Afinal, o que faziam os serviços secretos italianos e israelitas num barco turístico no norte de Itália? - TVI

Afinal, o que faziam os serviços secretos italianos e israelitas num barco turístico no norte de Itália?

Naufrágio de barco no Lago Maggiore, Itália, faz quatro mortos (Getty)

Parece cada vez mais consensual a possibilidade de este não ter sido um mero encontro de lazer e o grupo ter marcado um encontro para “trocar informação e documentos”

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Podia ser um roteiro de um filme. Um grupo de turistas a bordo de um barco num idílico lago dos alpes italianos. Uma tempestade repentina que transformou o cenário paradisíaco em tragédia. Um barco que se virou e quatro pessoas que morreram afogadas. Mas pouca coisa fazia sentido. Uma rápida investigação das autoridades italianas revelou o inesperado: oito dos passageiros tinham ligações aos serviços secretos italianos e 13 estavam ligados à Mossad.

Quanto mais informação era tornada pública, mais perguntas surgiam. A especulação tornou-se muito mais intensa depois de dois aviões privados terem voado de Israel diretamente para Milão para transportar os agentes israelitas que sobreviveram. Antes disso, os sobreviventes foram rápidos a recolher todos os seus bens dos hotéis e abandonaram os seus carros alugados.

Mas o que faziam todos estes agentes secretos no mesmo barco, no norte de Itália? Existem várias teorias, mas parece cada vez mais consensual a possibilidade de este não ter sido um mero encontro de lazer e o grupo ter marcado um encontro para “trocar informação e documentos”. Segundo o jornal italiano Corriere della Sera, os agentes secretos italianos estavam no local para espiar as atividades de oligarcas russos na região, que estarão a utilizar o imobiliário para contornar as sanções impostas pela União Europeia. O jornal refere que os famosos milionários russos com ligações ao Kremlin estão a utilizar uma complexa rede de empresas e contas bancárias na Suíça para canalizar dinheiro para a Itália.

Essa não é a única ligação deste caso à Rússia. Uma das vítimas – e a única passageira a bordo que não era de nacionalidade israelita ou italiana – era Anya Bozhkova, uma cidadã russa casada com o dono do navio e que estava a bordo para ajudar a navegar a embarcação. Bozhkova não sabia nadar. O seu marido, Claudio Carminati, geria a empresa “Love Lake” que oferecia serviços turísticos no barco com capacidade para 15 pessoas e está a ser investigado pelas mortes que ocorreram.

Outras das teorias avançadas pela imprensa italiana aponta para a monitorização de contactos feitos por empresas iranianas com alguns grupos económicos italianos, da região da Lombardia.

Os agentes entraram a bordo do navio no porto de Piccaluga, na manhã de domingo, para aquilo que seria uma festa de aniversário. De acordo com as autoridades italianas, o grupo fez uma pequena excursão ao largo de um arquipélago antes de se deslocar para a ilha de isola Pescatori, onde iriam almoçar. Foi nesse momento que o barco é atingido pela violenta tempestade.

“O barco saiu daqui, mas não sabemos nada sobre as pessoas que estavam a bordo. Foi uma tragédia terrível e morreram quatro pessoas. Infelizmente, eles estavam no lugar errado na hora errada”, disse uma fonte do porto italiano.

A aumentar as suspeições está também a reação das autoridades israelitas, que, inicialmente, proibiram a publicação da identidade do agente morto. Apesar de a imprensa italiana admitir não ter conseguido encontrar o rasto das reservas de hotel dos agentes israelitas, conseguiram chegar à identidade do agente que perdeu a vida. Foi chamado de Erez Shimoni e tinha 50 anos. Mas é pouco provável que este seja o seu verdadeiro nome, uma vez que é prática comum dos agentes da Mossad utilizar nomes falsos. Ainda assim, o próprio gabinete do primeiro-ministro israelita admitiu que este serviu a Mossad.

“A Mossad perdeu um querido amigo, um trabalhador dedicado e profissional que, durante décadas, dedicou a sua vida à segurança do Estado de Israel, mesmo após a reforma”, escreveu o gabinete.

De acordo com a imprensa israelita, o funeral do homem aconteceu na quarta-feira perante uma forte segurança e secretismo característico da Mossad, mas contou com a presença do líder da instituição, David Barnea.

A verdade é que Itália e Israel gozam de uma relação de grande proximidade em várias áreas, incluindo no campo militar. Os dois países conduzem vários exercícios militares conjuntos em solo italiano. Israel e Itália têm também vários tratados comerciais para a troca de tecnologia de ponta, mas também na indústria química ou alimentar. Há dois meses, o próprio presidente israelita, Benjamin Netanyahu, foi a Roma encontrar-se com a primeira-ministra italiana, Georgia Meloni.

Os serviços secretos destes dois países têm também um longo histórico de cooperação, que se estende, pelo menos, desde 1973, quando os dois países cooperaram para frustrar uma ação terrorista da Organização de Libertação da Palestina, que planeava destruir um avião da El Al, no aeroporto de Roma. Todos estes motivos levam a crer que o encontro entre os membros das duas instituições não se tratou de um mero encontro de lazer.

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