Uma pequena parte da Ucrânia renasceu no sul do Brasil.
Há pouco mais de um ano, a equipa de futebol ucraniana FC Mariupol desapareceu, uma vez que a cidade que representava foi bombardeada por artilharia e bombardeiros russos.
Em 19 de março de 2022, a equipa deveria receber o FC Kollos no Estádio Volodymyr Boyko para um jogo da Primeira Liga Ucraniana. Mas, nessa altura, o seu centro de treinos tinha sido bombardeado; o campus do clube tinha-se transformado num quartel russo.
Quando a liga profissional ucraniana foi retomada, o FC Mariupol não constava do calendário, a sua equipa foi dissolvida e o seu estádio, com capacidade para 12 mil pessoas, ficou deserto.
Mas a esperança não foi abandonada.
O vice-presidente do clube, Andriy Sanin, disse à CNN na terça-feira: “Quando não jogamos, as pessoas esquecem-se de nós. E isso foi muito perturbador para nós. Começámos a procurar ideias para fazer com que as pessoas continuassem a falar de nós”.
Uma das ideias estava a meio mundo de distância.
“O primeiro país que nos vem à cabeça quando pensamos em futebol é, claro, o Brasil. Encontrámos uma província inteira que tem quase 80% de etnia ucraniana e encontrámos um clube de futebol”, disse Sanin.
A província, ou região, é Prudentópolis, no sul do Brasil, onde um grande número de habitantes é descendente de ucranianos. A cidade de Guarapuava possui a maior comunidade ucraniana da América do Sul – uns incríveis 75% dos seus 52 mil habitantes afirmam ser descendentes de ucranianos.
E o clube de futebol? Associação Atlética Batel.
Não é exatamente uma potência do futebol brasileiro, já que a equipa joga na terceira divisão do campeonato estadual do Paraná. Mas, de repente, o Batel passou a ter uma claque internacional. Durante os próximos seis jogos, e talvez mais, vai mudar o nome para FC Mariupol, adotando as camisolas cor-de-laranja da equipa ucraniana, bem como o seu brasão e logótipo.
Para Sanin, “isto dá esperança de que, se o clube não morreu, a cidade também não morrerá e será reanimada”.
"A Mariupol ucraniana será reavivada, tal como o clube de futebol ucraniano Mariupol", afirmou ele à CNN.
No Brasil, o presidente do clube Batel, Alex Lopes, disse: “O nosso clube e a nossa região têm muito em comum com o povo ucraniano. O nosso objetivo é ajudar a manter vivo o FC Mariupol, que era o orgulho da cidade, até que eles possam realmente voltar ao ativo".
No recém-criado site na Internet FCMariupolLives, Batel comentou: “A Ucrânia sempre abriu as portas da Europa aos brasileiros. Agora, é hora de o Brasil receber os ucranianos e manter vivo o FC Mariupol.”
Sanin diz que é impossível expressar o quanto o gesto de Batel significa para o clube ucraniano. Ele confessou que um vídeo criado em Prudentópolis para acolher o FC Mariupol o levou às lágrimas.
O site criado pelo clube diz: “Nós cuidaremos do FC Mariupol até que todos os ucranianos possam ir ao estádio Volodymyr Boyko novamente para ver a sua equipa da casa jogar”.
O sentimento é mútuo, disse Sanin à CNN: “Espero realmente que, mais tarde, depois da guerra, nos encontremos definitivamente com os rapazes do clube brasileiro. Vamos convidá-los para irem a Mariupol, para irem ao Mar de Azov”.
Sanin, como milhões de ucranianos, está à espera do tão anunciado lançamento de uma contra-ofensiva ucraniana. E está otimista quanto à possibilidade de, em breve, o estádio Volodymyr Boyko voltar a ver as camisolas laranja em acção.
“Há alguns dias, pedimos à Primeira Liga ucraniana que adiasse o nosso regresso ao futebol grande por mais uma época. Assim, podemos regressar na época 2024/25”.