“Nunca mais!” Não era suposto ter acontecido. Mas aconteceu, e está a acontecer. Estamos a assistir em tempo real a um pogrom. Pensámos que o mais extenso pogrom - o Holocausto - marcaria o fim do terrível registo de violência contra os judeus, apenas por serem judeus. Não é assim.
Um pogrom é um ato oficial de um governo ou de uma entidade política semelhante, e não a mera iniciativa doentia de um único antissemita empenhado num evento pontual e limitado. A progressão histórica dos pogroms é clara: do antissemitismo da Europa de Leste ao racismo nazi, que se estendeu a quase toda a Europa, passando pela atual brutalidade do Hamas contra civis judeus onde quer que os encontrem.
A palavra “pogrom” entrou na língua inglesa nas duas últimas décadas do século XIX, na sequência de ultrajes maciços contra judeus encorajados e apoiados pelo regime czarista russo. “Pogrom” em russo significa “causar estragos” ou “demolir violentamente”. O seu uso entrou imediatamente no iídiche, na sequência dos pogroms generalizados patrocinados pelo governo, iniciados em 1881-1882, e o termo espalhou-se subsequentemente noutras línguas.
Esses dois anos foram alguns dos mais significativos na história multimilenar do povo judeu. Os pogroms foram o catalisador do início das migrações em massa para a Europa Ocidental, para o outro lado do Oceano Atlântico e para outros pontos do globo, incluindo o regresso à pátria - a Sião, quer se designe por Eretz Hakodesh (Terra Santa), Palestina ou Israel. As populações judaicas do Norte de África e do Médio Oriente também se viram sujeitas a pilhagens e motins ao longo da história, sobretudo depois da fundação de Israel, em 1948, e de a maioria ter sido obrigada a fugir.
Poucas famílias judias escaparam totalmente aos ataques do tipo pogrom e às suas consequências. A maioria da comunidade judaica americana é descendente daqueles que procuraram segurança do outro lado do Atlântico. A minha própria experiência é terrivelmente típica. O meu nome vem de uma avó que foi assassinada na sua aldeia, Derazhne, perto de Rovno (agora Rivne), no que foi outrora a Polónia e é agora a Ucrânia. A sua morte, na primavera de 1919, ocorreu durante um período em que foram assassinados 150 mil judeus. Os banditim, ou bandidos criminosos, do líder ucraniano Symon Petliura, intoxicados pelo fervor nacionalista-religioso, atacaram uma pequena e pacífica aldeia agrícola, onde assassinaram e violaram judeus.
A minha mãe assistiu ao fim brutal da sua mãe, mas de alguma forma sobreviveu. No entanto, a cicatriz permaneceu ao longo da sua vida e afetou a forma como cuidava e protegia os seus filhos com tanta determinação. Agora é a minha filha, Deborah Mathias, que foi brutalmente assassinada, juntamente com o seu marido, Shlomi Mathias, num kibutz na fronteira de Gaza, onde estavam empenhados na compreensão mútua e na coexistência pacífica. Foram baleados na presença do seu filho, cuja vida foi salva pela minha filha, que usou o seu corpo para o proteger quando caiu. Ele está a recuperar de uma bala que a atravessou até ao abdómen. Está a recuperar, mas essa experiência permanecerá e será transmitida.
Talvez desta vez o “nunca mais” se imponha. Afinal de contas, há uma diferença. Os meus antepassados estavam indefesos. Mas em Israel, podemos proteger-nos e vamos reagir. Temos confiança de que o povo judeu perdurará naquela que é atualmente uma das maiores comunidades judaicas da longa história do nosso povo. A Rússia czarista e o regime nazi desapareceram. Nós persistiremos. O Hamas e outros anti-semitas não têm o poder de acabar com o que foi iniciado nesta terra há mais de 3.000 anos. É por uma boa razão que lemos na Bíblia que a Autoridade Máxima nos chamou de povo de "dura cerviz".