"Sim, nós conseguimos atravessar o rio sem a ponte": atenção a Bakhmut, muita atenção (e Oleksandr Syrskyi foi lá) - TVI

"Sim, nós conseguimos atravessar o rio sem a ponte": atenção a Bakhmut, muita atenção (e Oleksandr Syrskyi foi lá)

Um soldado ucraniano junto a uma pilha de restos de munições de morteiros lançados pela Rússia sobre Bakhmut. 15 fevereiro 2023. Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP via Getty Images

Dos cerca de 70 mil habitantes que antes da guerra viviam em Bakhmut, estima-se que a esta altura restem cerca de quatro mil, incluindo quase 50 crianças

A queda da resistência ucraniana parece ser um cenário cada vez mais iminente na pequena cidade de Bakhmut, que tem sido palco de sangrentos confrontos na linha da frente da guerra e que, a esta altura, pode estar já totalmente cercada pelos mercenários russos do grupo Wagner. A situação cada vez mais difícil para os soldados ucranianos foi admitida pelo próprio comandante do Exército de Kiev, Oleksandr Syrskyi, que esta sexta-feira esteve na cidade. Syrskyi já tinha sublinhado que a Rússia estava a enviar os mercenários mais experientes do grupo Wagner para tomar Bakhmut e que intensos confrontos estavam a acontecer por toda a parte.

Antes, o líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, já havia surgido num vídeo a anunciar que Bakhmut estava praticamente cercada e que às tropas ucranianas restava apenas uma estrada de acesso. "Estávamos a combater o exército ucraniano, mas hoje estamos cada vez mais perante velhos e crianças", afirmou. O líder do grupo Wagner sublinhou que a conquista estava a apenas “um ou dois dias” e apelou a Volodymyr Zelensky que permitisse aos "defensores" da cidade abandoná-la.

Dos cerca de 70 mil habitantes que antes da guerra viviam em Bakhmut, estima-se que a esta altura restem cerca de quatro mil, incluindo quase 50 crianças. É uma cidade fantasma que há já oito meses vem sendo massacrada pelas incursões de Moscovo com artilharia pesada e ofensivas constantes. Alvo prioritário para os russos, reduto de resistência para Kiev, a guerra tem sido um fogo lento em Bakhmut. O próprio chefe do gabinete da presidência ucraniana, Andrii Iermaka, referiu-se a Bakhmut como a “Verdun do século XXI”, numa alusão à mais longa e sangrenta batalha da I Guerra Mundial.

Ainda que Kiev não assuma uma retirada, os sinais de que isso possa vir a acontecer brevemente são cada vez mais evidentes. Nos últimos dias, Zelensky tem reconhecido um agravamento das tensões na região e, na terça-feira, Alexander Rodnyansky, conselheiro do presidente, colocou em cima da mesa uma retirada estratégica.

Esta sexta-feira foi divulgado um vídeo da destruição de uma ponte de comboio em Bakhmut. As imagens, geolocalizadas pela CNN Internacional, mostram uma explosão controlada e foram acompanhadas de vários relatos de que estaria a ser preparada uma retirada - uma informação que foi entretanto negada pelas tropas ucranianas da Brigada 46: "A ponte que vemos agora não é uma prova de que nos estamos a retirar e já foi destruída há muito tempo. Os que estão em Bakhmut sabem isso. E sim, nós conseguimos atravessar o rio sem a ponte".

Apesar de garantir que há comida, água e medicamentos suficientes, a porta-voz da administração regional ucraniana de Donetsk, Tetiana Ignatchenko, reconheceu em declarações à CNN Internacional que a situação é "extremamente perigosa" e que os civis que ainda permanecem na cidade devem fugir.

Por dias ou mesmo por horas, a conquista de Bakhmut pelos russos significará uma importante vitória para o regime de Vladimir Putin. A cidade localiza-se no nordeste de Donetsk e trata-se de um ponto estratégico: está unida por importantes ligações rodoviárias às duas maiores cidades de Donetsk, Kramatorsk e Sloviansk, que ainda se encontram sob o controlo de Kiev. A conquista de Bakhmut abre caminho a Moscovo para avançar sobre Kramatorsk e Sloviansk. É também em Bakhmut que se cruzam várias rotas de abastecimento ao Donbass, daí que a captura da cidade tenha um valor simbólico para o objetivo que é  controlar o leste ucraniano.

Há, no entanto, analistas que não antecipam grandes alterações no quadro geral da guerra com esta conquista. E isso, de certa forma, assinalaria os fracassos da invasão russa: no início do segundo ano de guerra, a captura de uma cidade relativamente pequena exigiu um ataque tão longo, sangrento e dispendioso.

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