Cérebro humano pode apagar traumas - TVI

Cérebro humano pode apagar traumas

  • Portugal Diário
  • 13 jul 2007, 10:43

«Esquecer memórias» é um traço evolutivo do cérebro humano

Relacionados
O cérebro humano tem a capacidade de apagar voluntariamente as recordações traumatizantes, que podem conduzir a novos tratamentos contra a depressão e a ansiedade. Esta é a conclusão de um estudo publicado, esta sexta-feira, na revista americana Science, noticia a Lusa.

«Neste estudo, demonstrámos que os indivíduos têm a capacidade de aprender a eliminar selectivamente as más recordações da sua memória», explicou Brendan Depue, investigador de neurociência da Universidade do Colorado e um dos co-autores desta pesquisa.

«Pensamos ter descoberto os mecanismos neuronais deste fenómeno e esperamos que esta descoberta resulte em novas terapêuticas e novos medicamentos que permitam tratar um certo conjunto de perturbações emocionais», acrescentou.

Treinar o cérebro

Durante um período de treino, os participantes neste estudo tiveram de memorizar 40 pares de imagens que mostravam, alternadamente, uma face humana emocionalmente neutra e uma cena perturbadora.

Os indivíduos foram depois submetidos a um exercício para determinar se, após verem a imagem neutra, conseguiam lembrar-se da imagem traumatizante correspondente, ou se ela era esquecida.

O cérebro dos participantes foi submetido a uma ressonância magnética que permite visualizar em tempo real o funcionamento de um órgão. Segundo os investigadores, o processo de supressão da memória situa-se na «sede do controlo dos pensamentos», o córtex pré-frontal.

Os cientistas descobriram que duas zonas do córtex pré-frontal agem em conjunto para neutralizar a actividade de outras regiões específicas do cérebro que têm um papel importante na memória visual e na emoção, como o córtex visual, o hipocampo e a amígdala.

Os resultados do estudo

«Os resultados deste estudo mostram que o processo de supressão se produz e intervêm sob o controlo das regiões pré-frontais do cérebro», escrevem os autores do estudo.

Estes acrescentam ainda que a parte mais anterior do córtex pré-frontal, que tem um papel activo no mecanismo de supressão voluntária da memória, representa uma característica relativamente recente na evolução do cérebro humano.

«Esta investigação mostrou que os sujeitos puderam controlar a sua memória emocional ao colocarem "de vigia" algumas partes do seu cérebro de forma a não se lembrarem de lembranças desagradáveis», afirmam os investigadores.

Segundo os cientistas, esta capacidade de esquecer é um traço positivo na evolução humana.

Se os caçadores da idade da pedra, tendo escapado por pouco às garras de um leão quando caçavam um antílope, não se conseguissem esquecer dessa experiência aterradora, teriam deixado de caçar e teriam morrido à fome, exemplificam os investigadores.

Os cientistas acrescentaram que não conseguiram determinar quantas sessões de treino seriam necessárias para que um soldado fortemente traumatizado pela guerra, ou uma pessoa vítima de um acidente grave, possa aprender a esquecer essas experiências.

Este estudo vem de encontro às teses do pai da psicanálise, Sigmund Freud, que no início do século XX criou o conceito de «memórias reprimidas».
Continue a ler esta notícia

Relacionados

EM DESTAQUE