A ilha das Serpentes tornou-se "um inferno" para os russos. Retirada "foi uma vitória tática da Ucrânia" (e a NATO ajudou) - TVI

A ilha das Serpentes tornou-se "um inferno" para os russos. Retirada "foi uma vitória tática da Ucrânia" (e a NATO ajudou)

Ilha das Serpentes (Maxar)

A Rússia anunciou a retirada da ilha das Serpentes, um local que é pouco mais do que um rochedo mas que ganhou fama desde o início da guerra - e não apenas pela importância estratégica

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A Rússia anunciou a retirada da ilha das Serpentes, um local que é pouco mais do que um rochedo, mas que ganhou fama desde o início da guerra, e não apenas pela importância estratégica. Foi ali que, logo no primeiro dia de guerra, um conjunto de 13 fuzileiros e guardas fronteiriços resistiram a um ataque russo.

Desde então, a ilha, que fica a cerca de 34 quilómetros da costa, ganhou uma dimensão também simbólica, sendo que em Kiev até se chegou a comercializar merchandising sobre o referido episódio. Esta quinta-feira, a Rússia anunciou a retirada da ilha, como um "gesto de boa-vontade”.

O major-general Agostinho Costa não acredita nesta versão, explicando à CNN Portugal que o que o exército russo quis fazer foi “não perder a face”, não admitindo assim uma derrota, ao mesmo tempo que procurou capitalizar uma suposta boa-ação, que seria a libertação das águas para navegação de barcos que transportam produtos alimentares.

“Este argumento russo serve meramente para não assumirem que não tinham condições para manter a ilha”, afirma, dizendo que esta “é uma vitória tática clara da Ucrânia”.

Segundo o militar, dificilmente alguma unidade se poderá instalar naquela ilha, que Agostinho Costa compara à ilha da Berleng: “É um espaço muito pequeno, e tudo o que é ali colocado fica a descoberto”. Por isso mesmo, o especialista entende que nenhum dos lados deve fazer movimentações no sentido de tomar a ilha nos próximos tempos.

“Qualquer tentativa de ocupação levará a um ataque sistemático por parte da outra parte”, refere.

E é por isso que ambas as partes deverão ficar atentas ao local, mas sem o ocuparem. Apesar do tamanho diminuto, o facto de se colocar no meio do Mar Negro, perto da costa do importante porto de Odessa, permite gerir a forma como são colocadas as frotas naquela zona.

Ajuda do Ocidente na retirada russa

Agostinho Costa afirma que a retirada russa só aconteceu agora porque só nesta altura é que a Ucrânia teve os meios adequados para atingir a ilha através de terra, nomeadamente de Odessa, uma das cidades que a Rússia está mais empenhada em conquistar.

O major-general refere-se à chegada de armas do Ocidente, incluindo de países da NATO, apontando que as tropas ucranianas em Odessa receberam sistemas de armas com “muito maior alcance”, como a artilharia francesa de 155 milímetros, que permite atingir a ilha a partir da costa.

Além disso, a Ucrânia tem também ao dispor os mísseis Trident, também enviados pela NATO: “Em resultado disso, a Ucrânia fez sucessivos ataques com meios de artilharia, de fogo, mas também com ataques aéreos, ao ponto de tornar a ilha num inferno para quem lá está”.

Os mísseis Trident são utilizados maioritariamente pelas tropas dos Estados Unidos e do Reino Unido, que enviaram essas armas para a Ucrânia.

Uma “fixação ucraniana” e o que se segue

O major-general entende que a ilha das Serpentes é “uma fixação ucraniana”, naquilo que admite poder ser um erro estratégico por parte das Forças Armadas da Ucrânia, que “desde o princípio têm insistido em tirar os russos dali”.

“É uma vitória que saiu bastante cara aos ucranianos”, acrescenta, apontando que o exército ucraniano perdeu vários meios, nomeadamente aéreos e navais, mas também humanos, uma vez que “há muita gente que já não volta viva para casa”.

Sabendo disso, e da dificuldade de manter o território, Agostinho Costa afirma que dificilmente a Ucrânia irá avançar para uma ocupação da ilha: "O mar também se controla a partir da terra", lembra o militar.

O major-general não vê que esta retirada russa signifique algo de relevante para a guerra, além da questão estratégica na zona e do simbolismo. Para Agostinho Costa, o objetivo russo mantém-se inalterado, e o que pode acontecer é um intensificar dos ataques a Odessa (esta quinta-feira, um deles fez pelo menos 19 mortos), importante cidade portuária cuja conquista permitiria dar um passo decisivo no objetivo de ligar o território russo à Transnístria, província separatista pró-russa que fica na Moldova.

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