Um humorista contou esta piada na China. Foi cancelado e forçado a pedir desculpa - TVI

Um humorista contou esta piada na China. Foi cancelado e forçado a pedir desculpa

  • CNN
  • Chris Lau
  • 16 mai 2023, 15:04
Exército da China (AP)

“Vou assumir toda a responsabilidade e cancelar todas as minhas atuações para refletir profundamente e reeducar-me”, disse Li Haoshi.

Comediante chinês é forçado a pedir desculpa depois de piada militar ter irritado as autoridades

Um comediante chinês de stand-up cancelou todas as suas atuações depois de ter feito uma referência vaga aos militares do país numa piada, que provocou a ira das autoridades e uma investigação oficial à empresa que o representa.

A controvérsia sublinha a delicada linha que os comediantes têm de percorrer na altamente censurada China, país onde a política raramente é motivo de riso.

De acordo com o meio de comunicação social estatal Jimu News, o humorista Li Haoshi chamou a atenção das autoridades depois de ter utilizado uma frase associada ao Exército de Libertação Popular (ELP) quando, no seu recente número de comédia, contava uma história sobre dois cães vadios.

Mais tarde, numa publicação nas redes sociais, na segunda-feira, ele expressou os seus “profundos remorsos e arrependimento”, dizendo que tinha utilizado “uma analogia extremamente inadequada para levar maus sentimentos e associação ao público”.

“Vou assumir toda a responsabilidade e cancelar todas as minhas atuações para refletir profundamente e reeducar-me”, disse o humorista, que responde pelo nome de House e tem 136 mil fãs na plataforma chinesa Weibo.

A controvérsia teve origem no seu espetáculo no Teatro Century, em Pequim, no sábado, quando brincou com o facto de ter adotado dois cães vadios desde que se mudou para Xangai.

Segundo continuou, um dia os seus dois cães enérgicos perseguiram um esquilo, o que lhe fez lembrar oito palavras, afirmou antes de proferir a controversa frase-final, de acordo com o áudio publicado no site chinês Weibo.

“Belo estilo de trabalho, capaz de vencer batalhas", disse ele, invertendo um conhecido slogan do Partido Comunista Chinês que se refere ao ELP.

A frase foi proferida pela primeira vez em 2013 pelo líder chinês Xi Jinping, que também preside às Forças Armadas, quando estabeleceu uma lista de qualidades que exigia do exército do país. Desde então, tem sido repetida em várias ocasiões oficiais.

“Reforçar a educação”

A piada de Li provocou uma série de gargalhadas durante o espetáculo, como mostra o áudio ouvido pela CNN, mas também provocou mal-estar de um membro da audiência, que, segundo a Jimu News, foi ao Weibo queixar-se de que a piada era inadequada.

A publicação desencadeou um intenso debate no Weibo sobre se Li estava a ser engraçado ou desrespeitoso, chamando a atenção das autoridades, que não se mostraram satisfeitas.

Na segunda-feira, a Agência de Aplicação da Lei Cultural de Pequim lançou uma investigação sobre a Shanghai Xiaoguo Culture Media, a empresa que representa Li, informou o Beijing Evening News.

A Shanghai Xiaoguo Culture Media descreveu a piada como “inapropriada” antes de apresentar um pedido de desculpas num comunicado na segunda-feira.

“Suspendemos o seu trabalho por tempo indeterminado”, declarou a empresa de produção, acrescentando que iria “reforçar a educação e a formação dos atores para manter a ordem na indústria”.

Sem nomear o humorista, o People's Daily, porta-voz do Partido Comunista, afirmou que até os humoristas devem respeitar os limites no que respeita às piadas, e que será um erro colocar o humor acima de tudo.

Nos últimos anos, um novo género de programas, de entrevistas com comediantes de resposta rápida, que se confrontam entre si em concursos televisivos, revelou ser um grande sucesso entre o público jovem na China.

Os humoristas ganham fama ao participarem nestes programas e, muitas vezes, expandem a sua carreira para espetáculos ao vivo, como aconteceu com Li.

Mas os artistas têm de se cingir a guiões pré-aprovados - baseados estritamente em tópicos não políticos - o que torna incrivelmente raras as referências militares indiretas que, desta vez, colocaram Li do lado errado das autoridades.

A China impõe uma censura rigorosa sobre questões que considera sensíveis, desde o decote das mulheres até às críticas contra o Partido Comunista, em todas as plataformas, quer se trate de redes sociais ou dos meios de comunicação social tradicionais.

Esse controlo ideológico tornou-se mais rigoroso durante o governo de Xi, com grande impacto na indústria do entretenimento.

Em 2021, a China aprovou também uma lei que proíbe a difamação e os insultos contra militares.

Em maio passado, o ex-jornalista de investigação Luo Changping foi condenado a sete meses de prisão e obrigado a prestar um pedido de desculpas público por chamar os soldados chineses retratados num filme de grande sucesso sobre a guerra da Coreia de “estúpidos”.

O sentido de humor de Li dividiu os utilizadores das redes sociais chinesas.

Um utilizador do Weibo questionou: “Como é que a multidão ainda se estava a rir?”

Outro utilizador do WeChat, uma aplicação de mensagens instantâneas que também permite aos utilizadores escreverem em blogs, foi mais compreensivo. “Esta não é uma boa analogia e não tem piada. Mas este ator não tinha intenção de insultar os soldados", escreveu.

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