Mais de 1.200 pessoas subscreveram uma petição pública lançada este sábado para exigir a alteração do nome da nova ponte pedonal da zona oriental de Lisboa, a que a Câmara Municipal quer chamar Ponte Cardeal Dom Manuel Clemente.
Intitulada “Petição pela alteração do nome previsto para a ponte Lisboa/Loures no Parque Tejo”, a petição foi lançada este sábado através da rede social X (antigo Twitter) por Telma Tavares, autora dos cartazes em memória das vítimas de abusos sexuais por membros da Igreja Católica que foram colocados em Lisboa, Loures e Algés durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
Somos muitos e não esquecemos.
— Telma Tavares (@tarantelma) August 12, 2023
Petição pela alteração do nome previsto para a ponte Lisboa/Loures no Parque Tejo: https://t.co/4y7KklSwWZ
Assinem e partilhem, sff.
Obrigada @brunopontopaiva e @TiagoRolino! ✊ https://t.co/CLR8V6Ixbu
Às 20:50, a petição, lançada este sábado, contava 1.200 assinaturas.
A petição invoca “a suposta laicidade do Estado” e questiona se a atribuição do nome de Manuel Clemente à ponte “pode ser vista até como uma ofensa e/ou desrespeito pelas mais de 4800 vítimas de abuso sexual por parte da igreja em Portugal”.
“Sendo a ponte um dos equipamentos que foi pago com recurso a dinheiros públicos, que todos os portugueses irão pagar com assinalável esforço, o mínimo exigível será que se homenageie quem tenha factualmente marcado a diferença ou sido autor de feitos que mereçam destaque no nosso município”, argumenta ainda.
A petição é dirigida à CML, mas, com mais de 1.000 assinaturas, já pode ser admitida no parlamento e publicada na íntegra no Diário da Assembleia da República. Se for subscrita por mais de 7.500 cidadãos, é apreciada pelos deputados em plenário da assembleia.
A CML anunciou na sexta-feira que a nova ponte ciclopedonal que liga os concelhos de Lisboa e Loures, sobre o rio Trancão, na zona oriental da cidade, vai chamar-se Ponte Cardeal Dom Manuel Clemente.
Em comunicado, a autarquia afirmou que o nome da nova ponte, construída a propósito da JMJ e inaugurada em julho, é uma homenagem ao 17.º patriarca de Lisboa, que renunciou ao cargo após ter completado 75 anos.
“Nos 10 anos de mandato enquanto líder da Igreja de Lisboa, D. Manuel Clemente foi o grande impulsionador da Jornada Mundial da Juventude, que nas palavras do patriarca emérito ‘será lembrada como um momento decisivo para uma geração que construirá um mundo mais belo e fraterno’”, lê-se na nota.
“É uma justa homenagem da cidade a um homem que deu tanto a Lisboa ao longo da sua vida”, afirmou o presidente da câmara da capital, Carlos Moedas, citado no comunicado.
Numa mensagem enviada à Lusa, Manuel Clemente agradeceu “a generosidade” da CML e disse incluir no seu nome “todos quantos trabalharam na Jornada Mundial da Juventude”.
Segundo a câmara de Lisboa, o nome da ponte foi comunicado ao presidente da autarquia de Loures, Ricardo Leão, que considerou tratar-se de “uma boa opção e um justo reconhecimento”.
A ponte tem cerca de 560 metros e liga os concelhos de Lisboa e Loures, sendo feita, maioritariamente, de madeira e aço.
A ponte destina-se a peões e ciclistas, integrando a rede de percursos ciclopedonais da região de Lisboa e ligando-a ao concelho de Loures.
A JMJ 2023 decorreu em Lisboa entre 1 e 6 de agosto, tendo juntado cerca de 1,5 milhões de jovens no Parque Tejo (Lisboa) para uma missa e uma vigília, com a presença do Papa Francisco.