EUA estão pessimistas quanto à possibilidade de a Ucrânia acabar depressa com a guerra contra a Rússia, segundo documentos do Pentágono - TVI

EUA estão pessimistas quanto à possibilidade de a Ucrânia acabar depressa com a guerra contra a Rússia, segundo documentos do Pentágono

  • CNN
  • Jeremy Herb
  • 12 abr 2023, 10:21

Novos documentos frisam que desafios com tropas, munições e equipamento podem fazer com que a Ucrânia fique “muito aquém” dos seus objetivos numa contraofensiva de Primavera.

Os documentos altamente classificados do Pentágono publicados nas redes sociais oferecem um ponto de vista pessimista dos EUA sobre o estado da guerra na Ucrânia, salientando as fraquezas do armamento e das defesas aéreas da Ucrânia e prevendo um impasse na guerra nos próximos meses.

Os documentos, que parecem datar de fevereiro e março, detalham muitas das insuficiências militares da Ucrânia quando Kiev se prepara para uma contraofensiva de Primavera contra a Rússia.

Vários dos documentos classificados advertem que as defesas aéreas de médio alcance da Ucrânia para proteger as tropas da linha da frente estarão “completamente reduzidas até 23 de maio”, sugerindo que a Rússia poderá em breve ter superioridade aérea e que a Ucrânia poderá perder a capacidade de acumular forças terrestres numa contraofensiva.

Os documentos também sublinham problemas persistentes com a própria ofensiva militar russa, prevendo que, num futuro previsível, o resultado será um impasse entre os dois lados.

“A campanha de desgaste da Rússia na região do Donbass está provavelmente a caminhar para um impasse, frustrando o objetivo de Moscovo capturar toda a região em 2023”, afirma um dos documentos classificados.

Responsáveis oficiais familiarizados com a situação dizem à CNN que os documentos parecem fazer parte de um conjunto de informação diária preparado para os líderes superiores do Pentágono, incluindo o presidente dos Chefes do Estado-Maior Conjunto, o General Mark Milley.

A fuga de informação dos documentos, muitos dos quais estão marcados como ultra-secretos (“top secret”), representa uma grave violação da segurança nacional, e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos lançou uma investigação criminal sobre quem os possa ter vazado, enquanto o Pentágono investiga o impacto da fuga na segurança nacional dos EUA. Além da avaliação da guerra da Ucrânia, os documentos incluem informações recolhidas sobre aliados e adversários.

O tenente-general aposentado Mark Hertling, analista militar e de segurança nacional da CNN, afirmou que os desafios que a Ucrânia enfrenta com a sua planeada contraofensiva têm sido claros há semanas, incluindo a necessidade de integrar novo equipamento e novas tropas, e de assegurar a existência de uma cadeia de abastecimento suficiente. Ele não considerou que a fuga de documentos alterará os planos de Kiev.

“Não encontrei nada nos documentos que vi que me levasse, como comandante, a alterar os meus planos”, disse Hertling. “Foi dada alguma informação aos russos em termos de localização de unidades e capacidades de munições e equipamento, mas atrever-me-ia a dizer que, de qualquer forma, os russos já sabiam isso tudo”.

Responsáveis oficiais americanos alertaram publicamente que a guerra poderá arrastar-se

Em muitos aspetos, a avaliação da guerra da Ucrânia é semelhante ao que responsáveis oficiais dos EUA afirmaram publicamente, uma vez que oficiais superiores da Administração Biden disseram que é provável que o conflito se arraste durante meses, se não mais tempo.

Mas a avaliação detalhada e precisa da guerra está exposta de forma categórica nos slides informativos sobre os desafios que a Ucrânia enfrenta, apesar dos seus êxitos em mais de um ano na guerra.

Um oficial de um país que faz parte do acordo de partilha de informações “Five Eyes” com os EUA disse antes à CNN que era alarmante ver a fuga de informações de guerra da Ucrânia prejudicar o país no campo de batalha.

“Os ganhos para a Ucrânia serão difíceis de obter, mas não ajuda ter a avaliação privada dos EUA a apontar para um provável impasse de um ano”, afirmou o oficial.

Publicamente, responsáveis oficiais norte-americanos e ucranianos subestimaram o significado dos documentos classificados.

O secretário de Estado Antony Blinken reassegurou à Ucrânia o apoio “férreo” dos Estados Unidos ao país, na sequência da fuga de documentos do Pentágono, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba.

Numa chamada na terça-feira, Blinken “reafirmou o apoio dos EUA e rejeitou veementemente quaisquer tentativas de lançar dúvidas sobre a capacidade da Ucrânia de vencer no campo de batalha”, escreveu Kuleba na terça-feira no Twitter.

“Os EUA continuam a ser o parceiro de confiança da Ucrânia, concentrado em fazer avançar a nossa vitória e em assegurar uma paz justa”, disse Kuleba.

Numa conferência de imprensa na terça-feira, o secretário da Defesa Lloyd Austin afirmou que o departamento “virará cada pedra até encontrar a fonte” dos documentos de inteligência vazados.

A CNN analisou 53 documentos vazados, todos os quais parecem ter sido produzidos entre meados de fevereiro e princípios de março.

Pelo menos um dos documentos parece ter sido alterado, noticiou antes a CNN, que listava o número de vítimas russas e ucranianas e reduziu para mais de metade o número de mortes russas antes de tal ser difundido em canais pró-russos do Telegram.

Ainda assim, responsáveis oficiais norte-americanos reconheceram que a maior parte dos documentos parece ser genuína. A Ucrânia já alterou alguns dos seus planos militares devido à fuga de informação, disse à CNN uma fonte próxima de Zelensky.

“Estes documentos são estáticos. São uma fotografia de um momento específico. Tanto os Estados Unidos como a Ucrânia têm a capacidade de modificar o que estão a fazer e de como estão a abordar esta questão, e temos certamente muito tempo para a Ucrânia o fazer”, disse na segunda-feira Mike Turner, presidente dos Serviços Secretos da Câmara, a Jake Tapper da CNN.

Surgiram também documentos adicionais. O Washington Post noticiou na segunda-feira outro documento que contém uma avaliação sombria, feita em fevereiro, que frisa que os desafios com tropas, munições e equipamento podem fazer com que a Ucrânia fique “muito aquém” dos seus objetivos na sua planeada contraofensiva de Primavera.

Um documento de fevereiro afirma que uma avaliação dos EUA considera que a Ucrânia pode gerar 12 brigadas de combate para a contraofensiva de Primavera, incluindo três treinadas na Ucrânia e nove treinadas e equipadas pelos EUA. Seis das brigadas estariam prontas até ao final de março e as restantes seis até ao final de abril, de acordo com o documento.

Os documentos divulgados incluem mapas detalhados das posições dos campos de batalha, estatísticas sobre o número de tropas mortas e feridas e estimativas de tanques, caças a jato e outros armamentos que foram colocados em campo, bem como destruídos.

Um slide fornece uma linha temporal sobre quando o solo da Ucrânia estará congelado, quando estará lamacento e quando estará favorável à passagem.

Há avaliações das forças ucranianas em redor de Bakhmut, onde alguns dos mais ferozes combates entre os dois lados tiveram lugar este ano. Numa atualização em fevereiro, a avaliação dos serviços secretos inclui detalhes sobre as aldeias onde os militares ucranianos se tinham retirado e quais as posições que ainda controlavam.

 

Natasha Bertrand e Alex Marquardt contribuíram para este artigo.

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