Sonae sobre aumento de preços: "Se tivesse de procurar algum culpado, seria, talvez, o presidente da Rússia, ou a China, ou a seca” - TVI

Sonae sobre aumento de preços: "Se tivesse de procurar algum culpado, seria, talvez, o presidente da Rússia, ou a China, ou a seca”

  • Agência Lusa
  • BCE
  • 16 mar 2023, 14:51

Presidente executiva do grupo Sonae garante que "toda a cadeia alimentar está a ter uma atitude muito responsável" perante a inflação

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A presidente executiva (CEO) da Sonae garantiu esta quinta-feira que “toda a cadeia alimentar está a ter uma atitude muito responsável” face à inflação, salientando que a margem de lucro do retalho alimentar do grupo recuou em 2022 para 2,7%.

“Sinceramente, acho que toda a cadeia alimentar está a ter uma atitude muito responsável. Vejo aí tudo à procura de culpados [para a subida dos preços, mas] não é a cadeia alimentar com certeza. Se eu tivesse que procurar algum culpado, seria, talvez, o presidente da Rússia, ou a China, ou a seca”, afirmou Cláudia Azevedo durante a apresentação dos resultados de 2022 do grupo Sonae.

Reiterando que “toda a cadeia alimentar, desde os produtores até aos distribuidores, tem tido uma atitude muito responsável” face ao atual contexto inflacionista, a líder da Sonae afirmou: “Isso vê-se nos dados, vê-se nos dados produzidos pelo Estado, portanto não vejo onde é que está o mistério de que andam à procura na cadeia alimentar”.

Para Cláudia Azevedo, “é um problema sério Portugal ter 20% de inflação alimentar” e a Sonae quer “ser parte da solução”, rejeitando a “campanha de desinformação” que aponta para um eventual aproveitamento por parte do setor da distribuição, aumentando as margens.

Fixar preços máximos no setor alimentar "dá sempre mau resultado"

Questionada pelos jornalistas sobre se a eventual fixação de preços máximos para os bens essenciais poderia ser uma solução para mitigar os efeitos da inflação, a líder da Sonae avisou que “tentar fixar preços dá sempre mau resultado” num mercado como o alimentar.

“Um produtor português que tem que remunerar os seus fatores de produção – e muito bem – não vai querer vender a uma cadeia portuguesa com os preços fixos. Vai vender lá fora. E um produtor internacional também não vai vender a Portugal com margens tão baixas. Eu acho que o resultado final de uma política dessas é as prateleiras vazias. E acho que isso ninguém quer”, sustentou.

Cláudia Azevedo salientou ainda que “o facto de os preços subirem não quer dizer que haja mais lucros, pelo contrário”: “O facto de as pessoas estarem a vender mais caro não significa, em nenhum dos casos, mais lucros. Não vamos atacar aí pelas margens."

Relativamente às operações que têm vindo a ser desenvolvidas pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) junto de supermercados e hipermercados de todo o país - e que e que resultou na instauração de várias dezenas de processos-crime pela prática do crime de especulação, nomeadamente por diferenças entre os preços afixados nas prateleiras e o valor pago em caixa pelos consumidores - a CEO da Sonae considerou que “a ASAE tem de continuar a fazer o seu papel e fiscalizar”.

“Nós fazemos muito mais controlo nessa situação [de diferenças entre o valor afixado e efetivamente pago] do que a ASAE, fazemos imensas auditorias internas. Isso às vezes acontece, mas é mesmo muito raro e, quanto acontece, é até mais em benefício do cliente”, sustentou.

Segundo Cláudia Azevedo, sendo Portugal “um país que compra 50% em promoção, a ‘guerra’ competitiva é muita nas promoções”: “Estamos constantemente a remarcar os preços em loja e pode acontecer – não devia, mas pode acontecer – um erro ao trocar uma etiqueta. Mas é muito, muito raro e fazemos muito mais controlo do que a ASAE, para nós esse é um tema importantíssimo”, assegurou.

