Quem vai ser dono do Manchester United? Os candidatos e a porta que a UEFA abriu - TVI

Quem vai ser dono do Manchester United? Os candidatos e a porta que a UEFA abriu

Old Trafford, Manchester: 74.879

Processo da potencial venda do clube avança. As duas propostas públicas levantam um problema imediato, mas o presidente da UEFA mostrou-se disponível para uma mudança nos regulamentos

Quem vai ser dono do Manchester United? Esta pergunta vale uns milhares de milhões de euros, potencialmente um valor recorde para um clube de futebol. O processo está rodeado de muitas dúvidas, desde logo quanto às verdadeiras intenções dos atuais donos. Mas está a avançar. Por estes dias, as duas candidaturas públicas entraram em discussões formais com o clube. E ouviram o presidente da UEFA abrir a porta a uma mudança nos regulamentos que pode facilitar este processo.

Ambas as candidaturas, uma do sheik Jassim bin Hamad Al Thani, membro da família real do Qatar, e outra do britânico Jim Ratcliffe, dono do Nice e do Lausanne, levantam questões sobre o potencial conflito em torno da propriedade simultânea de vários clubes. A UEFA tem em vigor regulamentos que pretendem impedir a participação na mesma competição de clubes que partilhem controlo por um acionista maioritário, em nome da integridade das competições. Essa é uma tendência crescente. No último relatório sobre a realidade dos clubes europeus, a UEFA concluiu que o número de clubes que partilham donos aumentou perto de cinco vezes nos últimos dez anos, representando já um total de 180 clubes. No mesmo documento, o organismo admitia que essa tendência «tem o potencial de colocar uma ameaça material à integridade das competições europeias, com risco crescente de vermos dois clubes do mesmo dono ou investidor defrontarem-se em campo». Mas agora Aleksander Ceferin admite rever a regra.

«Temos de repensar esta regulamentação», disse o presidente da UEFA numa entrevista ao programa de Gary Neville no Youtube. «Há cada vez mais interesse neste tipo de propriedade. Não devíamos apenas dizer não à multi-propriedade de clubes», prosseguiu, acrescentando que a decisão «tem de ser rápida» e admitiu que pondera mudar a regra não só, mas também, por causa do processo do Manchester United: «Não estamos a pensar apenas no United. Tivemos cinco ou seis donos que quiseram comprar outro clube. Temos de ver o que fazemos, debater e levar o assunto ao Comité Executivo. As opções são ficar como está ou permitir-lhes jogar as mesmas competições. Não tenho certezas.»

O fim da era Glazer?

O processo da eventual venda do clube foi desencadeado em novembro, quando a direção do Manchester United anunciou que ia «considerar todas as alternativas estratégicas, incluindo novos investimentos, uma venda ou outras transações», para «potenciar o crescimento futuro do clube». Estava aberta a porta para o fim da era Glazer. Curiosamente, no mesmo dia em que foi anunciada a rescisão com Cristiano Ronaldo, que deixou o clube depois da entrevista a Piers Morgan em que disparou em várias direções, incluindo a gestão dos Glazer, que acusou de «não quererem saber do clube».

A relação dos adeptos do United com os atuais donos foi conturbada desde que o empresário norte-americano Malcolm Glazer entrou no clube, adquirindo sucessivas parcelas de capital até ganhar controlo total em 2005. Para o fazer, recorreu em boa parte a empréstimos, que se refletiram em dívida para o clube. A hostilidade de vários setores de adeptos nunca desapareceu e foi subindo de tom face à crescente quebra de rendimento do clube em campo nos últimos anos.

Depois da morte de Malcolm Glazer em 2014, a propriedade do clube passou a ser dividida pelos seus seis filhos. Alguns deles já venderam parte das suas ações e nesta altura, estima a imprensa britânica, a família tem 69 por cento das ações da empresa detentora do clube, cotada na bolsa de Nova Iorque, estando o restante disperso por vários investidores.

A dimensão do Manchester United, um dos clubes mais populares do mundo, justifica toda a expectativa em torno de uma eventual venda. Com muitos analistas a admitir que, a acontecer, ela se faça por valores recorde. O Financial Times, por exemplo, estimou que pudesse atingir os oito milhões de euros, bem acima do valor do negócio da venda do Chelsea no ano passado, 4.9 mil milhões de euros

O Manchester United é um dos clubes com maior capacidade de gerar receitas – está em quarto lugar na lista dos mais ricos elaborada pela Deloitte. Mas na última época o clube teve prejuízos 115,5 milhões de libras (cerca de 132 milhões de euros), com o passivo a atingir os 590 milhões de euros.

As propostas e as preocupações dos adeptos

Desde que os Glazer lançaram o processo foram noticiadas muitas hipóteses de eventuais interessados. Mas quando o primeiro prazo informal para apresentação de propostas terminou, em meados de fevereiro, apenas foram tornadas públicas duas candidaturas. Os representantes de ambas as propostas iniciaram esta semana visitas a Old Trafford para saberem mais sobre as contas do clube, cerca de um mês depois de terem formalizado o seu interesse.

