"Temos fome": falta de água e de comida gera o caos no Nepal - TVI

"Temos fome": falta de água e de comida gera o caos no Nepal

Forte sismo no Nepal (Lusa/EPA)

Oito milhões de nepaleses afetados pelo terramoto, incluindo 1,4 milhões com necessidade de ajuda alimentar imediata. Programa Alimentar Mundial diz que o esforço para prestar ajuda pode durar meses

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Com as palmas das mãos unidas em forma de súplica, as mulheres nepalesas imploram por comida, por abrigo e por todos os mantimentos que um helicóptero levou na quarta-feira a uma devastada aldeia de montanha no Nepal, perto do epicentro do terramoto de 25 de abril, que provocou mais de cinco mil mortos.

Em contraste com a capital Katmandu, onde a maioria dos edifícios não ficou completamente destruída, as aldeias de montanha no distrito de Gorkha foram devastadas. As casas foram reduzidas a pilhas de escombros e pedras e madeira lascada, refere a Associated Press.

“Estamos com fome”, afirma uma mulher em lágrimas de nome Deumaya, enquanto aponta para o estômago e abre a boca em desespero. Outra mulher, Ramayana, olhos esbugalhados, repete como se fosse uma ladainha: “Fome! Estamos com fome! ''


Mas a comida não é a única necessidade nestes lugares longe de estradas pavimentadas, eletricidade e outras comodidades do mundo moderno. Por estes dias, aqui até a água é escassa. A comunicação é difícil. E cuidados de saúde são um luxo que poucos por aqui já viram.

Gumda é uma das aldeias que sentiu com toda a força o terramoto de magnitude 7,8 que atingiu os Himalaias no sábado. Mas, como em muitas outras aldeias, o número de mortos em Gumda foi muito inferior ao que se temia no início, uma vez que muitos moradores estavam a trabalhar fora quando o terramoto ocorreu ao meio-dia. Dos 1.300 habitantes de Gumda, houve cinco mortos e 20 feridos.

Quando o helicóptero aterrou na quarta-feira com sacos de arroz de 40 kg, o vento e a chuva assolavam a região montanhosa. Vendo as condições, Geoff Pinnock, do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, afirmou: "O próximo fornecimento será de abrigos de plástico. Estas pessoas precisam mais de abrigo do que de comida. ''

Cerca de 200 moradores aglomeraram-se sob alguns guarda-chuvas para receberem os mantimentos.

“Obviamente são necessários mais helicópteros, mais pessoal e certamente mais elementos de auxílio, incluindo equipamentos médicos, roupas, tendas, água, artigos de higiene e alimentos”, disse à AP Geoff Pinnock, que coordena os voos de ajuda.


Como oito milhões de nepaleses foram afetados pelo terramoto, incluindo 1,4 milhões com necessidade de ajuda alimentar imediata, Pinnock referiu que o esforço para prestar ajuda pode durar meses. "Isto não se resolve de um dia para o outro'', afirmou.

A polícia nepalesa afirmou na quarta-feira que o número de mortos no terramoto subiu para 5.027. Mais 18 pessoas morreram nas encostas do Monte Everest e 61 na vizinha Índia. A agência de notícias oficial chinesa Xinhua noticiou que havia 25 mortos no Tibete. O terramoto também provocou mais de 10 mil feridos e milhares de desalojados. De acordo com a ONU, o sismo afetou 8,1 milhões de pessoas - mais de um quarto dos 27,8 milhões de habitantes do país - e 1,4 milhões necessitam de alimento.

Depois do sismo, Nepal luta por meios de sobrevivência para matar a fome (Reuters)


Ao pequeno aeroporto de Kathmandu chegam aeronaves com mantimentos, mas o processo de distribuição é caótico.

Cerca de 200 pessoas bloquearam o trânsito, quarta-feira, na capital, para protestarem contra a lentidão do processo de distribuição dos mantimentos. Houve alguns confrontos com a polícia, mas ninguém foi detido.

Ainda de acordo com a AP, a polícia prendeu dezenas de pessoas suspeitas de saquearem casas abandonadas e de causarem o pânico ao espalharem rumores de outro grande terramoto. O chefe de polícia Bigyan Raj Sharma disse que 27 pessoas foram detidas por roubo.

Mas há sinais de um regresso à normalidade. Os bancos abriram por várias horas, na quarta-feira, em Kathmandu, e carregaram com dinheiro as caixas Multibanco.

Milhares de pessoas fizeram fila nos terminais de autocarro na capital, na esperança de chegar às aldeias rurais. Algumas tinham poucas notícias das famílias desde sábado.



 
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