Médio Oriente: correspondente acusa jornalistas de terem medo - TVI

Médio Oriente: correspondente acusa jornalistas de terem medo

Jovem palestiano atingido por militar israelita

Na aptresentação do seu livro, Robert Fisk fala da «cobardia» com que os repórteres relatam o que está a acontecer no mundo

Robert Fisk, correspondente britânico no Médio Oriente, autor de «A Grande Guerra pela Civilização», cuja versão portuguesa foi apresentada esta terça-feira em Lisboa, acusa a comunicação social de ter medo de usar as palavras correctas.

Repórter de renome para assuntos internacionais, Robert Fisk falou, na Universidade Nova de Lisboa, na apresentação do seu livro, sobre a «má qualidade do jornalismo» e a «cobardia» com que os repórteres relatam o que está a acontecer no mundo.

Aludindo ao conflito israelo-palestiniano, Fisk afirmou que em muitos casos os jornais ocidentais não usam o termo «territórios ocupados» desde que o secretário de Estado norte-americano Colin Powell disse a diplomatas dos Estados Unidos para se referirem a eles como «territórios disputados».

«Uma colónia unicamente para judeus, em território árabe, contra toda a lei internacional, torna-se num «colonato» e nos jornais norte-americanos é referida como «bairro», adiantou.

«O problema com esta troca de palavras é que se vemos um palestiniano a atirar uma pedra - e se sabemos que o seu território está a ser «ocupado», que está a ser travada uma guerra no seu quintal porque lhe estão a tirar a terra para dar a outras pessoas - podemos compreender o motivo por que ele está a atirar uma pedra», afirmou.

«Mas se o que está em causa é uma «disputa», algo que se pode tratar nos tribunais, ou um problema de um «bairro», então qualquer pessoa que atirar uma pedra nessas circunstâncias é obviamente, em termos gerais, violenta», adiantou.

«Assim, desumanizamos os palestinianos através da semântica - porque não queremos que ninguém nos critique. (...) Queremos ser justos para ambos os lados», referiu.

Na sua primeira visita a Portugal desde que se deslocou ao país para, em 1975, relatar a pós-revolução dos cravos, Fisk defende que os jornalistas devem ter sempre consigo um bloco de notas e um livro de história.

«Não usem a Internet, não vejam websites. Tenham sempre livros de história e leiam, leiam, leiam», aconselha, para que os profissionais da comunicação social saibam «o que vai acontecer».

Em 1917 - disse - «o general que liderou as forças britânicas (contra o Iraque) emitiu uma nota, que foi afixada nas ruas de Bagdad, e na qual se lia: «Vimos aqui não como conquistadores mas como libertadores, para vos libertar de gerações de tirania». As palavras, segundo Fisk, são praticamente idênticas às que o Presidente norte-americano George W. Bush utilizou em 2003.

«Perdemos o Iraque e vamos perder todo o Médio Oriente porque não lemos a história e também porque não nos preocupamos com as pessoas que aí estão», defendeu.

O mundo ocidental está constantemente a «dar democracia e liberdade ao povo do Médio Oriente (...) e chegamos sempre com imensos tanques e militares para lhes dar a democracia», ironizou. «Nunca quisemos na verdade a democracia no Iraque», acusou Fisk, referindo que o interesse era o petróleo.

«Temos de tirar todas as nossas tropas do mundo muçulmano. Não estamos em território nosso, não temos o direito de estabelecer as nossas regras e de impor a nossa democracia», disse o jornalista.
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