Uma das cidades mais caras do mundo aumentou o salário mínimo... em 29 cêntimos - TVI

Uma das cidades mais caras do mundo aumentou o salário mínimo... em 29 cêntimos

  • CNN
  • Jessie Yeung
  • 2 mai 2023, 18:52
protestos em Hong Kong no 1º de maio Foto Vernon Yuen _ NurPhoto via Getty Images

Secretário do Trabalho e da Segurança Social diz que “ir trabalhar não é só para ganhar dinheiro, é importante para o espírito e para a saúde”. Oxfam critica (falta de) aumentos.

É uma das cidades mais caras do mundo, com o mercado imobiliário menos acessível do planeta e lugares de estacionamento que podem custar quase um milhão de euros cada.

Por isso, quando o governo de Hong Kong aumentou o salário mínimo nuns míseros 32 cêntimos, esta segunda-feira, os ativistas e trabalhadores comunitários reagiram de forma mordaz.

“Achamos que isto é inaceitável”, disse Wong Shek-hung, diretor do programa de Hong Kong, Macau e Taiwan da organização de caridade Oxfam. “[O aumento] não consegue cobrir as necessidades básicas em Hong Kong”.

O novo salário mínimo é agora de 40 dólares de Hong Kong (4,63 euros) por hora, em comparação com os anteriores 37,5 dólares de Hong Kong (4,34 euros) por hora.

O salário mínimo, estabelecido pela primeira vez em 2011, deve ser revisto a cada dois anos - mas foi congelado no seu valor anterior em 2021 devido ao impacto económico da Covid na cidade, com as autoridades então a argumentar que um aumento salarial colocaria “pressão adicional sobre as empresas” e risco de redução de empregos com baixos salários.

Mas segundo Wong, este novo aumento fará pouca diferença em Hong Kong, que tem sido consistentemente classificada como uma das cidades mais caras do mundo.

Em 2022, Hong King empatou com Los Angeles no quarto lugar do Índice Mundial do Custo de Vida, publicado pela Economist Intelligence Unit - Nova Iorque, Singapura e Telavive ocupam os três primeiros lugares.

Em comparação, Nova Iorque tem um salário mínimo de 15 dólares por hora (13,6 euros) e Los Angeles tem 16,78 dólares por hora (15,26 euros); Telavive varia entre 8,27 e 8,45 dólares por hora (entre 7,52 e 7,68 euros), consoante o total de horas trabalhadas. Singapura oferece diferentes salários mínimos consoante o sector, aplicáveis apenas a cidadãos e residentes permanentes.

Segundo a Oxfam, o novo salário é ainda inferior ao que uma família de duas pessoas receberia através do programa de segurança social da cidade – o que desmotiva os trabalhadores. A Oxfam instou o governo a aumentar o salário mínimo para, pelo menos, 45,4 dólares de Hong Kong (5,26 euros) por hora, apelidando o novo aumento de “quase insignificante”.

Mas o secretário do Trabalho e da Segurança Social de Hong Kong, Chris Sun, rejeitou este argumento em janeiro, afirmando que “muitas pessoas (...) preferem trabalhar do que receber assistência social, porque pensam que isso tem mais valor para as suas vidas”.

“Afinal, as pessoas gostam de ir trabalhar ou não? De facto, ir trabalhar não é só para ganhar dinheiro. É importante para o espírito e para a saúde”, disse Sun, segundo a emissora pública RTHK. “Por isso, as duas coisas não podem ser comparadas. Uma é a segurança social, a outra é o trabalho”.

A Sociedade de Organizações Comunitárias de Hong Kong (SOCO) propôs também um salário mínimo mais elevado, de pelo menos 53,4 dólares de Hong Kong (6,2 euros) por hora, e defendeu que a cidade deveria seguir o exemplo de outros países, fixando um salário mínimo entre metade e dois terços do salário mediano.

No ano passado, o salário mediano por hora na cidade era de 77,4 dólares de Hong Kong (9 euros ), de acordo com o Departamento de Censos e Estatísticas.

O salário mínimo não se aplica às trabalhadoras domésticas estrangeiras - uma parte crucial do tecido económico e social da cidade - que são oriundas de países como as Filipinas e a Indonésia e que, por lei, são obrigadas a viver nas casas dos seus empregadores.

Economia em convulsão

A paisagem económica de Hong Kong tem sido abalada nos últimos anos pela pandemia de Covid-19 e pela política.

A pandemia devastou os sectores da alimentação, das bebidas, da hotelaria e do turismo. Entretanto, vários sindicatos, que durante décadas representaram centenas de milhares de trabalhadores, dissolveram-se após a introdução de uma lei de segurança nacional que tem sido utilizada para prender figuras políticas, jornalistas, professores e manifestantes.

Durante muitos anos, milhares de manifestantes saíram à rua no Dia do Trabalhador, a 1 de Maio, para apresentar as suas queixas e exigir melhores condições de trabalho. Mas os protestos em massa praticamente desapareceram desde que a lei de segurança nacional foi imposta.

Na segunda-feira, registaram-se apenas algumas pequenas manifestações, com fotografias que mostravam pessoas a segurar cartazes à porta de repartições públicas, exigindo salários mais elevados.

A pandemia também agravou um fosso de riqueza já de si grave, com as famílias mais ricas a ganharem agora 47 vezes mais do que as mais pobres, de acordo com um estudo da Oxfam publicado em outubro passado.

“Os rendimentos do decil mais pobre caíram mais de 20% em comparação com os seus rendimentos antes do surto de Covid”, afirmou a organização num comunicado na altura, apontando para outros problemas, como o desemprego significativo entre as pessoas que vivem na pobreza.

Aumento do custo de vida

A proporção de pessoas que vivem com o salário mínimo - composta principalmente por trabalhadores das áreas de saneamento, limpeza, segurança e comércio a retalho - é, na verdade, mais baixa do que há uma década, disse Wong. Apenas 2,6% dos empregados ganhavam menos de 40 dólares de Hong Kong por hora em 2021, em comparação com 6,4% em 2011.

Mas, acrescentou, a diferença entre o salário mediano e o mínimo aumentou, o que significa que a disparidade de riqueza se agravou. Mesmo que o aumento do salário mínimo signifique que os trabalhadores estão a ganhar um pouco mais de dinheiro “em termos absolutos... não podem partilhar o crescimento económico da cidade ao mesmo ritmo”, afirmou.

Esta situação constitui um desafio especial face à inflação mundial, que tem vindo a afetar o nível de vida das pessoas.

Os custos dos alimentos em Hong Kong aumentaram mais de 7% de dezembro de 2019 a dezembro de 2022, disse Wong, citando o índice de preços ao consumidor (IPC) - o que significa que as pessoas que vivem com salário mínimo “têm que economizar (muito) dinheiro e talvez não possam ter o suficiente para pagar uma dieta nutritiva para sustentar uma vida saudável”.

Os custos da energia também aumentaram mais de 11% durante o mesmo período, segundo Wong, refletindo aumentos semelhantes em todo o mundo. Nos EUA, os preços da eletricidade aumentaram 12% em apenas 12 meses, de acordo com dados de 2022.

“Trata-se de um fardo muito pesado para as famílias com baixos rendimentos”, afirmou Wong.

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