Ye - anteriormente conhecido como Kanye West - perdeu parcerias com as marcas de moda Gap, Balenciaga e Adidas na sequência dos seus comentários antissemitas nas últimas semanas. Agora, levantam-se questões sobre o negócio que ajudou a impulsionar Ye para o mercado da moda: a música.
Desde o seu álbum de estreia de 2004 - o comercialmente bem-sucedido e aclamado pela crítica "The College Dropout" - Ye tem sido um dos artistas mais populares e notáveis do mundo, com inúmeros êxitos e 10 álbuns número um, de acordo com a Billboard.
Mas tudo isso pode estar em risco devido ao comportamento e comentários recentes do intérprete.
Durante o mês passado, Ye provocou uma intensa reação negativa ao usar uma t-shirt “White Lives Matter”, e ao fazer ameaças no Twitter contra judeus. O caso levou retalhistas, plataformas de redes sociais, empresas de moda e entretenimento a abandoná-lo em massa.
Mas o que significa tudo isto para a carreira musical de Ye?
Uma carreira em duas partes
A Universal Music Group - uma das maiores empresas discográficas do mundo - disse na terça-feira que a sua relação com Ye terminou em 2021, acrescentando que "não há lugar para o antissemitismo na nossa sociedade".
"A relação da Def Jam com Ye como artista de gravação, a parceria da Def Jam com a editora GOOD Music e o acordo de merchandise de Ye com a Bravado terminaram todos em 2021", disse a UMG em declaração à CNN Business.
A empresa acrescentou: "estamos profundamente empenhados em combater o antissemitismo e qualquer outra forma de preconceito".
Serona Elton, professora de estudos da indústria musical na Frost School of Music da Universidade de Miami, acredita que a carreira musical de Ye precisa agora de ser dividida em duas partes: "O que acontece com a sua música existente no mercado? E o que acontece com qualquer nova música que ele possa criar?"
"Certamente, haverá pessoas que terão mudado a imagem que tinham dele, e a partir de agora será assim que irão pensar", disse Elton. "Mas haverá outros, que ou não estão informados sobre a situação ou simplesmente não se importam com as suas opiniões, que escolherão concentrar-se apenas na sua arte".
Alguns já deixaram de ouvir.
Será que o Spotify e a Apple Music retirarão a música de Ye?
Os streams de canções de Ye caíram 23% nos Estados Unidos entre 13 e 20 de outubro e o airplay caiu 13%, de acordo com a Variety. Isto levantou perguntas sobre se as suas canções deveriam ser proibidas pelos serviços de streaming, tais como Spotify (SPOT) e Apple (AAPL) Music.
Elton diz que isso é improvável.
"Penso que os serviços de música geralmente não estão em posição de avaliar a posição moral do artista", disse ela.
Elton salientou que o cantor R. Kelly, que foi condenado por múltiplas acusações de pornografia infantil em setembro, não viu a sua música ser retirada.
O Spotify não retirará a música de Ye a menos que a sua editora peça a sua remoção, disse o CEO do Spotify, Daniel Ek, à Reuters na terça-feira.
"É apenas a sua música, e a sua música não viola a nossa política", disse Ek. "Depende da sua editora, se querem ou não tomar medidas".
Ek acrescentou que os comentários de Ye são "apenas horríveis".
Quanto à Apple Music, não respondeu imediatamente ao pedido de comentários da CNN Business em relação à música de Ye.
Uma área que poderia resultar num impacto financeiro tanto para Ye como para a Universal Music Group é o licenciamento da sua música.
Os ouvintes podem continuar a comprar os seus álbuns, ir aos seus concertos e fazer stream das suas canções mesmo depois da última reação negativa. Contudo, é mais difícil convencer cineastas, produtores de televisão e anunciantes a investir na associação com Ye e as suas canções - por muito popular que seja a sua música.
"Ficaria surpreendido se visse a Universal ou qualquer outra empresa disposta a investir ativamente em promover as canções de Ye para oportunidades de licenciamento", disse Elton. "Penso que vão redirecionar as suas energias para outro lado".