Maria e Marcus conheceram se na Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, há dez anos. Apaixonaram-se, casaram. Este ano decidiram comemorar vindo à JMJ de Lisboa - com as filhas: Aloisia de 3 anos e Cecília de 9 meses. Chegaram no domingo e estão instalados num apartamento, por causa das crianças, mas têm conseguido viver o ambiente da JMJ: "Estivemos na missa de abertura e na Via-Sacra, só perdemos o Acolhimento porque chegámos tarde e já não conseguimos entrar." Ao Parque Tejo vieram só ao fim do dia, por causa do calor. "Mas tivemos de andar imenso. Hoje, ao vir para cá, mais do que corajosa, achei que estava louca", diz Maria. Chegaram às 20:00, mesmo a tempo de ver a chegada do Papa e o fantástico fim de tarde, com o céu alaranjado, mesmo junto ao rio. Estão cansados e as miúdas parecem um bocadinho rabugentas, mas eles não se queixam: "Está tudo a correr bem. Mas vamos voltar a casa no fim da noite, claro."
"Não é assim tão complicado trazer crianças", garante Saraí, mexicana instalada em Espanha. Esta é a quarta vez que participa numa JMJ. Na primeira, tinha 15 anos. Agora, tem 43. Pelo meio, casou e teve quatro filhos. Os três mais velhos acompanharam os pais à JMJ de Madrid, em 2011. Este ano, em Lisboa, é a primeira vez da pequena Sofia, de 6 anos. "Vir em família tem um enorme significado", conta Saraí. "É claro que já estamos um pouco cansados, mas vale muito a pena." E sobre as dificuldades - andar muito, comer pouco, dormir no chão, Saraí relativiza: "Trabalho numa ONG que ajuda os imigrantes. Estou habituada a conhecer pessoas que não têm casa para dormir nem têm o que comer, por isso, quando os jovens se queixam aqui eu digo-lhes: é só uma noite! Pensem nisso."
As autoridades estimam que este sábado 1,5 milhões de pessoas estiveram no Parque Tejo para assistir à vigília com o Papa Francisco. Depois do calor da tarde, os desafios para quem vai passar ali a noite. Um chão duro e um sol que irá nascer abrasador sobre as suas cabeças, sem qualquer piedade, pelas 6:00. Houve mesmo quem adormecesse ainda durante a vigília, de tanto cansaço acumulado durante esta semana.
"Eu não vou dormir, tenho a certeza." Pedro está sentado no chão a jogar às cartas com a amiga Sara, tem uma bandeira de Portugal enrolada ao pescoço e está determinado. Têm 17 anos e vieram num grupo de Gondomar. Estiveram na sexta-feira na Via-Sacra e, este sábado, o grupo dividiu-se. "Houve uns que vieram logo à uma da tarde. Mas estava imenso calor. Nós decidimos ir até Belém e só vir mais tarde. Mas, quando chegámos, o nosso setor, que era o A18 já estava cheio e já não nos deixaram entrar, então viemos para aqui", conta Sara. Estenderam os colchões na estrada de calor e esperam que amanhã de manhã o calor não se torne insuportável. "Até agora o pior é o pó nos olhos", queixa-se Pedro. Isso e o facto de ali não terem nenhum ecrã e por isso não conseguirem acompanhar a cerimónia da Vigília.
Casas-de-banho que não funcionam, partes dos terrenos alagados e comida a preços exorbitantes são outras das queixas dos peregrinos - no 'food court' um café custa 2 euros, um pão com chouriço ou uma bifana valem 7 euros, um refrigerante de 33 cl não fica por menos de 3 euros.
Mas mesmo os que se queixam acabam por concluir dizendo que "faz parte" e que, feitas as contas, não é assim tão mau. Afinal, todos concordam, a experiência tem sido extraordinária, têm feito amigos e têm tido oportunidade ver e ouvir o Papa Francisco. Quem sabe, entre o pó e o calor, não nasçam paixões em Lisboa, como aconteceu com Maria e Marius.