Como a defesa antiaérea de um país pode lidar com 100 ameaças ao mesmo tempo e outras explicações sobre Dnipro (Ucrânia vs. Rússia) - TVI

Como a defesa antiaérea de um país pode lidar com 100 ameaças ao mesmo tempo e outras explicações sobre Dnipro (Ucrânia vs. Rússia)

  • CNN Portugal
  • PF
  • 17 jan 2023, 22:30

Uma zona residencial em Dnipro foi atacada. Há muitos feridos (79) e mortos (45) entre a população civil, incluindo crianças. A Ucrânia diz que foi um míssil russo. A Rússia diz que foi a defesa antiaérea da Ucrânia que causou aquela destruição. Entendamos então como funciona a defesa antiaérea - e vejamos também como dois majores-generais se dividem sobre o que aconteceu

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Os sistemas de defesa antiaérea S-300 compõem parte das infraestruturas de defesa antiaérea da Ucrânia. Desenvolvidos no tempo da União Soviética, voltaram novamente ao centro das atenções mediáticas na sequência do ataque a Dnipro, que motivou nova troca de acusações entre Rússia e Ucrânia.

O Kremlin refere apenas que a destruição do edifício foi "consequência da defesa aérea ucraniana” e que “a Rússia não ataca prédios residenciais". Do outro lado, a Ucrânia afirma e reafirma que o míssil era russo, não sem antes o conselheiro presidencial Oleksiy Arestovych ter admitido a possibilidade de este ter sido abatido por Kiev, palavras que o levaram a apresentar a demissão e a pedir desculpa à população.

Em declarações à CNN Portugal, o major-general Isidro Morais Pereira explica a razão pela qual acredita ser pouco plausível que tenha sido a defesa antiaérea ucraniana a responsável pela tragédia em Dnipro. “Assumindo que a Ucrânia tem a versão S-300 V, a última que entrou em funcionamento antes da queda da União Soviética, estamos a falar de um míssil com um alcance de até 100 quilómetros, que pode abater alvos a cerca de 32 quilómetros de altitude e tem um payload (carga de explosivos) de 130 quilos. Por esta razão é que digo que o S-300 não tem a capacidade de causar aquela destruição que vimos em Dnipro”, afirma.

“Não posso garantir que não houve um desvio da antiaérea ucraniana. Mas, normalmente, quando a antiaérea é acionada é para destruir ambos os mísseis. Quando o míssil antiaéreo explode contra o outro, este acaba também por explodir 'por simpatia'. Por isso, acho pouco provável que tenha sido desviado. O que já aconteceu é o míssil ser destruído em voo e os seus fragmentos projetados, o que pode originar destruição em algumas habitações. No entanto, nada disso é o que aconteceu em Dnipro”, garante Isidro Morais Pereira.

No entanto, o major-general deixa uma ressalva. “É o [sistema] que tem maior alcance na Ucrânia, mas não é o mais eficiente. Os radares que o apoiam não são radares multinível e multiameaça. O radar que equipa as baterias Patriot é capaz de lidar com cerca de 100 ameaças ao mesmo tempo e deteta-as a uma grande distância, enquanto o S-300 lida com um número muito mais reduzido de ameaças, cerca de uma dezena.”

O major-general duvida ainda que Moscovo tenha atingido o edifício de forma não intencional. “Já não é primeira vez que a Rússia ataca áreas residenciais onde comprovadamente não existe nenhum alvo militar concreto. Atacaram com um míssil Kh-22, que foi projetado pela indústria soviética para fazer face a ameaças navais, incluindo porta-aviões. É extraordinariamente potente. É difícil acreditar que isto foi um erro fortuito”, analisa o comentador da CNN Portugal.

O major-general Agostinho Costa tem um entendimento diferente. “A destruição em Dnipro é o resultado de uma campanha de mísseis que os russos lançaram. Ao observarmos as imagens, podemos ver que há dois edifícios a arder, aquele onde um míssil terá caído na base e um outro adjacente”, começa por explicar à CNN Portugal. “Estas imagens corroboram aquilo que Arestovych disse imediatamente, que tinha sido um míssil russo atingido por outro da defesa aérea ucraniana e que naturalmente caiu e, ainda com explosivo, provocou esta destruição. Não obstante de ser uma tragédia, é um dano colateral.”

O especialista em assuntos de segurança afirma que quem opera os sistemas de defesa aérea “tem de os ativar quando o míssil do adversário está fora [do perímetro das cidades]”. “Nestas 12 campanhas de mísseis que os russos têm lançado, tem havido muito poucas baixas civis. As que ocorrem devem-se a mísseis de defesa antiaérea ou mísseis russos que são abatidos. Naturalmente que a tragédia em Dnipro decorre de uma ação russa, mas quando a defesa antiaérea dispara sobre a própria cidade esta sofre as consequências.”

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