Voou "abaixo do radar" para aparecer entre os grandes: eis a melhor final dos Jogos Olímpicos - TVI

Voou "abaixo do radar" para aparecer entre os grandes: eis a melhor final dos Jogos Olímpicos

Cole Hocker na final dos 1.500 metros (Ashley Landis/AP)

Imagens falam por si e as palavras de quem comentou os últimos 30 de 1.500 metros também. Que espetáculo

Jakob Ingebrigtsen ou Josh Kerr? Nem uma coisa, nem outra. Do nada, ou quase do nada, apareceu um pequenino Cole Hocker – 1,77 metros contra os 1,89 metros e os 1,87 metros dos oponentes – para uma das (senão A) finais destes Jogos Olímpicos.

Todos colocavam o norueguês à frente, o próprio Ingebrigtsen se colocava à frente, literalmente. É que durante quase todos os 1.500 metros esteve na liderança da corrida, deixando antever uma final aborrecida, mas que acabou por ser tudo menos isso.

Ainda antes do virar da curva se via vontade num norte-americano que não Yared Nuguse. Era o tal Hocker, franzino, loirinho, e cheio de vontade para uns últimos 30 metros estonteantes. Se não acredita, o melhor é mesmo ver. Se mesmo assim não percebe a imensidão do que aconteceu, a voz do narrador da Eurosport desfaz quaisquer dúvidas.

Ingebrigtsen ia todo contente para a vitória, ele que detinha o recorde olímpico, fixado em 3.28.32. Mas nem isso lhe valeu para mais tarde, uma vez que também essa marca caiu. Agora é do mesmo Hocker: 3.27.65. Uma marca que lhe levou tempo, literalmente, a alcançar: em 2021, em Tóquio, terminou a final olímpica dos 1.500 metros com 3:31.40, na altura o seu melhor tempo.

Mas foram mesmo aqueles 30 metros. Os dele e os dos outros todos. Ia a corrida a mais de meio, em concreto nos 800 metros, e Hocker estava num modesto 7.º lugar de 12 concorrentes.

Correu 55 segundos nos primeiros 400 metros, mas já demorou 57 segundos a correr a mesma distância da segunda vez. Só que, na terceira volta, reduziu esse tempo para 56 segundos, passando do 7.º para o 4.º posto. E os últimos 300 metros, sobretudo os últimos 30 metros, aí sim: foram 39 segundos para completar o esforço final, aparecendo que nem uma flecha pela esquerda de Ingebrigtsen, que se mostrou totalmente impotente, tendo mesmo acabado fora de um pódio que todos pensavam que ia encabeçar.

Uma grande desilusão para o norueguês, que chegava com estatuto de estrela e uma reputação inquestionável, incluindo na forma como abordava a final, até mesmo nos segundos que a antecederam, quando encarou a câmara de forma confiante ao ser anunciado para os 80 mil espectadores que estiveram no Stade de France.

Talvez pela cegueira de perceber quem iria, afinal vencer na luta entre Ingebrigtsen e Kerr, os olhos tornaram-se invisíveis a Hocker que até teve de abrandar na primeira investida, mas que meteu a mudança de velocidade para ultrapassar, por dentro, aquele que tinha liderado a corrida quase até ao fim.

"De certa forma disse a mim mesmo que estava nesta corrida também", confessou o norte-americano depois da vitória, admitindo que talvez nem ele pensasse que tal seria possível. "Se me deixarem voar abaixo do radar, que seja. Penso que posso apenas ter sido o melhor".

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