Com a pandemia de covid-19 vieram também um conjunto de revoluções dentro do mercado de trabalho: começou com a 'Grande Demissão de 2021', ou a demissão voluntária em massa dos trabalhadores, principalmente nos Estados Unidos. No entanto, outros fenómenos estão agora a dar continuidade ao movimento.
O “Job Hopping” é a mais recente tendência a ganhar popularidade em 2023, um movimento da nova era do mercado de trabalho à semelhança do “Quiet Quitting” ou da 'Grande Demissão', revela o senior manager na recrutadora Hays, Mário Rocha. Esta tendência descreve um padrão onde os trabalhadores mudam de trabalho periodicamente e, na sua origem, está a constante necessidade de mudança, novos desafios e novas formas de trabalho, pondo fim aos modelos de trabalho mais tradicionais.
O que é?
Nas palavras de Ricardo Carneiro, senior director de Recrutamento e Seleção Especializado na Multipessoal, o que define o 'Job Hopping' é a mudança frequente e voluntária de emprego, sendo este fenómeno observado, especialmente, entre os trabalhadores com menos de 30 anos. No entanto, o responsável acrescenta que, com a crescente oferta de emprego e a busca por uma maior flexibilidade e equilíbrio entre vida pessoal e profissional, também já se encontram “job hoppers” noutras faixas etárias.
O Grupo Adecco, por sua vez, deixa claro: embora esteja associada à geração millenial ou Z, esta tendência não é nova. O 'Job Hopping' compreende, normalmente, uma rotação de empregos entre os dois anos, sendo que os trabalhadores têm como objetivo não a construção de uma carreira sólida numa só empresa, mas em várias.
Em linha com os outros fenómenos mencionados, estes trabalhadores são atraídos por melhores condições salariais, melhores formações, desafios mais interessantes, diferentes propósitos da empresa em causa e pela maior flexibilidade horária. Como tal, não se deixam inibir pelo apego às empresas e receio da mudança, uma atitude que se desprende da dos seus antecessores, que procuravam a estabilidade profissional, esclarece o Grupo Adecco.
Em que área acontece mais?
Para ambas as recrutadoras, o primeiro setor da lista onde este fenómeno acontece mais é o da tecnologia. Para a Adecco, o 'Job Hopping' também é visível nas áreas de vendas, enquanto para a Multipessoal, também se verifica no setor do marketing, da comunicação e do design. Ricardo Carneiro esclarece que nestes setores a inovação e a mudança são frequentes, sendo que os seus empregadores valorizam a adaptabilidade dos colaboradores.
No entanto, o senior director da Multipessoal garante que esta prática se observa em qualquer setor ou profissão onde a oferta de emprego seja significativamente maior do que a procura.
Quais as vantagens e desvantagens?
Para o Grupo Adecco, as vantagens da mudança de trabalho com uma maior rotatividade prendem-se com oportunidades como ganhar mais habilidades, criar uma rede maior de networking, adquirir salários mais elevados, bem como aumentar as soft skills.
Também a Multipessoal defende esta visão. Além destes profissionais ganharem mais experiência, a possibilidade de um rápido aumento salarial surge como forma de combater os aumentos indexados a indicadores económicos, que muitas vezes não chegam a dois dígitos, refere Ricardo Carneiro.
“Há exemplos de profissionais, nos chamados setores 'quentes' que, através de 2 ou 3 transições, em menos de 2 anos aumentam o seu salário em mais de 50%”, indica o senior director da Multipessoal. Por outro lado, a fidelidade a uma única empresa, na maior parte delas, a longo prazo, não cobre estes valores, acrescenta.
No lado inverso da moeda, o Grupo Adecco admite que também existem desvantagens com o 'Job Hopping', tais como a perda de benefícios - uma vez que se está sempre a iniciar um novo trabalho -, a possível falta de especialização, ou pode ainda ser necessário enfrentar o estigma que existe em determinadas áreas, pela falta de compromisso.
Além destes fatores, o senior director da Multipessoal enumera ainda a falta de estabilidade no emprego, a constante necessidade de adaptação a novos ambientes e equipas de trabalho, bem como o risco de se parecer pouco confiável.
Mário Rocha, por sua vez, destaca que uma das principais desvantagens passa pelos processos de recrutamento se tornarem mais desafiantes e difíceis de concluir, pois os empregadores podem ter receio de contratar e formar uma pessoa que planeia sair no curto médio prazo. Como tal, isto é uma desvantagem para o empregador, que investe tempo e dinheiro na formação de uma pessoa que acaba por sair, não conseguindo o retorno previsto. Por outro lado, acrescenta, este fenómeno contribui para os trabalhadores se tornarem mais produtivos e autónomos.
O que podem empresas e trabalhadores fazer?
Ricardo Carneiro sublinha que o 'Job Hopping' representa mais um desafio que se soma aos vários já existentes no que diz respeito à retenção de talento, pois traz consigo uma necessidade ainda maior de aumentar a motivação dos trabalhadores. Em linha segue também o Grupo Adecco, que defende que as empresas devem estar preparadas para estes desafios, além de acompanharem as tendências do mercado profissional.
De forma a reter e acalmar a rotatividade, o Grupo Adecco propõe que as empresas apresentem aos seus colaboradores diferentes opções de benefícios, para que estes possam optar pelo que mais lhe convém. Entre as sugestões mais comuns, a recrutadora destaca a flexibilidade horária, a possibilidade de mobilidade e progressão de carreira, bem como a aposta na saúde e bem-estar.
Já do lado dos trabalhadores, estes devem estar conscientes da importância de adquirir sólidos conhecimentos e competências, acrescenta a Adecco. O motivo para tal, continua, deve-se à necessidade de quem está em início de carreira de ter uma formação consistente, bem como uma duradoura rede de contactos, algo que não é possível apenas num trimestre.