Prigozhin anunciou o recuo dos seus soldados às 20:30 locais de sábado (menos duas horas em Portugal Continental). Desde então, e até à tarde desta segunda-feira, quando voltou a falar, nada mais se soube do líder do Grupo Wagner, que ainda foi visto por testemunhas a deixar a cidade de Rostov, não se sabendo ao certo em que direção.
Dali poderá ter regressado à Ucrânia, onde tinha iniciado uma “marcha pela justiça” que durou apenas um dia, mas também pode ter apanhado um avião para aquele que foi o único destino que lhe apontaram: a Bielorrússia.
Esteja onde estiver Prigozhin, o antigo diretor da CIA David Petraeus já lhe deixou um conselho, em declarações à CNN Internacional, alertando o líder do Grupo Wagner a ter “muito cuidado perto de janelas abertas”, numa referência a mortes ocorridas na Rússia de dissidentes ou críticos do regime.
Foram os próprios meios de comunicação bielorrussos a comunicar a ida de Prigozhin para o país vizinho, depois das negociações para o fim da rebelião, garantidas pelo presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko.
Nessa altura, ficou prometido que todas as acusações contra Prigozhin e os seus soldados seriam retiradas, segundo a justiça russa, mas agora sabe-se que não é bem assim (pelo menos para já). Depois de a notícia ter sido inicialmente avançada pelo jornal independente Kommersant, os próprios meios de comunicação estatais da Rússia confirmaram que a Procuradoria-Geral da Rússia ainda está a investigar o líder dos mercenários.
Habitualmente ativo nas redes sociais, onde, durante semanas e semanas, publicou vários vídeos a informar dos sucessos do Grupo Wagner na Ucrânia ou a criticar o Ministério da Rússia pela falta de apoio e de munições, Prigozhin esteve silencioso no Telegram até esta segunda-feira à tarde, adensando o mistério sobre onde e como estará.
Caso o destino seja mesmo a Bielorrússia, a receção poderá não ser a melhor. Quem o diz é a principal opositora de Lukashenko, Sviatlana Tsikhanouskaya, que afirmou que “o exército bielorrusso e a sociedade bielorrussa não vão aceitar” o mercenário.
“[Prigozhin] não vê a Bielorrússia como uma nação independente”, disse a opositora, através do seu conselheiro, Franak Viacorka, que falou à CNN Internacional.
O responsável sublinhou que o povo bielorrusso pretende paz, comércio e prosperidade, enquanto Prigozhin quer “guerra, guerra, guerra, guerra a toda a hora”.
“Penso que não vai ser um abrigo confortável para ele, e não penso que vá ficar muito tempo na Bielorrússia. Espero que não, e devemos fazer todos os possíveis para nos vermos livres dele o mais cedo possível”, concluiu.
Para trás parece ficar a possibilidade de o Grupo Wagner voltar a ser o que era. O conflito entre Prigozhin e as Forças Armadas da Rússia, com o Ministério da Defesa em particular, começou depois de o ministro, Sergei Shoigu, ter anunciado que todos os grupos paramilitares deviam realizar contratos com o governo.
Os Wagner foram os únicos que se recusaram, e isso fez estalar o verniz. Agora, e numa clara mensagem para os soldados de Prigozhin e para o próprio mercenário, a Duma, a câmara baixa do parlamento russo, aprovou uma lei que, na prática, vai contra o grupo.
De acordo com a legislação aprovada, estas sociedades vão deixar de poder celebrar contratos com pessoas condenadas, sendo os contratos unicamente celebrados com o Ministério da Defesa.
Uma lei que serve à medida contra o Grupo Wagner, em grande parte composto por ex-presidiários e que era o único dos cerca de 20 grupos paramilitares que se recusava a estar sob alçada do governo russo, com quem fica confirmada a rutura total.