Quatro em cada cinco doses da vacina da AstraZeneca (AZ) contra a covid-19 não foram administradas nos países da União Europeia, revela uma investigação do jornal The Guardian, baseada em dados do Centro Europeu para Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC).
De acordo com os dados mais recentes da ECDC, consultados esta quinta-feira pela TVI24, é estimado que 4.849.752 das 6.134.707 doses distribuídas entre os 27 estados membros ainda não foram administradas.
Estes valores surgem enquanto a incerteza sobre a eficácia da vacina desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford predomina. Em Alemanha e França surgem notícias de que grande parte da população admite preferir receber a vacina da Pfizer, que além de ter apresentado resultados suficientemente sólidos junto dos mais idosos, também registou uma eficácia mais alta após a realização dos ensaios clínicos.
A Chanceler alemã, Angela Merkel, sugere até que exista um “problema de aceitação” na Europa.
A AstraZeneca é uma vacina confiável, eficaz e segura, aprovada pela Agência Europeia de Medicamentos e recomendada na Alemanha até os 65 anos de idade. Todas as autoridades dizem que a vacina é confiável. Dado que as vacinas são tão escassas, não podemos escolher quem vacinar”, sublinhou Merkel numa entrevista ao Frankfurter Allgemeine Zeitung.
A decisão das autoridades de França, Alemanha, Polónia e Itália de recomendar o uso da vacina Oxford / AstraZeneca apenas em pessoas com menos de 65 anos é provavelmente um fator significativo na lentidão da sua administração lenta, com substanciais falhas em redirecionar as vacinas para a população mais jovem.
Os dados do ECDC destacam algumas discrepâncias evidentes entre a quantidade de vacinas da AstraZeneca disponíveis nos estados membros e o número de doses administradas à população.
Exemplificando, a Bélgica recebeu 201.600 doses da AZ, mas utilizou apenas 9.832 (4%), segundo a agência europeia. A Alemanha é outra amostra neste caso: recebeu perto de milhão e meio de doses e administrou cerca de 190 mil (13%).
Comparativamente, Portugal teve acesso a 177.600 doses e já vacinou pelo menos 50.218 pessoas (28.3%). Espanha, por sua vez, administrou 32.9% de todas as vacinas da farmacêutica.
A Itália teve 499.200 doses entregues, mas os médicos realizaram apenas 96.621 inoculações (19%).
Os resultados da vacinação com o produto da AstraZeneca, que não é realizado com base na técnica de mRNA como a vacina da Pfizer, ganham uma outra dimensão quando colocados lado a lado com as outras vacinas disponíveis no mercado.
Quatro em cada cinco doses da vacina Pfizer fornecidas à Bélgica (81%), Itália (80%) e Alemanha (82%) foram administradas, sugerem os dados do ECDC.
Entre as intervenções de maior visibilidade no debate sobre a vacina nas últimas semanas, está o presidente francês, Emmanuel Macron, que sugeriu que a vacina AstraZeneca era “quase ineficaz”.
A França não apresentou dados ao ECDC sobre quantas de suas 1.137.600 doses Oxford / AstraZeneca administrou, mas os números fornecidos pelo site Covidtracker.fr estimam em apenas 125.859 (11%).
A implementação da vacinação da UE tem sido alvo de várias críticas devido à falta de abastecimento nos últimos meses. Esta terça-feira, a AstraZeneca afirmou que vai enviar menos de metade das vacinas contra a covid-19 contratualizadas com a União Europeia para o segundo trimestre de 2021.
De acordo com um responsável da UE que pediu anonimato, este corte no número de vacinas pode comprometer o objetivo da UE de vacinar 70% da população adulta até ao verão. Porém, o MNE já veio afirmar que este fator não compromete os objetivos de vacinação.
O problema para alguns reguladores europeus é que afirmam que o número de infetados no ensaio da AstraZeneca com mais de 65 anos é baixo e não permite tirar conclusões sobre a eficácia da vacina. Apenas duas das 660 pessoas nessa faixa etária foram infetadas pelo novo coronavírus.
No entanto, a Agência Europeia de Medicamentos aprovou a vacina AstraZeneca para todas as faixas etárias, mas alguns organismos nacionais desaconselharam a utilização em faixas etárias mais velhas, devido à falta de dados disponíveis sobre a eficácia na altura.
A Direção-Geral da Saúde (DGS) considera que, até novos dados estarem disponíveis, a vacina contra da covid-19 da AstraZeneca deve ser preferencialmente utilizada para pessoas até aos 65 anos de idade.
Numa norma divulgada no seu ‘site’, a DGS acrescenta, no entanto, que "em nenhuma situação deve a vacinação de uma pessoa com 65 ou mais anos de idade ser atrasada" se só estiver disponível esta vacina.