Israel está deliberadamente a aplicar "força desproporcional" e a atingir "infraestruturas civis" na Faixa de Gaza. A informação consta de um memorando confidencial da embaixada dos Países Baixos em Telavive, citado pelo site neerlandês NRC.
De acordo com o memorando, a estratégia militar de Israel passa por evidenciar uma "força militar credível" para enviar uma mensagem ao Irão e aos seus representantes, como o Hezbollah, de que "não irão parar" independentemente das ameaças exteriores.
Esta estratégia, refere-se no memorando, visa "causar deliberadamente destruição maciça de infraestruturas civis" em Gaza, tendo como alvo casas, pontes e estradas, o que explica, no entender da embaixada, "o elevado número de mortes entre civis".
Tudo isto para eliminar completamente o Hamas na região - objetivo que a embaixada neerlandesa considera que "é virtualmente impossível de alcançar".
Esta abordagem "viola os tratados internacionais e as leis de guerra" e, consequentemente, aumenta a escalada do conflito no Médio Oriente, adverte o memorando.
Neste contexto, a embaixada neerlandesa em Telavive acusa o governo dos Países Baixos de estar ciente desta "abordagem implacável" de Israel e de não a condenar. O primeiro-ministro neerlandês, Mark Rutte, já avisou na semana passada o homólogo israelita, Benjamin Netanyahu, de que Israel "deve mostrar que o que está a fazer [em Gaza] é proporcional" aos ataques do Hamas, mas a embaixada aponta o dedo ao chefe do executivo por não apelar publicamente a um cessar-fogo.
Em resposta, o Ministério dos Negócios Estrangeiros neerlandês indica ao POLITICO que "nem todos os documentos internos devem ser vistos como uma recomendação política" do governo dos Países Baixos.
“Não comentamos a grande variedade de documentos que são elaborados no ministério ou nas missões diplomáticas como parte do processo de elaboração de políticas”, refere-se numa nota enviada por aquele ministério, que acrescenta que os Países Baixos estão "muito preocupados" com a "gravidade e escalada" do conflito entre Israel e o Hamas, defendendo que "devem ser evitadas mais vítimas civis de ambos os lados".
“Pedimos moderação e continuamos a defender isto em todas as nossas conversações diplomáticas”, salienta-se na mesma nota. “A situação é altamente complexa. E isso apenas reafirma a importância de investigar os acontecimentos no terreno", acrescenta o ministério.