A oficina secreta que transforma tanques russos destruídos em tanques ucranianos modernos - TVI

A oficina secreta que transforma tanques russos destruídos em tanques ucranianos modernos

Tropas russas (GettyImages)

A localização, bem como o nome, são secretos. Apesar de todo o esforço por parte dos membros da NATO em fornecer carros de combate à Ucrânia, a Rússia acaba por ser, e ainda por alguma margem, o maior dador

Muito se tem falado sobre a necessidade de o Ocidente enviar carros de combate para a Ucrânia: Leopards, Challengers, Abrams, Leclerc. Mas parece que o maior fornecedor, ainda que sem intenção, é a Rússia. O The Guardian visitou uma oficina que transforma tanques russos em tanques ucranianos. O primeiro passo, explicou Anatony, de 44 anos, é limpar ou tapar o Z, a letra que tem sido utilizada pelas forças de Moscovo durante a guerra

A localização, bem como o nome, são secretos e o armazém onde esta oficina funciona podia ser facilmente confundido com um 'cemitério de tanques'. Apesar de todo o esforço por parte dos membros da NATO em fornecer tanques à Ucrânia, a Rússia acaba por ser, e ainda por alguma margem, o maior doador. Segundo o Guardian, que cita dados do Oryx - um site independente holandês que contabiliza todo o equipamento militar perdido de ambos os lados neste conflito -, já foram capturados pelo menos 546 tanques russos. 

A tarefa nem sempre é fácil, porque a verdade é que estes tanques são retirados no meio de um campo de batalha. Chegam danificados, deformados e muitas vezes com o sistema de disparo estragado. São levados até esta oficina por brigadas ucranianas que estão na linha da frente da guerra e, muitas vezes, trazem ainda restos mortais no interior. Mas essa não é a preocupação de quem ali trabalha. Questionado se tinham morrido russos num tanque de origem soviética T-72 que ali estava por reparar, Anatony respondeu: "Não sei, acho que sim. Havia braços e pernas lá dentro. E muito sangue". Quando regressam ao campo de batalha, estes tanques vão como uma nova blindagem e com a bandeira da Ucrânia.

O financiamento é assegurado por doações de fundações e de empresas privadas que colocaram de parte os seus negócios e decidiram dedicar-se à reconstrução de máquinas de guerra: tanques, veículos blindados, sistemas de mísseis e qualquer outro equipamento militar que tenha sido deixado para trás no teatro de operações.

Até agora, esta oficina já conseguiu colocar sete tanques de volta ao combate, um veículo que é utilizado como posto de comando móvel, um sistema de foguetes múltiplos e vários veículos blindados. O destino é escolhido entre a lista de pontos mais mortíferos da Ucrânia, nomeadamente Bakhmut, Kramatorsk, Lugansk e Svatove. Foi na região de Kharkiv, depois da libertação, em maio do ano passado, que se realizou a maior "caça ao tesouro" do campo de batalha. Vencidos pelo medo e o pânico, as tropas russas deixaram muito material militar para trás: "Era como se estivéssemos a entrar numa loja enorme onde podíamos dizer 'vou querer este e este'", contou Bohdan Ostapchuk, de 30 anos. O mesmo erro não foi repetido em Kherson na altura do Natal. 

Apesar do espírito de missão que move estes 30 a 50 trabalhadores, esta oficina não deixa de ser um local difícil de se trabalhar. Além das condições, existe a ameaça iminente de serem identificados e destruídos pelo inimigo. Ainda assim, trabalham a qualquer hora, sete dias por semana entre peças de metal, motores, pneus, cabos e muito fumo. 
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