Marco Serronha, comentador da CNN Portugal, considera que estão "reunidas as condições para o início da ofensiva terrestre" em Israel. O major-general afirmou esta sexta-feira na CNN Portugal que "a preparação do exército das forças terrestres israelitas é efetiva, estão já lá há quase 14 dias desde o início desta operação".
Além disso, Marco Serronha aponta que existem outras duas condicionantes para que o início da ofensiva terrestre aconteça: a questão dos reféns e a questão da ajuda humanitária no sul de Gaza.
"Daquilo que nós identificámos como as condicionantes para, de facto, estarem reunidas as condições para o início da ofensiva terrestre, uma delas a preparação do exército das forças terrestres israelitas é efetiva, estão já lá há quase 14 dias desde o início desta operação. O segundo condicionante que de algum modo também tem, enfim, levado a alguma flexibilização da data do possível início desta operação terrestre é a questão dos reféns, que ainda não está completamente resolvida, e não sabemos se estará completamente resolvida. E a terceira, que julgo que é a que neste momento condiciona mais o início da operação, é a questão da ajuda humanitária no sul de Gaza, porque, enfim, foi claro das declarações do presidente americano que o estabelecimento de condições humanitárias mínimas no sul de Gaza é um requisito essencial para não haver um desastre humanitário. O início de uma ofensiva militar terrestre iria potenciar esse desastre humanitário".
Para Marco Serronha, Israel quer garantir que a ajuda humanitária que vai entrar em Gaza não vai direta para as mãos do Hamas, conforme se passou durante os últimos anos.
"Toda a ajuda humanitária que entrava por via terrestre ou pela via dos túneis ia parar às mãos do Hamas e depois o Hamas é que fazia a distribuição. Vamos ver se, de facto, o Gabinete das Nações Unidas, que coordena a assistência humanitária na faixa de Gaza, vai conseguir fazer isso sem envolver o Hamas. É fundamental e Israel quer essas garantias para ter a certeza de que, enfim, que todos esses bens humanitários não vão parar diretamente aos combatentes do Hamas em vez de irem parar às populações, que é o seu destino".
O major-general explica ainda que Israel está concentrado na Faixa de Gaza mas que a preocupação é extensível a todo o território - e que terá nas IDF (Forças de Defesa Israelitas) a capacidade necessária para defender todo o seu território caso haja um ataque em várias frentes. No entanto, os confrontos na zona norte de Israel e no sul do Líbano causam alguma preocupação, principalmente "no sentido de que o Hezbollah é uma força com capacidades completamente diferentes do Hamas".
"Já não é a primeira vez que Israel conduz operações em duas direções distintas. Também sabemos que está com problemas na Cisjordânia, as forças israelitas com as manifestações na zona da Cisjordânia, na zona dos colonatos, portanto com muitas manifestações também e, enfim, está pendurado, por assim dizer, um combate ali na zona norte de Israel e no sul do Líbano. É uma situação bastante preocupante no sentido de que o Hezbollah é uma força com capacidades completamente diferentes das do Hamas, para melhor. Sabemos isso, muita experiência de guerra, participou na guerra da Síria, como sabemos, tanto os seus combatentes, além de serem mais de 100 mil, ou o que dizem, têm trem de combate, têm equipamento modernizado, que lhes foi dado pelo Irão nos últimos tempos dos combates na Síria", explica.
A entrada do Hezbollah nesta guerra podia significar o envolvimento dos EUA no conflito mas, para Marco Serronha, "os Estados Unidos estão lá, essencialmente, para dissuadir o Irão e colaborar na defesa aérea de Israel".
Quanto ao pacote financeiro de 100 mil milhões de dólares que o presidente Biden vai tentar ver aprovado no Congresso, o comentador da CNN Portugal diz que, desse valor, "o apoio militar que vai ser dado a Israel será uma fatia relativamente pequena desse pacote e que, essencialmente, a grande maioria do dinheiro é destinado à Ucrânia".
"Falhanço diplomático"
Joe Biden visitou Israel na quarta-feira, altura em que discutiu com Benjamin Netanyahu a necessidade crítica de Israel operar de acordo com as leis da guerra, mas também com o objetivo de facilitar a entrada de ajuda humanitária através da fronteira de Rafah.
Em análise na CNN Portugal, a comentadora Sónia Sénica considerou que a visita de Biden foi um "falhanço diplomático". "Claramente ficou evidente que esta deslocação e este período, sobretudo o presidente norte-americano, era importante para apoiar Israel. Tentava passar uma mensagem também para evitar a escalada do conflito, passando a mensagem para o Irão, mas não chegou aos apoiantes e habituais e tradicionais aliados. Ou seja, não aconteceu a cimeira com a Jordânia e com o Egito, o que mina claramente aquilo que é uma pretensão de liderança norte-americana, exatamente como Biden referiu ontem, de continuar a apoiar estes vários desafios internacionais mostrando liderança norte-americana".
Sónia Sénica lembra ainda que o conflito vive um "momento muito delicado", no qual "a dimensão humanitária está a ser colocada em causa cada vez mais". "Estamos a ver movimentações constantes de eventual escalada do conflito, que era o maior temor, sobretudo da visita de Blinken, desde o início, e eventualmente uma espécie de cerco, se quisermos, a Israel com várias frentes militares. E isto vai trazer consequências necessariamente."
Consequências essas que, na opinião da especialista em assuntos internacionais, Joe Biden não queria assumir por ser "uma consequência gravosa daquilo que está a acontecer ao lado, com Israel e o Hamas". "Parece-me evidente que Biden não conseguiu conter essa pressão."