Morreu este sábado o historiador José Mattoso aos 90 anos, segundo informação dada pela família a amigos próximos.
Nascido em 1933 em Leiria, Mattoso era especializado na história das ordens religiosas e da aristocracia nos séculos X a XIII.
Mattoso, que foi diretor da Torre do Tombo entre 1996 e 1998, recebeu o Prémio Alfredo Pimenta em 1985 e foi o primeiro galardoado com o Prémio Pessoa, em 1987. Dirigiu e coordenou História de Portugal, obra incontornável em oito volumes, (1993-1994).
Entre as obras que o tornaram uma referência no estudo das origens de Portugal, destaca-se Identificação de um país (1985), A família e o poder (1981), Fragmentos de uma Composição Medieval (1987).
O historiador assinou também uma biografia de D. Afonso Henriques, publicada em 2006 pelo Círculo de Leitores, e dirigiu outras obras coletivas ( “História da vida privada em Portugal”, 2010-2011; “Património de origem portuguesa no mundo”, 2010).
A produção historiográfica de José Mattoso começou a ser publicada em 1968, com “Les Monastèresde la Diocèse du Porto de l’an mille à 1200”, seguindo-se, em 1970, “As Famílias Condais Portucalenses séculos X e XI”, tema a que voltou, em 1981, com a obra “A Nobreza Medieval Portuguesa. A Família e o Poder”.
Em 1982, publicou “Religião e Cultura na Idade Média Portuguesa”, em 1985 “Portugal Medieval” e, no ano seguinte, a sua obra de referência, “Identificação de um País” (dois volumes), que lhe valeu o Prémio Alfredo Pimenta e o Prémio Ensaio do P.E.N, Clube, em 1986.
Em 2005, publicou “A dignidade Konis Santana e a Resistência Timorense”, uma das suas raras incursões na História Contemporânea, quando aceitou ser “colaborador voluntário do Instituto Português de Auxílio à Cooperação, durante os cinco anos” que permaneceu em Timor, como explica na introdução da biografia daquele combatente timorense.
Numa rara intervenção política, foi mandatário nacional do Partido Livre, em 2015.
Em 2012, publicou “Levantar o Céu – Os Labirintos da Sabedoria”, que lhe valeu o Prémio Árvore da Vida-Padre Manuel Antunes, do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, da Igreja Católica, um galardão a juntar a outros com os quais foi distinguido ao longo da carreira, como o Prémio Böhus-Szögyény de Genealogia, em 1991, ou o Troféu Latino, em 2007.
Em 1992, o Estado português condecorou-o com o grau de Grande Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada.
Primeiro-ministro recorda “referência maior da cultura” portuguesa
O primeiro-ministro recordou o historiador José Mattoso, que morreu aos 90 anos, como uma “figura notável” da historiografia e uma “referência maior da cultura” portuguesa, considerando que o país lhe deve “um novo olhar” sobre a identidade nacional.
Numa mensagem publicada na rede social Twitter, António Costa diz ter sido “com profunda tristeza” que teve conhecimento do falecimento do historiador José Mattoso, considerando que foi uma “figura notável” da historiografia portuguesa e “referência maior da cultura”.
“Devemos-lhe um novo olhar sobre a nossa identidade, um conhecimento profundo do nosso passado e um cuidado na preservação da memória do país. À família e amigos, transmito os meus sentidos pêsames”, lê-se na mensagem.
Marcelo evoca “um dos grandes sábios portugueses”
O Presidente da República considerou também que José Mattoso, que morreu aos 90 anos, foi “um dos maiores historiadores” e um dos “grandes sábios portugueses”, destacando a sua “indispensável bibliografia no campo da História Medieval”.
“José Mattoso foi um dos maiores historiadores portugueses e um dos grandes sábios portugueses”, lê-se numa nota publicada na página oficial da Presidência da República.
O chefe de Estado recorda que José Mattoso, “filho de um conhecido historiador”, começou “por ser monge beneditino, em Portugal e na Bélgica, tendo-se licenciado em História e doutorado em História Medieval pela Universidade Católica de Lovaina”.
“Regressado ao nosso país, e à condição laical, foi durante décadas investigador e professor, nomeadamente na Universidade de Lisboa e Universidade Nova de Lisboa, diretor do Instituto Português de Arquivos e diretor da Torre do Tombo”, lê-se na nota.
Marcelo Rebelo de Sousa destaca ainda que, “além de uma longa e indispensável bibliografia no campo da História Medieval”, José Mattoso coordenou também uma “importante História de Portugal em oito volumes” e “escreveu sobre a historiografia e sobre a identidade nacional”.
“Um dos seus livros mais lidos e mais premiados é ‘Identificação de um País: Ensaio sobre as Origens de Portugal’. A biografia ‘D. Afonso Henriques’ diz não apenas tudo o que é possível dizer de um rei acerca do qual existem poucas fontes, mas tudo sobre a época em que viveu”, refere-se.
O Presidente da República recorda que, devido à sua obra, foi atribuído o Prémio Pessoa a José Mattoso, assim como o grau de Grande-Oficial da Ordem de Sant’iago da Espada.
“Teve igualmente algumas intervenções no âmbito cívico e político e dedicou um tocante empenho à nascente nação de Timor-Leste. Mesmo depois de deixar a vida consagrada, nunca abandonou a dimensão do sagrado e da fé”, destaca-se.
O chefe de Estado salienta que, no passado mês de janeiro, quando José Mattoso fez 90 anos, teve a oportunidade “de lhe exprimir a gratidão e a admiração dos portugueses”.
“Na sua partida, manifesto à família de José Mattoso o meu sentido pesar”, lê-se.