Estar privado de contactos sociais causa um cansaço físico igual ao de um jejum de oito horas, conclui um estudo das Universidades de Viena, na Áustria, e de Cambridge, no Reino Unido.
“O isolamento social levou a uma menor excitação energética autorreferida e a um aumento da fadiga, comparável à privação de alimentos”, lê-se no estudo, publicado na revista Psychological Science.
Para chegarem a esta conclusão, os cientistas investigaram os efeitos de oito horas de isolamento social em variáveis psicológicas e fisiológicas e compararam esses mesmos efeitos com oito horas de privação de alimentos.
Para tal, os cientistas realizaram um estudo de laboratório e um estudo de campo. No estudo controlado de laboratório, analisaram 30 voluntários durante três períodos de oito horas ao longo de três dias: num dia os participantes foram privados de contacto social durante essas horas, no outro foram privados de alimentos e no terceiro foram privados de ambos. No final de cada uma destas experiências, os participantes relataram os níveis de stress, humor e cansaço, tendo ainda sido medidos os níveis de cortisol e a tensão arterial.
Já o estudo de campo decorreu durante o primeiro confinamento da covid-19 (abril e maio de 2020), tendo participado 87 pessoas da Alemanha, Áustria e Itália, que se submeteram a oito horas de isolamento total e responderam, através de uma aplicação móvel, a questões sobre os níveis de stress, humor e cansaço.
“No estudo de laboratório, encontrámos semelhanças impressionantes entre o isolamento social e a privação de alimentos”, os psicólogos Ana Stijovic e Paul Forbes, da Universidade de Viena, na Áustria. Segundo estes dois autores do estudo, “ambos os estados induziram a uma diminuição da energia e a um aumento da fadiga, o que é surpreendente, visto que a privação de alimentos faz-nos, literalmente, perder energia, enquanto o isolamento social não”.
“O isolamento social de curto prazo aumentou a solidão momentânea e o desejo de contacto social”, dizem os autores, defendendo que estas duas experiências, e a redução do nível de energia que as pessoas relataram após estarem em isolamento social durante apenas oito horas, leva a crer que o impacto a longo prazo pode ser ainda mais nocivo para a saúde física e mental.
“Mudanças na energia e na fadiga após o isolamento social agudo podem ser um precursor dos efeitos mais prejudiciais do isolamento de longo prazo. A solidão mostra uma forte relação bidirecional com sentimentos de energia e o isolamento social percebido momentaneamente está relacionado com a maior sonolência, fadiga e menor energia no dia seguinte”, concluem.