, derrubou líderes autocráticos em vários países do Médio Oriente e do Norte de África. Na Síria, no entanto, este movimento enfrentou uma repressão violenta por parte do governo de Bashar al-Assad, em 2011.

A guerra civil acabou por atingir gravemente o país, até à atualidade, estimando-se que já tenha matado mais de 306 mil pessoas até junho de 2022.

É que, para além do governo sírio, existem grupos extremistas que lutam contra o Estado e entre si, incluindo a Frente al-Nusra e o autoproclamado Estado Islâmico.

Neste sentido, a luta pelo poder deixou de ser o único objetivo, envolvendo também motivações religiosas e sectárias. O conflito também chamou a atenção de potências internacionais como a Rússia, bem como o Irão e a Turquia.

Várias tentativas de paz foram feitas por organizações internacionais, nomeadamente a ONU, que descreve a situação como um “tsunami lento” e um “abismo de desconfiança”. Até agora, não surgiu nenhuma solução a longo prazo. O futuro da Síria permanece incerto e a recuperação do país é um desafio, após mais de uma década de guerra.

Esta tornou-se uma das piores crises humanitárias do mundo, com mais de 6,6 milhões de refugiados e mais 6,9 milhões de deslocados internos, até novembro de 2022. Somando a destruição de infraestruturas e serviços básicos, como hospitais, escolas e redes de água e saneamento.

Mísseis de defesa aérea sobrevoam Damasco, na SÍria. Foto: Hassan Ammar, File via AP Photo

Mali

Em 2012, o Movimento Nacional de Libertação do Azauade – um grupo separatista tuaregue que busca a independência do norte do Mali - deu início a uma insurgência no país predominantemente muçulmano. Foi imediatamente ultrapassado por grupos extremistas islâmicos, incluindo a Al-Qaeda no Magrebe Islâmico e o Ansar Dine, que impuseram uma interpretação rigorosa da lei islâmica na área sob o seu domínio.

A crise no Mali foi agravada pela queda do regime líbio liderado por Muammar Al-Khadafi, em 2011, que resultou no retorno de tuaregues que tinham servido no seu exército. Trouxeram consigo armas e experiência em combate, o que fortaleceu a insurgência no território.

Em 2013, as forças francesas intervieram militarmente no conflito, com o objetivo de restaurar a ordem e combater os grupos islâmicos. Desde então, membros da ONU estão no país a procurar estabilizar a situação e facilitar o diálogo político.

Embora haja esperança de uma solução para esta guerra, o Mali permanece instável e enfrenta vários desafios, entre eles a presença contínua de extremistas e a pobreza generalizada.

A Armed Conflict Location & Event Data Project (ACLED), organização que monitoriza conflitos em todo o mundo, aponta para mais de 16 mil mortes resultantes dos conflitos país, desde 2012.

A violência também tem levado a que centenas de milhares de pessoas fugissem da região. Os países vizinhos que acolhem o maior número de refugiados do Mali são Burkina Faso, Níger e Mauritânia. O ACNUR diz que, no final de 2020, mais de 333 mil pessoas tinham abandonado as suas casas. Desde 2013, 85 mil refugiados regressaram ao país.

Tropas francesas chegam a Bamako, capital de Mali, em carros blindados. Foto: Jerome Delay, File via AP Photo

República Centro-Africana

A coligação Seleka CPSK-CPJP-UFDR - constituída por grupos rebeldes de religião muçulmana - derrubou o governo do presidente François Bozizé, em 2012, assumindo o poder do território. Michel Djotodia tornou-se, então, o primeiro líder muçulmano do país. Uma vez que a população da República Centro-Africana é maioritariamente cristã, uma onda de violência foi instaurada por milícias desta ordem religiosa, para combater o Seleka. Entre elas, o Anti-Balaka.

A guerra na República Centro-Africana resultou numa das piores crises humanitárias do mundo, proveniente do seu longo histórico de instabilidade política, corrupção e pobreza. Milhares de pessoas foram mortas e mais de 2,2 milhões foram deslocadas internamente ou refugiaram-se nos países vizinhos.

