Os responsáveis do jardim zoológico chegaram ao local por volta das seis horas da madrugada, mas já era tarde demais. Quatro horas antes, a explosão nas comportas da barragem de Nova Kakhovka fez com que a água subisse de forma repentina e não desse qualquer hipótese aos animais que se encontravam presos no zoo. Mais de 300 morreram.
“Apenas alguns cisnes e patos sobreviveram. Um pequeno filhote do cisne, nascido há apenas cinco dias, também morreu”, escrevem os responsáveis da instituição, que fica a apenas 800 metros da barragem, numa publicação no Facebook.
A lista de vítimas foi longa. Desde macacos, um urso, um pónei, guaxinins, cabras, ovelhas ou porquinhos-da-índia, todos perderam a vida afogados. Nem mesmo os papagaios e os corvos escaparam, por estarem dentro de gaiolas.
Durante mais de um ano de guerra, os funcionários do parque tentaram salvar os animais, mas sem sucesso. Segundo as autoridades de Kiev, o parque tinha sido minado pelos militares do exército russo, incluindo as suas entradas. Quase todas as estradas estavam bloqueadas. Cercado, na linha da frente e sem visitantes, o parque foi sobrevivendo da generosidade de empresários locais e agricultores, que traziam alimentos e dinheiro que permitiram a sobrevivência dos animais.
Este não é o primeiro exemplo de graves efeitos ambientais da destruição parcial da barragem. Imagens partilhadas pelo chefe de gabinete do presidente ucraniano mostram milhares de peixes presos em terra, apanhados pela drástica descida dos níveis da água.
Os líderes ucranianos estão a descrever a situação como um verdadeiro “ecocídio”. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusa a Rússia de estar por detrás da explosão e afirma que Moscovo está em guerra “contra a vida, contra a natureza e contra a civilização”.
"A Rússia fez explodir uma bomba, provocando danos ambientais maciços. Trata-se da maior catástrofe ambiental provocada pelo homem na Europa desde há décadas. A Rússia é culpada de um brutal ecocídio”, afirmou Zelensky num discurso por videoconferência aos "Nove de Bucareste", uma organização que reúne nove países da Europa central e oriental membros da NATO.
A Rússia nega a autoria do colapso da barragem e acusa a Ucrânia de “sabotagem deliberada”, embora a barragem estivesse sob controlo das tropas russas. Esta central hidroelétrica foi construída no rio Dnipro na década de 1950 e acabou capturada no início da ofensiva russa na Ucrânia em 2022. A estrutura é crucial para o abastecimento de água à Crimeia.