A cidade ucraniana de Avdiivka é, por estes dias, palco dos combates mais intensos entre as forças de Moscovo e de Kiev, ao ponto de ser já considerada a "nova Bakhmut", tal a violência dos confrontos.
No dia 10 de outubro, apenas três dias depois dos primeiros ataques do Hamas em Israel, que fizeram eclodir uma nova frente de guerra, desta feita no Médio Oriente, milhares de forças russas agruparam-se em Avdiivka para "tomar a povoação" daquela região adjacente a Donetsk.
E, segundo os especialistas militares ouvidos pela CNN Portugal, estão a conseguir, ainda que "com muito custo e muito sacrifício", nota o major-general Carlos Branco. Recentemente, tomaram Terrikon, a norte de Avdiivka, ganhando assim "vantagem" sobre as forças ucranianas, uma vez que se trata de uma zona elevada, onde estão os detritos provenientes de uma das minas próximas de Avdiivka, que lhes permite ter "observação a longas distâncias", indica o especialista.
O major-general Agostinho Costa também diz que, "neste momento, a vantagem é russa", uma vez que detêm o "predomínio de artilharia e da aviação". Mas o percurso nem sempre foi assim, sublinha o especialista em estratégia militar, apontando que os avanços russos em Avdiivka só foram possíveis com "elevadas perdas" no terreno. "Inicialmente, nem lhes correu nada bem", observa.
Mas as forças de Kiev não querem ser vencidas no braço de ferro por Avdiivka, cidade que se tornou o bastião da resistência no leste da Ucrânia após os confrontos de 2014. Nas últimas semanas, os combates intensificaram-se de tal forma que o teatro de operações se assemelha agora a Bakhmut. "O que estamos a assistir neste momento é praticamente igual ao que se passou em Bakhmut. Começou como uma ofensiva russa no sentido de tomar a povoação e tem vindo em crescendo, com combates intensos que poderão durar semanas, para não dizer meses, tal como aconteceu em Bakhmut", explica Agostinho Costa.
O interesse estratégico da Rússia por Avdiivka
Avdiivka é hoje uma cidade praticamente deserta. Antes da guerra, contava com uma população estimada de 30 mil pessoas; hoje, não serão mais de mil habitantes, todos eles com uma idade mais avançada, como indica Lyuty, comandante de uma unidade de forças especiais do Ministério do Interior na cidade, citado pelo New York Times.
A cidade fica a poucos quilómetros de Donetsk e é daí que surge o interesse da Rússia pela região. Mesmo quando as tropas ucranianas perderam os territórios adjacentes a Avdiivka, continuaram a bloquear o acesso da Rússia à principal autoestrada e caminhos de ferro ao longo da linha da frente, o que lhes confere um poder militar estratégico em detrimento das forças russas.
A conquista de Avdiivka empurraria as forças ucranianas para trás dos limites de Donetsk e abriria as principais rotas ferroviárias e rodoviárias às forças russas na região.
Além disso, de acordo com o major-general Carlos Branco, era a partir de Avdiivka que as forças ucranianas lançavam "sistematicamente bombardeamentos sobre a cidade de Donetsk". Ora, o avanço das forças russas em Avdiivka obrigou a uma alteração do posicionamento da artilharia ucraniana, aponta o especialista, acrescentado que as forças ucranianas "acabaram por perder essa capacidade de fazer os bombardeamentos sobre Donetsk".
O major-general Agostinho Costa salienta que as forças russas querem "assegurar a segurança de Donetsk", procurando tomar as povoações adjacentes de modo a "empurrar os ucranianos para mais longe" daquele Oblast.
Por isso, além da importância estratégica para os russos, a conquista de Avdiivka também tem um valor político para o Kremlin, uma vez que conquistar a cidade após tantos anos de resistência ucraniana seria uma grande vitória para o presidente russo, Vladimir Putin.
Enquanto os russos concentram todos os seus esforços na tomada de Avdiivka, a Ucrânia "continua a pressionar" em Robotyne, uma vila situada em Zaporizhzhia, diz Agostinho Costa, contrariando assim a ideia que muitos têm defendido de que a contraofensiva ucraniana já terminou.
"Não obstante já tenha sido anunciado por muita gente que a contraofensiva ucraniana já acabou, a Ucrânia continua a pressionar na zona de Robotyne, tentando conquistar terreno. Isto porque as forças ucranianas sabem que, se não o fizerem, com a chegada do mau tempo e como estão enclausuradas entre russos a sul, no ocidente e a leste, muito dificilmente conseguem aguentar as posições. E estão a ser relativamente bem sucedidas", salienta o major-general Agostinho Costa.