Em 2013, a França deu início a uma intervenção militar com o apoio da União Africana - organização que visa promover a integração entre países do continente africano - que foi crucial para pôr fim ao regime do Seleka. Um ano depois, a ONU executou uma missão de paz, para proteger os civis e apoiar o processo de reconciliação. 

Segundo a ACLED, entre Janeiro de 2018 e agosto de 2021, houve mais de cinco mil mortes confirmadas no país.

O ACNUR indica que, em novembro de 2022, havia mais de 744 mil refugiados e requerentes de asilo pelo mundo, e 509 mil deslocados na República Centro-Africana.

Um cristão persegue com uma faca um homem suspeito de ser um membro da Seleka, vestido à civil. Foto: Jerome Delay, File via AP Photo

Iémen

A guerra no Iémen é um conflito armado em andamento que começou em 2014, quando rebeldes Houthis, apoiados pelo Irão, tomaram a capital Sanaa, e depuseram o presidente Abd Rabbuh Mansur Al-Hadi. Houve uma escalada em março de 2015, quando uma coligação liderada pela Arábia Saudita interveio militarmente para restaurar o governo de Hadi.

Para além da luta pelo poder entre os Houthis e o governo de Hadi, a guerra também teve origem em questões económicas e políticas, tensões religiosas entre sunitas e xiitas, e rivalidades territoriais entre a Arábia Saudita e o Irão.

A intervenção militar liderada pela Arábia Saudita foi amplamente criticada por causar a morte de civis e agravar a vida da população, que já era um dos países mais pobres do Médio Oriente, marcado pela fome e doenças. De acordo com a ONU, o Iémen é atualmente a pior crise humanitária do mundo, com quatro milhões de iemenitas forçados a fugir das suas casas, sendo 79% mulheres e crianças.

Em 2018, foram negociadas tréguas, mas a violência continuou em várias partes do país.

De acordo com um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, publicado em 2021, o conflito no Iémen contabilizava cerca de 377 mil mortes no final desse ano, sendo que quase 60% estavam associados a falta de acesso a alimentos, água e cuidados de saúde.

Se os confrontos se mantiverem até 2030, a ONU prevê que cerca de 1,3 milhões de pessoas morrerão, sendo que uma grande percentagem corresponde a crianças com menos de cinco anos.

Um grupo de pessoas reúne-se num local atingido por um ataque aéreo liderado pela Arábia Saudita, em Sana, no Iémen.  Foto: Hani Mohammed via AP Photo

Moçambique

A guerra em Moçambique remonta a um conflito armado que teve início em 2017, na província de Cabo Delgado, no norte do país. A luta é travada entre as forças governamentais e uma milícia islâmica, que reivindica lealdade ao Estado Islâmico.

Os rebeldes, que são predominantemente muçulmanos e marginalizados social e economicamente, têm como alvo aldeias, vilas e cidades em Cabo Delgado, atacando civis e infraestruturas, incluindo escolas, hospitais e instalações de energia. Sequestros, assassinatos e mutilações estão entre os crimes que levaram vários civis a fugir do território.

A região de Cabo Delgado é rica em recursos naturais, incluindo gás natural e pedras preciosas, mas tem sido negligenciada pelo governo, resultando em altos níveis de pobreza e exclusão social. Além disso, a região tem uma longa história de marginalização e discriminação de comunidades muçulmanas.

A União Africana, a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral e outras organizações regionais têm tentado mediar o conflito e promover o diálogo entre as partes. Em julho de 2021, o governo moçambicano pediu a ajuda militar de países vizinhos, incluindo Ruanda e África do Sul, para ajudar a combater a insurreição.

Através do ACNUR, sabe-se que, em dezembro de 2021, mais de 744 mil pessoas tinham sido deslocadas internamente devido ao conflito na província de Cabo Delgado. Além disso, cerca de 58 mil fugiram para países vizinhos, incluindo o Malawi, a Tanzânia e o Zimbabué, em busca de segurança e proteção.

O ACLED estima que mais de três mil pessoas tenham sido mortas no conflito até outubro de 2021.

