As forças armadas ucranianas recapturaram a vila de Urozhaine, no sul da região de Donetsk, anunciou esta quarta-feira a vice-ministra da Defesa ucraniana. Esta é mais uma conquista da contraofensiva ucraniana, com o objetivo de cortar o acesso terrestre da Rússia à península da Crimeia. “Urozhaine foi libertada. Os nossos defensores entrincheiraram-se nos arredores”, declarou a vice-ministra Hanna Maliar.
É mais um pequeno mas sólido passo na estratégia da contraofensiva ucraniana, no eixo de Velyka Novosilka. Este é o sector da frente de combate onde a Ucrânia tem registado as maiores conquistas de território. Antes de Urozhaine, as tropas ucranianas treinadas no ocidente reconquistaram Neskuchne, Blahodatne, Rivnopil, Makarivka, Staromaiorske e Storozheve, após sangrentos combates que se arrastam há dois meses.
“Os dois eixos de ataque ucranianos estão a obter conquistas em simultâneo. A área compreendida entre estes dois eixos destina-se ao corte da ponte terrestre para a Crimeia criada pelos russos no início da guerra”, esclarece o major-general Isidro de Morais Pereira.
É esse o objetivo ucraniano - continuar a avançar no território em direção à cidade de Mariupol, no sul do país, para cortar a ligação terrestre da Rússia à Crimeia. Para o fazer, a Ucrânia nem precisa de conquistar todo o território até ao Mar de Azov - basta progredir o suficiente no terreno ao ponto de conseguir atingir as estradas e as ligações de comboio com artilharia. Urozhaine fica a cerca de 90 quilómetros desse objetivo.
Este tipo de manobra impediria as tropas russas de reabastecerem o território de forma eficiente, acabando por ficar obrigadas a enviar combustível, munições e carros de combate através da Crimeia, pela ponte de Kerch ou por via naval. No entanto, esta rota é cada vez mais insegura, com a Ucrânia a atacar com cada vez maior frequência e gravidade a ponte e vários navios no Mar Negro.
Vários vídeos publicados nas redes sociais mostram mesmo várias unidades russas a ficar debaixo de fogo de artilharia pesada ucraniana enquanto retiravam a pé da vila de Urozhaine. Dezenas de soldados viram-se debaixo do fogo das bombas de fragmentação russa.
The Ukrainian MoD released two spectacular videos, showing surviving Russian troops fleeing from Urozhaine.
— (((Tendar))) (@Tendar) August 13, 2023
It is absolute carnage because those Russians have no armored vehicles, no vehicles at all and flee in broad daylight on an open road and fields. The 2nd video is even… pic.twitter.com/69ap1T4dLs
A linha Surovikin
As forças ucranianas têm de conquistar outras localidades que se encontram no caminho e nada faz crer que a sua conquista será mais fácil. Com a libertação de Urozhaine, as vilas de Zavitne Bazhannia e Volodyne passam a estar na linha da frente.
Apesar de considerar este avanço encorajador, o major-general Agostinho Costa alerta que os militares ucranianos ainda não atingiram a principal linha de posições fortificadas russas. Conhecida como "linha Surovikin", devido ao nome do general russo que ordenou a sua construção, esta linha defensiva estende-se ao longo de mais de mil quilómetros, um pouco por toda a frente. Em muitos casos, antes de se chegar a estas posições é preciso ultrapassar vastos campos de minas, fossas antitanque e estruturas de betão capazes de deter os mais evoluídos carros de combate.
“É um avanço importante para a Ucrânia, que faz com que avancem mais de dois quilómetros para sul. Essa frente vai agora alargar-se a Zavitne Bazhannia, que ainda está a cinco quilómetros da principal linha de defesa russa, a chamada 'linha Surovikin'. Mas as forças ucranianas estão a aproximar-se”, explica o major-general Agostinho Costa.
Além disso, o tempo é um fator que é necessário ter em conta. Com os combates a acontecerem nas grandes planícies do sul da Ucrânia, Kiev tem de começar já a pensar no aproximar das épocas de chuva, que dificulta qualquer tipo de manobra militar de veículos blindados. Esses fatores devem levar a que se repense as expectativas para o desfecho da guerra.
“Não é justo esperar que esta contraofensiva possa ser coroada de sucesso ainda este ano. Daqui à época das chuvas, estas planícies ficam transformadas em lamaçais, tornando-se impeditivas de formações blindadas”, sublinha Isidro de Morais Pereira.