Lesya espantou-se com Marcelo: "Isto nunca tinha acontecido! É o primeiro que faz isto" - TVI

Lesya espantou-se com Marcelo: "Isto nunca tinha acontecido! É o primeiro que faz isto"

Marcelo Rebelo de Sousa de visita à Ucrânia (LUSA)

Marcelo fez o que todos fazem quando vão a Kiev, visitou o que todos visitam, defendeu o que todos os que apoiam a Ucrânia defendem publicamente - porque por vezes é preciso fazer o que todos fazem para que nunca se esqueça o horror do que foi feito nesta guerra. Mas Marcelo fez algo que ninguém fez e o que se faz pela primeira vez por vezes causa espanto - causou

Marcelo Rebelo de Sousa chegou à Ucrânia na véspera do Dia da Independência do país. Haverá uma outra independência para celebrar em breve, com a libertação do Donbass e dos outros territórios, incluindo a Crimeia? É a grande questão e o grande objetivo da contraofensiva - a qual o Presidente da República garante que Portugal apoia de forma total.

Mesmo estando na "outra ponta da Europa", Marcelo Rebelo de Sousa vincou que "sabemos o que é a Ucrânia e sentimos que a nossa fronteira é a fronteira da Ucrânia". E se o Presidente da República conhecia a Ucrânia, mais ficou a conhecer depois da chegada a Kiev, onde visitou sítios nunca visitados por presidentes. Marcelo Rebelo de Sousa atreveu-se a entrar na trincheira de Moschchun, provocando a admiração da vice-governadora da capital ucraniana. "Isto nunca tinha acontecido! É o primeiro que faz isto", disse Lesya Arkadievna.

De lá saído o chefe de Estado recordou como esta guerra, apesar de toda a tecnologia, traz lembranças do passado. "Faz lembrar as trincheiras da primeira Grande Guerra", confessou, ainda com alguma terra no blazer.

Trata-se de uma trincheira que já está inutilizada mas que as autoridades fazem questão de manter como recordação da luta contra a ocupação. Em conversa com habitantes locais, Marcelo Rebelo de Sousa percebeu como até as crianças já estão preparadas para este cenário.

Que barulho seria aquele?

Um dos grandes objetivos da viagem de Marcelo Rebelo de Sousa era a participação na cimeira "Plataforma Crimeia", que pretende não deixar esquecer que também aquela península, anexada pela Rússia em 2014, faz parte do território da Ucrânia. É isso que Portugal defende e foi isso que o Presidente da República foi dizer ao homólogo ucraniano e a vários outros representantes, incluindo do governo norte-americano. 

"Não é possível separar a questão da Crimeia da invasão total do território da Ucrânia. Qualquer tentativa, subjetiva ou objetiva, de separar as duas questões representa não uma ajuda, não um apoio à população ucraniana, mas um ruído que é desnecessário", argumentou. O chefe de Estado português recordou que o objetivo desta plataforma "foi, desde o início, o mesmo: nunca deixar que as pessoas esquecessem a Crimeia".

Pelo meio deste discurso a Rússia lançou vários mísseis a partir do Mar Negro, colocando todo o território ucraniano em alerta vermelho até que se percebesse o destino. Afinal, como Marcelo Rebelo de Sousa, em Kiev estavam dezenas de personalidades da política internacional.

Menos habituado que Volodymyr Zelensky ao cenário de guerra, o Presidente da República ouviu as sirenes ecoar e quis satisfazer a curiosidade. Que barulho seria aquele? "É sinal de que havia mísseis a caminho", contou-lhe o presidente ucraniano. E será que Marcelo Rebelo de Sousa teve medo?

"Medo? As coisas são como são. Não há razão para medo, tem havido uma capacidade de resposta integral e de cobertura por parte da Ucrânia. É mais a preocupação dos seguranças quanto ao local onde os mísseis intercetados têm os seus destroços a cair", explicou, desvalorizando o caso.

Tratou-se, portanto, de uma questão de precaução, mas houve quem quisesse precaver-se mais: "A presidente da Hungria está há que tempos no bunker deste hotel", revelou Marcelo. Algo que não podia acontecer com a comitiva portuguesa, onde também está o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, porque o hotel é outro.

Para esta quinta-feira espera-se um encontro mais solitário entre os presidentes dos dois países. O objetivo, esse, é "múltiplo".

Muito chocante, muito desumano

Foi talvez o primeiro grande choque da guerra. A descoberta de uma vala-comum com centenas de corpos tornou a cidade de Bucha, nos arredores de Kiev, ponto de passagem obrigatório para quem visita a Ucrânia em missões como esta de Marcelo.

O Presidente português não escapou a essa visita, onde prometeu à Ucrânia o apoio português nas investigações aos eventuais crimes de guerra ali cometidos - e que estão a ser julgados internacionalmente.

O Presidente da República visitou a Igreja de Santo André, local onde foram encontrados 190 corpos após a libertação de Bucha, que esteve um mês ocupada pelas forças russas no início da guerra. "Justiça tardia não é justiça", defendeu Marcelo Rebelo de Sousa, depois de uma cerimónia para homenagear as vítimas e de uma visita à exposição no interior da igreja que documenta a descoberta dos corpos, acompanhado do procurador-geral da Ucrânia, Andriy Kostin.

À margem do processo que já decorre em Haia, no Tribunal Penal Internacional, a própria Ucrânia equaciona a criação de um tribunal para julgar estes crimes. Caso avance, Portugal tem de estar envolvido, até porque o que aconteceu em Bucha "foi muito forte, muito chocante, muito desumano". "Aquele choque inicial passado este tempo todo não perdeu força", sublinha Marcelo

Um convite a Zelensky

O Presidente da República anunciou também que está a equacionar convidar Volodymyr Zelensky a visitar Lisboa e que vai aproveitar o encontro desta a quinta-feira para discuti-lo.

"Nós gostaríamos muito que houvesse uma ocasião para isso. É uma questão que e sta quinta será tratada porventura e não vale a pena estar a antecipar no encontro de delegações […], a agenda dele é ocupada”, disse o Presidente da República depois de participar na cimeira organizada pela “Plataforma da Crimeia", sobre a recuperação por parte da Ucrânia daquela península.

Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que Volodymyr Zelensky "privilegia esses contactos internacionais, mas tem uma guerra" no país.

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