Um soldado moçambicano em cima de um veículo blindado, em Cabo Delgado. Foto: Marc Hoogsteyns via AP Photo

Etiópia

Em novembro de 2020, na região de Tigray, no norte da Etiópia, o partido político que dominava o território – Frente de Libertação Popular do Tigray (TLPF) – viu-se inserido numa disputa crescente com o governo federal, liderado pelo primeiro-ministro Abiy Ahmed desde 2018. Dois meses antes, a TPLF tinha realizado uma eleição regional, que foi declarada ilegal pelo governante, uma vez que este tinha decidido adiá-la por causa da pandemia.

O conflito tem vindo a ser marcado por intensos confrontos entre as forças etíopes e as forças do Tigray, incluindo milícias regionais e tropas eritreias, que foram acusadas de envolvimento nos combates.

Relatos de homicídios em massa, violações e deslocamento forçado de civis colocam as organizações humanitárias a braços com desafios preocupantes. O conflito tem implicações profundas para a estabilidade da Etiópia e da região do Corno de África, com o potencial de se espalhar para outras partes do país e arredores. O último balanço das Nações Unidas indica quatro milhões de deslocados, mais de 145 mil refugiados e perto de 135 mil requerentes de asilo.

Na segunda metade de 2021, a ACLED registou 3200 mortos na expansão do combate para Amhara e Afar. Mas estima-se que o número de vítimas possa ser bastante maior.

Um combatente da Frente Popular da Libertação do Tigré, a fumar um cigarro, enquanto caminha pela cidade. Foto: Ben Curtis, File via AP Photo

República Democrática do Congo

O conflito mais recente neste país começou em 1996, quando o líder rebelde Laurent-Désiré Kabila encabeçou uma revolução contra o governo do presidente Mobutu Sese Seko. Em 1997, Kabila tomou o poder e tornou-se ele presidente, mas enfrentou resistência de grupos rebeldes apoiados por países vizinhos, incluindo Ruanda e Uganda.

Em 1998, os exércitos de Ruanda e Uganda invadiram a República Democrática do Congo (RDC) para remover Kabila do poder. Foram posteriormente apoiados por outros países, incluindo Burundi, Chade, Sudão e Angola. O conflito resultante envolveu várias milícias e grupos rebeldes, que lutavam pelo controlo de partes do país, enquanto os civis eram frequentemente vítimas de massacres, violência sexual e outras atrocidades.

Em 2003, um acordo de paz foi assinado, mas a violência continuou, especialmente nas áreas ricas em recursos minerais, onde os grupos armados disputavam o seu domínio. Os diamantes, ouro, cobre e coltan são amplamente extraídos na região leste do país.

Apesar dos esforços internacionais para resolver o conflito, a instabilidade e a violência continuam na RDC, especialmente nas províncias do leste do país. A guerra também tem sido alimentada por uma combinação de tensões étnicas e intervenções de forças estrangeiras e rebeldes. A situação humanitária na RDC é muito frágil, com milhões de pessoas a viver em condições de pobreza extrema. Centenas de milhares fugiram para Angola, Zâmbia e outros países vizinhos.

De acordo com o balanço de 2020 da Agência da ONU para os refugiados, há mais de cinco milhões de deslocados internos e mais de 918 mil refugiados a solicitar asilo, abrigados em países africanos.

Grupos armados desvinculados do Estado e forças governamentais mataram pelos menos 1300 civis em diferentes conflitos, entre outubro de 2019 e junho de 2020. Outras centenas foram mortas na segunda metade do ano.

Soldados do governo a patrulhar as ruas de Kinshasa. Foto: Patrick Robert/Sygma/CORBIS/Sygma via Getty Images

Birmânia

Um golpe militar na Birmânia, no sudeste asiático, ocorreu a 1 de fevereiro de 2021, quando o exército do país, liderado pelo general Min Aung Hlaing, assumiu o controlo do governo e deteve a líder eleita democraticamente, Aung San Suu Kyi, juntamente com outros líderes políticos.

O exército justificou o golpe, alegando fraude eleitoral nas eleições de novembro de 2020, que foram vencidas por uma grande margem pelo partido político liderado por Suu Kyi, a Liga Nacional para a Democracia.