Defendendo que “a ASAE tem de continuar a fazer o seu papel e a fiscalizar”, a líder da Sonae considerou que “instrumentalizar casos isolados” é que “é um ataque ao setor, de desinformação”.

“Nunca sabemos de quem estão a falar e que números estão a usar”, disse.

Sonae prevê pagar valor "relativamente marginal" de imposto sobre lucros extraordinários

O administrador financeiro da Sonae, João Dolores, antecipou que o valor da taxa sobre lucros extraordinários que recairá sobre o grupo deverá ser “relativamente marginal” face ao total de impostos que atualmente já paga.

“Face à [atual] pressão na nossa rentabilidade, a nossa expectativa é que o valor que venhamos a pagar seja marginal face à totalidade de impostos que pagamos ao Estado português hoje em dia”, afirmou o responsável financeiro durante a apresentação das contas de 2022 da Sonae, que decorreu hoje na Maia, distrito do Porto.

“Ainda não temos esse cálculo realizado, porque só submetemos a declaração daqui a alguns meses e, portanto, ainda estamos a computar esse valor, mas na nossa perspetiva, à data de hoje, será um valor relativamente marginal face ao total de impostos que pagamos”, acrescentou.

Assumindo-se contra o pagamento deste imposto, João Dolores explicou: “Não reconhecemos o conceito de lucros excedentários. Se lucros excedentários são lucros superiores numa empresa que investe no país, que cria emprego e que abre novas lojas, como é o nosso caso, sinceramente não nos parece correto estar a considerar estes lucros excedentários”, sustentou.

“Nos últimos quatro anos abrimos no retalho alimentar mais de 200 lojas em Portugal, investimos mais de 800 milhões de euros em Portugal e criámos mais de 5.000 empregos. Portanto, é natural que, investindo, os lucros também subam do ponto de vista absoluto e estar a penalizar quem investe no país parece-nos a todos um mau princípio”, acrescentou.

Na mesma linha, a CEO, Cláudia Azevedo, afirmou que em causa está “um imposto novo sobre o crescimento”.

“Aliás, acho que este imposto, no setor da distribuição alimentar, só existe em Portugal e na Hungria e eu não gostava de estar em muitas categorias com a Hungria”, ironizou a líder da Sonae.

O diploma que regulamenta as contribuições de solidariedade temporárias sobre os setores da energia e da distribuição alimentar foi promulgado no final de 2022 pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Este ‘windfall tax’ sobre os setores do petróleo, gás natural, carvão e refinação terá uma aplicação temporária, durante dois anos, incidindo também sobre as empresas de distribuição alimentar.

Apesar do “enquadramento de negócio difícil”, o administrador financeiro afirmou que a Sonae mantém a “ambição” de crescer e entrar em novos negócios, estando atenta a “novas oportunidades de investimento que tragam o grupo para um patamar de crescimento diferente e, até, mais acelerado do que no passado”.

“A Sonae tem uma filosofia de gestão de portefólio bastante ativa e continua a olhar para várias oportunidades potenciais de investimento interessantes para os próximos meses e anos”, disse.

No retalho alimentar, João Dolores disse ser notória – e até com “um efeito mais forte no arranque deste ano” – uma queda nos volumes de vendas nos supermercados da Sonae, assim como uma “mudança de ‘mix’" nos produtos vendidos, "porque os clientes estão a restringir os seus padrões de consumo”.

Ainda assim, o responsável financeiro garantiu que a Sonae mantém “a ambição de crescimento nos vários conceitos de retalho” que opera: “Em termos de planos de abertura de lojas, para 2023 mantemos a nossa ambição de crescimento nos vários conceitos de retalho que temos, em particular na MC, e no retalho alimentar vamos continuar a abrir lojas”, disse.

Segundo precisou, o objetivo – já assumido no ano passado – “é abrir, pelo menos, cerca de 20 lojas de retalho alimentar por ano e com foco, sobretudo, no formato de proximidade ‘Bom Dia’”, de forma a expandir a rede do grupo “de forma mais capilar no mercado português”.

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