Putin disse que não havia necessidade de novos "ataques maciços", depois dos bombardeamentos a várias cidades ucranianas na semana passada - uma alegada resposta à explosão na ponte russa da Crimeia. Mas os alarmes voltaram a soar na madrugada desta segunda-feira em várias localidades da Ucrânia, nomeadamente em Kiev, onde o autarca local confirmou pelo menos duas explosões no distrito central de Shevchenkiv. Há três vítimas mortais em resultado de um ataque com drone a um edifício residencial.
Vitali Klitschko revelou ainda que Kiev foi atingida por 28 drones. A Força Aérea ucraniana, citada pela Reuters, garantiu que abateu entre 85% e 86% dos drones envolvidos nos mais recentes ataques.
Os alarmes na capital ucraniana fizeram-se ouvir pelas 6:25 - menos duas horas em Lisboa -, algo relativamente comum e que já faz parte da rotina de quem ali vive. Mas aos avisos sonoros seguiram-se mesmo várias explosões: segundo o The Guardian, algumas ocorreram entre as 6:35 e as 6:58, repetindo-se pelas 8:15. Ao todo, indica a BBC, terão sido pelo menos cinco explosões.
Andriy Yermak, chefe de gabinete de Volodymyr Zelensky, confirmou no Telegram os ataques, detalhando um pormenor importante: "A capital foi atacada por drones kamikaze", escreveu. "Precisamos de mais sistemas de defesa antiaérea e o mais breve possível. Não temos tempo para ações lentas. Mais armas para defender o céu e destruir o inimigo", escreveu Yermak. "Os russos acham que isto vai ajudá-los mas estas ações parecem mais desespero", referiu ainda.
Explosions in Kyiv. The 🇺🇦 capital was attacked by kamikaze drones. The Russians think it will help them, but such actions are like agony.
We need more air defense systems ASAP. More weapons to defend the sky and destroy the enemy.#russiaisateroriststate pic.twitter.com/sg4QoEEZJH
— Andriy Yermak (@AndriyYermak) October 17, 2022
Os drones kamikaze são mais baratos e menos sofisticados do que os mísseis, mas têm-se revelado igualmente letais, capazes de causar danos nos alvos no solo. São conhecidos como munição de espera porque conseguem aguardar durante algum tempo numa zona identificada como alvo potencial e só atacam quando é identificado um ativo inimigo. São pequenos, portáteis e podem ser lançados facilmente, mas a sua principal vantagem é que são difíceis de detetar e podem ser disparados à distância. Chamam-lhes kamikaze porque são descartáveis, ou seja, concebidos para serem destruídos no ataque, ao contrário dos drones militares tradicionais, que são maiores e mais rápidos, capazes de regressar à origem depois de largarem mísseis.
Os Shahed-136, de fabrico iraniano, têm capacidade de transportar explosivos a distâncias de quase 2.500 quilómetros. O Irão, porém, já veio negar mais uma vez que tenha fornecido armamento a qualquer um dos lados em conflito, ainda que responsáveis ucranianos no terreno garantam que, entre os destroços, há armamento iraniano que só pode ter sido fornecido a Moscovo.
Outro conselheiro de Zelensky, Anton Gerashchenko, também escreveu nas redes sociais que Kiev tinha sido atacada por "drones iranianos", acrescentando que o objetivo seria atingir "um objeto da infraestrutura de energia". E acrescentou que estes drones terão sido provavelmente produzidos para atacar Israel. "Pedimos a Israel para nos fornecer sistemas de defesa antiaérea e armas defensivas - são criticamente importantes quando estamos a lidar com terroristas", concluiu Gerashchenko.
Iranian drones that attack Ukraine were propably produced to attack Israel.
— Anton Gerashchenko (@Gerashchenko_en) October 17, 2022
Israel knows better than anyone what it's like to fight terrorists.
We ask Israel to give us air defense systems and defensive weapons - they are critically important when dealing with terrorists.
Os serviços de emergência acorreram aos locais atingidos. O presidente da câmara de Kiev, Vitaliy Klitschko, confirmou que duas das explosões ocorreram no distrito central de Shevchenkiv e que pelo menos duas pessoas ficaram presas sob os escombros de um edifício residencial atingido e outras 18 foram resgatadas com vida. Pouco depois, foi confirmado o óbito de três vítimas, que terão ficado soterradas.
Segundo a imprensa internacional, na madrugada desta segunda-feira foram registados ataques também na região de Sumy, no nordeste da Ucrânia, e em Dnipropetrovsk, no sul da Ucrânia, onde chegou mesmo a deflagrar um incêndio numa infraestrutura energética atingida por um míssil.
Dmytro Zhyvytskyi, governador de Sumy, garantiu no Telegram que o ataque "fez vítimas" no distrito de Romensky.
Volodymyr Zelensky não demorou a reagir aos ataques russos. Nas redes sociais, o presidente da Ucrânia escreveu que o inimigo aterrorizou a população civil durante toda a noite e toda a manhã. "Drones kamikaze e mísseis estão a atacar toda a Ucrânia. Um edifício residencial foi atingido em Kiev", revelou Vodolymyr Zelensky. "O inimigo pode atacar as nossas cidades mas não será capaz de nos vergar. Os ocupantes só terão o justo castigo e condenação das futuras gerações. E nós conseguiremos a vitória".
Também o primeiro-ministro ucraniano lamentou os ataques em Kiev: "Hoje, a Rússia voltou a atacar edifícios civis e infraestruturas de energia na Ucrânia. Um edifício de apartamentos em Kiev está entre os alvos dos terroristas. Pessoas ficaram feridas. A resposta do mundo a estes crimes tem de ser clara: mais apoio à Ucrânia e mais sanções contra o agressor", pediu Denys Shmyhal.
Today, russia again attacked civilian and energy facilities in Ukraine. Apartment building in Kyiv is among the terrorists' targets. People are injured. The world's response to these crimes must be clear: more support for Ukraine and more sanctions against the aggressor. pic.twitter.com/KRpHBJ7kn4
— Denys Shmyhal (@Denys_Shmyhal) October 17, 2022