Por consequência, vários protestos em massa têm vindo a acontecer em todo o país, com a população a exigir o retorno do governo civil e a libertação dos líderes políticos detidos. O exército reprimiu violentamente os protestos com força letal, detendo milhares de manifestantes.

Este mês, a Assistance Association for Political Prisoners (AAPP) apontou 3033 mortes confirmadas desde o golpe militar, incluindo civis, manifestantes pacíficos, estudantes e trabalhadores da área da Sáude. Ainda assim, muitas não são registadas devido à repressão militar. Esta organização independente fundada por ex-prisioneiros políticos diz ainda que há, até ao momento, 19 866 pessoas detidas.

Mas, para perceber o conflito na Birmânia, é necessário recuar até 1948, quando o país se tornou independente do domínio colonial britânico. Inúmeras disputas foram motivadas ao longo dos anos por fatores territoriais, controlo de recursos naturais, questões políticas e religiosas, assim como discriminação contra minorias étnicas. Os grupos étnicos mais proeminentes envolvidos na guerra são os Kachin, Shan, Karen e Rohingya.

Os conflitos no Arracão, onde a maioria de cidadãos Rohingya vive, intensificaram-se em 2017, quando as forças de segurança birmanesas lançaram uma campanha militar que forçou centenas de milhares de cidadãos a fugirem para o Bangladesh. As autoridades foram acusadas de violar os direitos humanos através de assassinatos, violações em massa e destruição de aldeias inteiras daquele grupo étnico.

Suu Kyi foi acusada por muitos de não fazer o suficiente para proteger os Rohingya, e o golpe militar e a sua detenção podem ter agravado ainda mais a crise.

Um estudo das Nações Unidas indica que, desde 1 de fevereiro de 2021, 1,2 milhões de pessoas permanecem deslocadas internamente. Fora da Birmânia havia pelo menos 930 mil refugiados birmaneses no Bangladesh, em junho de 2022. Este é o país que acolhe o maior número.

Manifestantes usam extintores para conter o impacto do gás lacrimogéneo disparado pela polícia, em Mandalay. Foto: File via AP Photo

Afeganistão

Muitos se recordam da data 11 de setembro de 2001, quando os EUA foram alvo de vários ataques terroristas realizados por membros da Al-Qaeda. Uma vez que o grupo estava abrigado pelo regime talibã, que na época governava o Afeganistão, deu origem a um conflito armado neste país.

Como resposta aos atentados, os EUA lideraram uma coligação internacional, a partir de outubro de 2001, que derrubou rapidamente o regime talibã. Mas a guerra não terminou por ali. A insurgência dos que foram derrotados, a presença da Al-Qaeda e o Estado Islâmico, assim como questões políticas e étnicas, refletiram-se em grandes índices de violência e violações dos direitos humanos. 

Ao longo dos anos, as forças lideradas pelos EUA foram reduzindo a sua presença no país e transferindo a responsabilidade e a segurança deste para as forças afegãs, com o objetivo de estabelecer um governo estável e democrático.

Completaram a retirada das suas tropas em 2021, mas os talibãs tomaram Cabul a 15 de agosto e, por fim, o governo. Milhares de pessoas correram imediatamente até ao Aeroporto Internacional Hamid Karzai, para fugir.

Ainda assim, muitos que ficaram não desistiram de manifestar a sua revolta, mas dificilmente viram as suas liberdades preservadas. A Frente Nacional de Resistência e o Estado Islâmico também fazem frente aos talibãs, tendo sido os responsáveis por quase duas centenas de ataques no final daquele ano.

Estimativas da Universidade de Watson sugerem que cerca de 157 mil pessoas morreram entre 2001 e 2019, incluindo militares estrangeiros, membros das forças de segurança afegãs, militares talibãs, e outros grupos armados e civis.

Segundo o ACNUR, em dezembro de 2021 havia cerca de 3,5 milhões deslocados internamente e 2,6 milhões de refugiados nos países vizinhos, nomeadamente o Paquistão, o Irão e a Turquia.

Um polícia afegão carrega um homem ferido após um ataque em Cabul, no Afeganistão. Foto: Gemunu Amarasinghe via AP Photo

 

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