Três dias depois do alegado ataque em Makiivka, no Oblast de Donetsk, são muito poucas as informações, pelo menos oficiais, sobre o que realmente aconteceu nesta cidade controlada pelos russos. As tropas de Kiev dizem que mataram centenas de militares do inimigo: "O Pai Natal embrulhou cerca de 400 cadáveres em sacos", lia-se num comunicado do departamento de comunicações estratégicas das Forças Armadas da Ucrânia, no domingo. Por sua vez, o Ministério da Defesa da Rússia desmentiu este número, segunda-feira, em comunicado, garantido que foram registadas 63 vítimas mortais.
Entretanto, a Associated Press divulgou duas imagens de satélite da empresa norte-americana Planet Labs PBC do antes e do depois do ataque à escola profissional que servia, alegadamente, como quartel das tropas de Moscovo. O Ministério da Defesa russo disse tratar-se de um "alojamento temporário".
Na passagem de uma fotografia para a outra é bem visível a área destruída pelos supostos 25 rockets lançados - com recurso ao sistema de mísseis norte-americanos HIMARS - durante a noite da passagem de ano.
O líder da República Popular de Donetsk (DPR), Denis Pushilin, garantiu que a defesa anti-aérea tinha abatido grande parte dos rockets. "O nosso sistema de defesa aérea estava a trabalhar ativamente. Caso contrário, teria havido muito mais ataques. O trabalho bem coordenado não permitiu que o inimigo realizasse esses ataques com impunidade", disse.
O Estado-Maior-General das Forças Armadas da Ucrânia revelou, num comunicado divulgado segunda-feira à noite, ter "destruído ou danificado pelo menos dez unidades de equipamento militar de vários tipos". Quanto às perdas humanas do lado do inimigo, "ainda estão a ser contabilizadas".
As críticas do lado russo
Voltando às imagens do antes e do depois do ataque, e dada a dimensão da região atingida, é muito provável, dizem os especialistas, bloggers e comentadores pró-russos, que o número de mortos seja muito superior ao que foi oficialmente divulgado pelo Ministério da Defesa de Moscovo.
"O que aconteceu em Makiivka é horrível", escreveu no Telegram Arcanjo Spetznaz Z, um blogger militar russo com mais de 700.000 seguidores. Mas vai mais longe: "Quem é que teve a ideia de colocar um grande número de pessoas num único edifício, onde até um imbecil percebe que mesmo que fossem atingidos com artilharia, haveria imensos feridos e mortos?". Os comandantes "não querem saber das munições armazenadas em total desordem no campo de batalha (...) cada erro tem um nome", acrescentou.
Outros especialistas e comentadores pró-invasão criticaram o facto de estarem a ser usadas infraestruturas civis para abrigar militares. "Alojar pessoal em prédios em vez de abrigos ajuda diretamente o inimigo. É preciso retirar conclusões difíceis sobre aquilo que aconteceu em Makiivka", defendeu Andrey Medvedev, vice-presidente da Duma (parlamento) da cidade de Moscovo e jornalista pró-Kremlin.
Há mesmo quem diga que as tropas russas no campo de batalha estão a ser comandadas por "idiotas destreinados" e que os culpados pela decisão "têm de ser punidos".
O próprio Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês) reconheceu, no mais recente relatório, que o ataque ucraniano gerou "críticas significativas à liderança militar russa" e que existe um passa culpas para tentar imputar a responsabilidade "para os funcionários e forças mobilizadas na República Popular de Donetsk".
NEW: A devastating Ukrainian #HIMARS strike on a Russian base in #Makiivka, #Donetsk Oblast, on December 31 has generated significant criticism of Russian military leadership in the Russian information space. Latest on #Ukraine w/ @criticalthreats: https://t.co/ou4m9DyAAq pic.twitter.com/8Q7wXA44cp
— ISW (@TheStudyofWar) January 3, 2023