Haverá uma terceira entidade envolvida, o fundo norte-americano Elliott Investment Management, que não pretende no entanto comprar o clube mas, de acordo com a BBC, se propõe ajudar a financiar potenciais compradores ou mesmo a família Glazer, se esta acabar por decidir não vender. Por agora, os donos estão na fase de avaliação das propostas que estão sobre a mesa, num processo que está a ser conduzido pelo banco norte-americano Raine Group, o mesmo que geriu a venda do Chelsea. 

Do lado dos adeptos, o processo é aguardado com expectativa. E preocupação acrescida desde que foram conhecidas as candidaturas.  A principal organização de adeptos do clube, o Manchester United Suporters Trust, deu voz a essas preocupações, que passam pela multi-propriedade, pelo risco de aumento da dívida do clube e por preocupações relativas a direitos humanos. «Há questões sobre integridade desportiva, dadas as ligações excecionalmente próximas entre alguns candidatos e os donos de outros clubes europeus, incluindo o PSG e o Nice», defendem: «Também há questões sobre se estas candidaturas são baseadas em altos níveis de dívida. Também destacamos a importância de qualquer dono respeitar os direitos de todas as pessoas.»

O Maisfutebol apresenta-lhe o essencial das duas propostas que foram tornadas públicas.

O sheik e as ligações do Qatar

Uma das candidaturas é liderada pelo sheik Jassim bin Hamad Al Thani, membro da família real alargada do Qatar. Foi anunciada num comunicado que revelou que a proposta de aquisição era feita através de uma fundação do sheik Jassim chamada Nine Two Foundation, um nome a piscar o olho à memória do clube e à classe de 92, a base da equipa de sucesso do United que culminou com a conquista da Liga dos Campeões em 1999.

O valor oferecido não é público, tendo sido apenas anunciado que serão revelados mais detalhes «se e quando o processo evoluir». A candidatura anunciou que a oferta se estende a 100 por cento do Manchester United. Apresenta-se como «completamente livre de dívida» e garante que o projeto passa por «investir nas equipas de futebol, no centro de treinos, no estádio e nas infraestruturas alargadas, na experiência dos adeptos e nas comunidades que o clube apoia». Pretende, além disso, «devolver o clube à sua antiga glória dentro e fora do campo» e garante que procurará «colocar de novo os adeptos no centro» do clube.

Embora não haja muita informação pública sobre o sheik Jassim, sabe-se que é presidente do Banco Islâmico do Qatar e tem cargos em várias instituições do país. A proposta para comprar o Manchester United é apresentada como uma candidatura individual do sheik Jassim, mas essa é uma questão complexa, dada a interligação entre o Estado e as instituições financeiras ou económicas do Qatar. O seu pai, Hamad bin Jassim bin Jaber Al Thani, foi primeiro-ministro durante vários anos, nomeadamente no período em que o Qatar intensificou a aposta na promoção do país através do desporto, com a candidatura ao Mundial 2022 e a compra do PSG.

A proposta do homem mais rico do Reino Unido

A outra candidatura tornada pública foi a de Jim Ratcliffe, bilionário britânico natural da região de Manchester e adepto do United que é dono da empresa de produtos químicos INEOS. Através da companhia, aquele que é considerado pela Forbes o homem mais rico do Reino Unido foi realizando diversos investimentos na área do desporto. É dono dos franceses do Nice – que por sinal estão esta época a competir na Liga Europa, tal como o Manchester United - e dos suíços do Lausanne, tem uma participação na Fórmula 1 através da Mercedes e adquiriu também a equipa de ciclismo Team Sky, agora INEOS.

Ratcliffe, de 70 anos, tentou na primavera passada comprar o Chelsea, mas a sua proposta foi recusada e não chegou a entrar na lista final de três candidaturas de aquisição do clube londrino. Agora pretende adquirir o Manchester United. Também não é público o valor da oferta. No comunicado de anúncio da candidatura, Ratcliffe anunciou que fez «uma proposta pela propriedade maioritária» do Manchester United. Ou seja, não se propõe adquirir a totalidade das ações. Pretenderá comprar a percentagem detida pelos Glazer sendo que, segundo a Sky, poderá mais tarde tentar adquirir o resto das ações.

Ratcliffe não fala em investimento específico em infraestruturas, mas diz que por trás da candidatura está uma motivação «ambiciosa e altamente competitiva, que pretende investir no Manchester United para o tornar novamente o clube número um no mundo». «Veríamos o nosso papel como guardiões a longo prazo do Manchester United em nome dos adeptos e da comunidade em geral», diz a candidatura, acrescentando que pretende «aprofundar a cultura do futebol inglês, tornando o clube um farol para uma abordagem à propriedade moderna, progressiva e centrada nos adeptos».

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